quinta-feira, 26 de abril de 2012

Espelho Meu?



Acordei achando que era o homem mais lindo do mundo.

Botei uma roupa social legal, fiz a barba e penteei o cabelo...
Quer dizer... “penteei o cabelo” é mentira!
Só lavei, passei os dedos e joguei para cima.
Atitude black!

O relógio batia seis e vinte quatro da matina.
Quando pus a chave na porta, deu um pouquinho de preguiça.
Dormia fácil, fácil mais umas três horinhas.

Quando você é rico ou desempregado, pode dormir até mais tarde.
O meio termo é que é foda!

Mas tudo bem, vamos lá!

O trabalho dignifica o homem...

Meti “Kung fu Fighting” na cabeça e parti para mais um capítulo.

Como gostaria que a minha vida tivesse trilha sonora.
Às vezes eu ando pela rua cantarolando igual a um esquizofrênico.

Não estou nem aí!

O dia está lindo e eu estou de bom humor.

Entrei na padaria para tomar café da manhã com um sorriso de orelha a orelha, estilo “Para nossa alegria!”.

- Amigão! O de sempre!

Essa padaria tem várias mesinhas.
Percebi que tinha uma com uns jovens bebendo cerveja.
Pelos naipes dava para ver que estavam pernoitados.

Melhor que ser rico só ser jovem, né não?

Rola um burburinho:
- “É ele sim!”
- “Será?”
- “Tenho certeza que é!”

Voltei rapidamente os olhos para eles e vi que o negócio era comigo mesmo.

Outro dia em um show, bati papo com uma pessoa que só me conhece pelo blog...Foi legal.

- “Claro que é ele!”

Mas não estava parecendo ser o caso...

- “Vou lá falar com ele!”
- “Duvido!”
- “Quer ver?”

Estavam me confundindo com alguém, de novo!

Veio uma mulher andando em minha direção.
Era bonita.
Mas já estava toda descabelada do álcool.
Sabe quando a chapinha enferruja e amassa?
E sai uns fiapos de cabelos que mais parecem uns vergalhões?
E a maquiagem? 
Parecia um desenho de criança feito com giz de cera.
Tudo bem, pela hora.

Ela chegou perto e parou.

Tentei ficar invisível.
Não sei!

Chapinha Amassada apontou para mim e riu:
- “Conta Uma!”

(Han?)

- “Me desculpa chegar assim, mas...”

Ela estava um pouco nervosa.

- Tudo bem, pode falar!
- “...Você num é o...”

(Angelo Morse!)

- “Eu sei o seu nome, é...”

(Angelo M-o-r-s-e! Do Código Morse! Meu avô era neto do Samuel Morse, inventor do telégrafo. Não ganho nada com isso, ninguém acredita, mas é verdade!)

- “Ai gente! Você é do...”

(Do Conta Uma????)

- “Você num é do grupo “Bom Gosto?”

Puta que pariu...

Rapidamente me liguei que ela tinha dito: “CANTA uma!”

- Não, não sou não!
- “Ah! Claro que é, olha o sorriso!”

Quando você é parecido com um cara que é famoso, todo mundo que te encontra, sabe que você não é o cara, mas quando o cara não é tão famoso assim, as pessoas ficam na dúvida.

- “Não sou eu não.”
- Ah! Você é de algum grupo de pagode!”
- Olha, poucas coisas eu posso garantir nesse mundo, uma delas é que eu não faço parte de nenhum grupo de pagode!

Botou a mão na cintura e fechou um olho igual o Popeye.

- “Ah, pára de mentira, é Bom Gosto sim, eu sou fã de vocês!”

- Eu acredito, mas eu nem gosto de pagode.
- “Ahhhhhhhh...Canta uma música só, por favor!”

Um maluco que estava com ela mandou:
- “Ele toca cavaquinho!

Porra, eu não sou nem o vocalista?

- “Eu já vi ele cantar, tem o maior vozeirão!”
- Sério, gatinha, juro que não sou eu.
- “Olha a voz!”

Chapinha Amassada, de tão chapada, não estava nem me ouvindo.

Começou a se sacudir feito a Cinira de Tieta
(Garotada, procurem no youtube)

E começou a cantar empolgada:
- “Da lua!
Guereguere, guereguere, guereguere, guereguere
Guereguere, guereguere, guereguere, guereguere
Guereguere, guereguere, guereguere
Da lua!”

Porque todo bêbado quer cantar?

O cara do balcão riu.

Os amigos da  Chapinha Amassada entraram na onda e batiam na mesa:

- “Da lua!
Guereguere, guereguere, guereguere, guereguere
Guereguere, guereguere, guereguere, guereguere
Guereguere, guereguere, guereguere
- Da lua!”

Quando eu estou sem graça, fico procurando coisas no meu cabelo.
Mas na verdade, estou analisando a situação.

Para a galera não interessava mais se eu era o cara ou não...
Eles queriam cantar e me zoar.

- “Da lua! Guereguere, guereguere, guereguere...”

E eles só sabiam essa parte.
Quero muito acreditar que a letra continua.

Nessas horas, só conheço uma alternativa:
- Mentaliza o azul.

Todo mundo está me perguntando como é esse exercício de mentalizar o azul.
É fácil!
É uma arte quase Jedi.

Primeiro coisa que você tem que fazer é fechar os olhos.

- “Da lua! Guereguere, guereguere, guereguere...”

E visualizar o azul.
O azul ajuda a controlar a mente, a clarear idéias, a ser criativo.

- “Da lua! Guereguere, guereguere, guereguere...”


O azul é uma cor fresca, tranquilizante que associa com a parte intelectual da mente.

Mentalizou? Agora imagina o azul tomando conta de tudo.

- “Da lua! Guereguere, guereguere, guereguere...”

O mar...o céu se juntando num azul só.

- “Da lua! Guereguere, guereguere, guereguere...”

Ok!  Com pagode tocando não dá, deixa pra lá!

- “Dança comigo!?”

E me pegou para dançar às seis e cinquenta e três da manhã.

Eu entendo porque muita gente não acredita nas coisas que eu escrevo.

Mas eu sou um imã de histórias!”

Parei de dançar com toda delicadeza.
Ia até dar um beijo na mão dela, mas sei lá onde ela colocou a mão!

- Querida, foi muito bom dançar com você, mas eu tenho que ir trabalhar.

Chapinha Amassada encostou a boca molhada de lúpulo no meu ouvido e sussurrou:
- “Eu sei que é você de verdade!”

Botou o indicador na boca como quem pede silêncio, piscou para mim e voltou de Moonwalk para a mesa, cheia de cumplicidade.

Pisquei para ela também e mandei um “curti” com a mão.

- Amigão! Põe para viagem para mim?

- Não consegui dar uma mordida na porra do misto quente.
- “Hehehe!”
- Você ri, né?
- “Ué, artista é assim mesmo!”

Ainda deu uma zoada.

Quando eu ainda estava no caixa...

Volta a louca com o celular na mão:
- “Ei! Tira pelo menos uma foto comigo?”

Devo estar transbordando de bom humor mesmo.

- Tiro.

CLICK!

- “E me dá um autógrafo?”

Aí já é piada, né?

Mandei na lata só de sacanagem:
- Só dou o autógrafo se você disser qual é o meu nome!
- “Ahhhhhhhhhhhhhh...”

A pessoa pede autógrafo até de quem não sabe o nome.

Dei um tchau para simpática e embriagada turma e fui embora

E minha trilha sonora passou de Bee Gees para:

“Da lua!
Guereguere, guereguere, guereguere, guereguere
Guereguere, guereguere, guereguere, guereguere
Guereguere, guereguere, guereguere
Da lua!”

E o pior! O cara nem se parece comigo.

Um abraço para o Grupo Bom Gosto!



E a porra da música ficou na minha cabeça...


NOTA: 
Não se esqueçam de enviar para os amigos, compartilhar no Facebook e encher o saco da produção do Jô para alguém ler.
Lembrando que o email e o tel do cadastro tem que ser o de vocês.


O Conta Uma sairá duas vezes por semana para ficar melhor!
Obrigado!





terça-feira, 24 de abril de 2012

A Mulher Movediça




Vitória todo homem conta em qualquer mesa de bar!
Mas as derrotas...

- “Cara, o que você está fazendo?”

Meu grande amigo de infância, Patolino, dava tapas na minha cara tentando me conscientizar.

“PA! PA! PA!”

A visão turva e dupla somada a incapacidade de pronunciar palavras, deturpavam totalmente meu raciocínio.

Estava completamente embriagado.

- “Cara, vou deixar você se matar, foda-se!”

E me soltou.

A preocupação exagerada do Patolino se dava por conta da mulher que estava me pegando.

Bionda.
Um mulherão!
Vinte aninhos.
Um metro e setenta...
E cento e quarenta quilos!

Eu sei, eu sei...

Antes de continuar, gostaria de dizer que se tem uma coisa que eu não faço, é humor às custas de problemas alheios.

Não é da minha índole.

Mas no momento que eu encaro uma mulher de 140 kg o problema passou a ser meu, certo?

E dos meus problemas eu posso rir.
Correto?
Mesmo assim irei me esforçar para não deixar ninguém chateado.

Bionda era amiga da minha mãe e desde a primeira vez que foi na minha casa ficou explícito o interesse dela por mim.

Minha mãe, que não vale nada, sempre lançava:
- “Está sozinho porque quer, conheço gente que é apaixonada por você.”

E ria.

Se eu sou cínico, irônico e sarcástico, a culpa é da minha mãe.

Só que Bionda começou a não sair lá de casa, e com o aval da “sogra”, passou a me cantar descaradamente mesmo.

- “Que isso hein! Vai para onde assim, ném?”

Ela foi uma das primeiras pessoas a usar o termo: “Ném”
Se é que não foi ela que o criou.

Tinha uma voz aguda, alta e irritante.
Ao mesmo tempo ela falava mole, tentando ser sensual.

(Estão gostando, não é? Vocês são iguais a minha mãe!)

- “Meu filho! Bionda trouxe torta de frango para você”.

Eu não dava nem um pingo de esperança para mulher.

- “Meu filho! Bionda trouxe bolo de cenoura para você”.

Eu nem gosto de bolo de cenoura.

- “Meu filho! Bionda trouxe mousse de maracujá para você”.

Já disse que...Mousse de maracujá?

- “É, foi Bionda que fez para você.”

Mousse de maracujá é uma coisa que me cativa.
Tive que provar:

- Hummmmmmmmmmm...Delicioso!

Fiz uma graça na hora de agradecer:

- Oh! O melhor mousse de maracujá que eu já comi na minha vida.

Pronto.

- “Gostou mesmo?”
- Muito bom, está de parabéns!
- “Do que mais você gosta?”

Ah! Eu gosto de...

Tudo que eu falava que gostava, ela preparava.

Parecia coisa de gênio da lâmpada, era até engraçado.

No fim de semana, ela virava a madrugada batendo papo com a minha mãe, só para me pegar voltando da noitada.

E me esperava sempre com um sanduíche, torta, pizza, etc.

Eu sou comilão.
Com o tempo, eu fui parando até de sair.
Ficava em casa só para comer.

Foi aí que minha mãe gostou da idéia mesmo.

Comigo em casa, as reuniões ficavam mais animadas, a gente bebia, brincava, tocava violão...

E eu, claro, enchendo o cu de macarrão.

Bionda acreditava cegamente na máxima que homem, se conquista pelo estômago.

E eu que sou um filho da puta, aproveitador e guloso...
Jogava charme em troca de comida.
Igual um golfinho.

Mesmo sabendo que eu não ia ficar com ela nunca.

Fiquei bêbado várias vezes e isso nem passou pela minha cabeça.

Ela realmente me irritava e não me atraía nem um pouquinho.
Nem um pouquinho!

Um dia...

(Lá vem...)

Eu e Patolino saímos para ir numa festa na sexta e só chegamos sábado de manhã.
Só que sábado de manhã eu tinha marcado um churrasco na minha casa com os amigos da minha mãe.

Ou seja, não dormi.
Cheguei muito doido e fui comprar cerveja, gelo, carvão essas coisas.

Não estou arrumando desculpa!
Só contando os fatos.

Ou eu dormia ou voltava a beber.

Resolvi encarar a maratona alcoólica
Vinte e quatro horas bebendo sem parar.

(Crianças! Não tentem isso!)

A galera da minha mãe foi, todo mundo se divertiu e tal...
Passaram-se as horas, chegou a noite e apareceu a lua.

O meu apartamento tinha uma varanda grande e ao lado, o quarto da minha mãe. Entre a parede e o parapeito da varanda rolava um vãozinho...

Hehehe...
Puta que pariu...

Por algum motivo bebúnstico, eu entrei nesse vãozinho para ver a vista do outro lado da varanda.
Fui lá para o cantinho e fiquei divagando.

Quem me aparece obstruindo a entrada e sensualizando para dentro do vãozinho?

- “Agora você não me escapa!”

Ela tinha tomado umas batidas, sei lá!

Vi merda!

- Bionda, você não cabe aqui, menina! Eu que sou eu, passei raspando!

Ela veio se espremendo:
 - “Você não me conhece, eu sou elástica!”

(Não vou fazer nenhum comentário.)

Percebi que eu estava numa situação perigosa.

De um lado, onze andares até o térreo e do outro Bionda vindo toda se arrastando no chapisco, me querendo como se eu fosse um bombocado, cheia de batida na cachola.

Mermão...

No meio do caminho...
Ela ficou presaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Não conseguia se mexer.

- Caralho Bionda! Eu avisei!
- “Ai, me ajuda!”
- Calma aí...

Tive que atravessar o parapeito, trêbado, passar para o outro lado por cima dela e começar a puxá-la para fora pelo braço.

Ridículo.

Olhei para trás a galera estava na sala rolando de rir, mas sem fazer barulho.

Gargalhada silenciosa são as mais escrotas.

Vagabundo é foda!

Fui puxando, fazendo maior força até que ela saiu igual uma rolha:
- POFT!

- Se machucou?
- “Só um pouquinho.”

Toda ralada.

A menina ficou mal à beça, toda sem graça.
Se debruçou na sacada e começou a chorar em silêncio.

Pô mermão, tenho maior problema com mulher chorando.

- Fica assim não, Bionda, isso acontece!

(Mentira, não acontece não!)

- “Eu só queria te dar um beijo”.

Falou isso chorando, saca?

Porra...

Enquadrei a visão no rosto dela, dei um close na boca, agarrei na bochecha e mandei um estalinho.

- Smick!

A mulher mandou um caô de triste só de pilha, me pegou pelo pescoço e me deu logo um Ippon de amor:
- SMACK!

Não tinha como eu sair.

Me pegou num mataleão erótico e me escorou no cantão.

Posso falar uma parada?  Aí...sem sacanagem,  cento e quarenta quilos, para onde eu olhava tinha mulher.

Mulher movediça!

Me entreguei a paixão dela.

Quando os convidados viram, olharam para o sofazinho e só via Bionda e minhas perninhas.
Na boa!

Minha mãe nem para me ajudar.
Pelo contrário, se mijou de rir.

Só quem veio me acudir foi Patolino, amigo de fé.

No momento que o polvo gigante deu um refresco e foi até o banheiro ele tentou me salvar.

- “Cara, o que você está fazendo?”

Não conseguia nem falar de tão ruim.

Ele me deu um copo de coca, mais uns três tapas, mas acabou desistindo e seguiu os apelos da turma:
- “Deixa os pombinhos, Patolino!”

Eu não transei com ela.
Eu apaguei.

No outro dia eu acordei com uma ressaca paquidérmica.
Piscar doía o pé.

Levantei calmamente da cama.

O primeiro flash da noite anterior chegou a dobrar meus joelhos.

Ui!

A dor de cabeça aumentou.

Abri a porta da sala, toda trupe tinha dormido lá.

E os palhaços ainda ensaiaram um coro imitando a voz malemolente e chatérrima da Bionda:

- “O Annnnngelo, tá com foooome?”




NOTA: Não esqueçam de compartilhar o blog com os amigos! 
E para enchermos o saco da produção do Jô Soares, só de sacanagem, envie como sugestão de pauta pelo site: http://programadojo.globo.com/platb/programa/

OBS: É preciso que você cadastre o seu email e o seu telefone, pois todas as respostas da produção estão vindo para o meu email como se EU tivesse enviado a pauta.








quarta-feira, 18 de abril de 2012

Lambada com Robocop





- "E os casais formados para a apresentação do "Festival de lambada entre turmas", são”
- “Tchan, tchan, tchan, tchan...”

(Angelo e Milena! Angelo e Milena! Angelo Milena!).

- “Daniele e César...”

Como eu era o número um da chamada, sempre puxava qualquer lista.
Mas nesse dia, a professora resolveu anarquizar só para me irritar.

- “Carla e Maurício...”

Na verdade, eu só aceitei participar da apresentação porque eu sabia que a professora iria me colocar para dançar com a Milena.

- “Quellen e Marcelo...”

A professora me adorava! E tanto ela quanto a turma, a escola, a diretora e até minha mãe, sabiam que eu era extremamente apaixonado pela Milena.

- “Tatiane e Marcos...”

Eu acredito que amor verdadeiro mesmo, só o primeiro!

- “Gelicene e Leonardo...”

Aquele de criança, saca?

- “Anna Paula e Carlos...”

(Deus, se você existe mesmo, me põe junto da Milena!)

Caramba, como eu era vidrado na Milena.

- “Marcele e Renan...”

Há três anos, todos os domingos, eu saía de casa, andava quatro quarteirões, ia para frente da casa dela e a esperava aparecer na janela.

- “Suzana e Rodolfo...”

Ela aparecia na janela por cinco minutos, me dava tchau e eu voltava para casa todo feliz.

Bobo.

- “Priscilla e Carlos...”

(Pai nosso que está no céu, seja misericordioso...)

- “Cristiane e Marcelo...”

A garota mais paquerada era a Dani.
Ela era loirinha de sardinha, realmente, uma gatinha.

- “Rafaela e Pedro...”

Mas Milena tinha uma beleza exótica, um cabelo de índia, tinha um sinal no nariz que dava um charminho, covinha na bochecha e uma boca que me hipnotizava.

“Gabriela e André...”

Era a garota mais bonita da cidade.

“Gisele e Washington...”

Pelo menos para mim e para o meu amigo Bruno.

- “Millena...”

A professora empacou e ficou procurando algo no papel.

- “Millena e...”

A professora pegou a caneta, tirou a tampa com a boca e riscou o papel.

(E Angelo, professora! Diz logo: Milena e Angelo!)

- “Millena e Bruno...”

 HADOUKEN!

Todo mundo aí viu Indiana Jones?
Lembra daquela cena quando o feiticeiro mete a mão dentro do peito do cara e arranca o coração ainda batendo?
- “Kakima! Kalima!”

Quem não conhece assiste:

Foi isso que a professora fez comigo.

As pernas ficaram bambas, a garganta seca, as mãos suando...
Meus olhos encheram d´água.

(Não chora! Não chora, seu maricas!)

Os casais formados ficavam de mãos dadas.

Daria o braço para estar segurando a mão da Milena naquela hora.

“- Luciana e Diego...”

E a lista de Schindler continuava.

Mas peraí! Eu tinha outro problema!

Percebi que a professora (digamos que inconscientemente) estava classificando e formando os casais por padrões.

De beleza, lógico!

Loiro com loiro, branco com branco, bonito com bonito, alto com alto...

Mas eu era o único negro.

Quando eu olhei para trás, só havia sobrado três meninas: A Menina Peluda, a Gordinha e a Estranha que usava colete de Milwaukee (Usado para o tratamento contra a escoliose), aparelho ortodôntico externo e óculos fundo de garrafa.

Ô, ou...

Essa última era mais feia que dar presente com preço.

Andava igual o Robocop.

Na altura do campeonato, a Menina Peluda era a Julia Robert.

A professora foi na bucha!

“- A Menina Peluda e Rodrigo...”

- “NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!”

Segunda bordoada no céu da boca do estômago!

(Deus, se você existe mesmo, me põe com a Gordinha! )

Toda gordinha tem o rosto bonito!

(A Gordinha e Angelo! A Gordinha e Angelo! A Gordinha e Angelo!)

- “A Gordinha e o Gordinho!”

- Hunpf!

E emendou para finalizar o grupo:

- “A Estranha que usa colete e Angelo!”

Foi como uma espadada do Darth Vader no pescoço:
- “Uon!”

Todo mundo, menos a professora, olhou para mim.
- “Se fudeu!”

Eu era um bom aluno e a professora vivia dizendo que me adorava.

Ela não conhece o ditado: “ Quem ama não trai?”

Mas tudo bem, eu posso ser falso.

Dei um sorrisinho para Estranha de Colete, fingindo que estava feliz.
- Yupi!

E segurei na mão dela.

Mas tudo bem, eu posso ser escroto.

Assim que acabou a divisão fui até a sala dos professores “chorar”.
- Professora, eu não quero mais dançar!
- “Por que Angelo?”

(Será que é porque minha parceira usa colete e aparelho externo?)

- Porque não, professora!
- “Vem cá! É por causa da sua parceira?
- Nããããããããããoooo...Que isso!
- “Angelo, vou te contar um segredo. Ela estava louca para participar, mas sabia que ninguém ia querer dançar com ela...”

Olha o papinho.

- “...e eu disse que com certeza você dançaria com ela, por ser um rapaz maduro e especial!”

(Especial é a cabeça do meu...)

- “Mas se você não quer dançar, paciência, parece que eu me enganei, né?”

(A primeira mulher que te fode é a professora!)

- A senhora tem razão! Tudo bem professora, eu danço com ela.

(Rodou o disco da Xuxa ao contrário, agora escuta o capeta!).

- “Jura? Obrigado, Anjinho! Ela vai ficar muito feliz!”

(Foda-se!)

E meu deu o maior beijão na testa.

A desgraçada me manipulou apelando para psicologia, sentimentalismo e vaidade.

E eu engoli!

Chegando em casa fiz o que qualquer homem faria, né?

 Chorei para caralho!

(Como eu queria ter hoje, só meus problemas dos doze anos!)

No outro dia, primeiro ensaio.

Bruno nem sabia dançar, era mais duro que pau de tarado.

Eu, por outro lado, era praticamente o Sidney Magal.

O rei da lambada.

Mas o que adianta ser o Sidney Magal quando sua parceira é uma enceradeira?

Como é que se dança lambada com alguém usando colete ortopédico, gente?

A menina tinha uma tábua de passar parafusada na coluna.

E na boca, uma rédea de cavalo.  

Mas tudo bem, eu era o menino mais legal da turma...

Passei o mês inteirinho ensaiando com ela na escola.

Enquanto Bruno, faltava os ensaios para jogar bola.
Na verdade ele só entrou na parada para matar aula.

Chegou o dia da apresentação e algo inacreditável aconteceu.

Se isso aqui fosse um filminho teen americano, a menina apareceria linda de cabelo solto, sem aparelho, sem colete e eu descobriria que ela na verdade ela sempre foi minha verdadeira paixão.

Mas não é um filme.

É o Conta Uma!

A filha da puta da Estranha de colete não apareceu para apresentação.

Estava com pneumonia.
A desgraçada da garota tinha tudo!

Mas advinha quem não apareceu também?
O Bruno, meu ex-amigo.


A professora enfim:
- "Angelo, então você dança com a Milena!"

"We are the champions!"

Agora você se animou com a história, né?

Está torcendo para mim?

Agradeço, mas a Milena também não apareceu.

Acabou que na hora eu dancei com a Quellen, uma outra menina que estava sem par também.

E até que fomos o sucesso da apresentação de lambada, tá?!

“Vem meu amor, vem com calor, no meu corpo se enroscar...”

Rodapé: Outro dia eu vi a Estranha de colete e aparelho.

O colete e o aparelho deram jeito.


Ficou linda.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Olhos vermelhos




“De olhos vermelhos, de pêlos branquinhos...”


Não! Não era o coelhinho!


Era um afro descendente de uns seis metros de altura, forte para caralho, cheio de cachaça e cocaína na narina.


- “Quem é o gerente dessa merda?”


Esse era um dos raros momentos que os funcionários abriam um sorriso igual o gato da Alice:


- “É aquele ali!”


E apontaram para mim.


Eu já tinha trabalhado em várias boates, mas essa era um baile funk na periferia.


A cerveja era mais barata do que uma bala, as mulheres eram mais baratas do que a cerveja, bandidos achavam que eram polícia e a polícia achava que era Deus.


Tudo regado ao funk da pior qualidade:

“Chupa aqui, senta lá, chupa aqui senta lá...”


Mais ou menos isso.


Claro que não eram todos os freqüentadores que eram assim, mas a metade já era milhares.

E era muito mais da metade.

E não estou falando da galera pobre, não! A galera da zona sul era igual!

A mulambice não está na carteira da pessoa.
Esta na alma!

A boate era uma concentração bizarra e gigantesca de pessoas descontroladas.

Minha área de atuação era do lado de fora.

Geralmente onde os problemas ficavam maiores e mais perigosos.

A imagem da multidão saindo, parecia uma tsunami de lava de vulcão dos infernos.


E sempre tinha um com a necessidade de arrumar problema.


- “Você que é o gerente dessa merda?”


O bafo do negão mudou a cor dos meus olhos e do meu cabelo.


- Sim, pois não! O que posso ajudar?


Eu posso ser um gentleman também.


A ventania fazia o cara balançar de um lado para o outro.

Qual é o nome daquele vento famoso mesmo?
Lembrei: Álcool!


- “Roubaram meu carro e você vai pagar agora!”


Apontou o olho de Sauron para mim.


Mas eu também não metia o galho dentro, não! Sou macho!

(E claro, tinha 10 seguranças).


- Primeiro: Fale mais baixo por favor!

- Segundo: Onde o senhor estacionou o veículo?


O negão abriu os braços e dava uns cinco metros de envergadura.


O cordão de prata era tão grosso que dava para amarrar umas vinte motos.


Percebi que ele era todo tatuado.

(Tatuagem em pele muito escura, se não for de Liquid Paper ou florescente, dá um efeito meio sinistro, né?).


- “Vai tomar no cú, você não sabe onde eu parei meu carro?”


Tinham três seguranças perto que olharam para mim.


Eram eles: Tapa de ferro, Pit Bull e Sagat.

(Um dia eu falo sobre todos os dez seguranças, hoje não.)


Por muito menos aquele cara poderia ter tomado uma na orelha, mas nós somos seres civilizados ou não somos?


Olhei de volta para os seguranças e fiz que não com a cabeça.


Eu sou bom de papo.


Ia resolver na diplomacia.


- Meu senhor, olha o tamanho do estacionamento! São centenas de carros. Não dá para eu saber qual carro é de quem, concorda?

- “Mas o meu estava estacionado bem aqui, porra!”


Apontou para um espaço vazio.


- Cadê a chave senhor?

- “Está aqui na minha mão!”

- É mais difícil roubar um carro sem as chaves, não acha?

- “Tá me chamando de mentiroso, seu babaca?”


Tapa de Ferro chegou mais perto fazendo cara feia.

(Eu já vi um magrinho abusado voar por cima de nove carros com um sopro do Tapa de Ferro, acredite se quiser!).


- Não estou lhe chamando de mentiroso, mas é possível que o carro não tenha sido roubado. Qual é o carro?

- “Um Chevette preto, placa JJJ 8483!”


Peguei o rádio:

- Alguém perto de um Chevette preto, placa JJJ 8483?

- “Tá aqui gerente!”


Do outro lado do estacionamento. O lugar era enorme!


- Viu? O senhor está enganado, apenas estacionou do outro lado!

- “Estacionei porra nenhuma! Alguém tirou daqui e levou para lá!”

- Pode ser...Deve ter sido o Yeti que mora ali atrás.

- “O que?”

- Nada não, vamos lá pegar o seu carro.


Botamos o sujeito dentro do carro, mas ele nem agradeceu. Óbvio!


- Vá com Deus!

(Como se algum ser divino fosse entrar naquele carro maldito!)


Eu até hoje não sei como tanto carro conseguia sair ao mesmo tempo, pelo mesmo lugar, com tanta gente alcoolizada dirigindo.


Pela proporção, até que quase nunca tinha batida.


Mas às vezes...

- BUM!


Viramos de costa e vimos que era o Chevette do negão.


Quando ele abriu a porta e estava com dez metros de altura.

Muuuuuito puto!


Transtornado.


- “Filho da puuuuta! Como que você me dá uma ré dessas?!”


A gente não viu quem tinha errado, só vimos a traseira de um Honda agarrada na outrora frente do Chevette preto.


O negão deu três marteladas no caput do Honda.


BUM, BUM, BUM


- “Responde seu babaca!”


Aí eu chamei todos os dez seguranças pelo rádio.


Senão o cara do Honda, certo ou errado ia morrer.


Tanto que ele nem saiu do carro.


E o negão, feito um tocador de pandeiro de mármore, batia com a mão aberta que mais parecia uma pá de lixo, no caput :


PUM, PUM, PUM!


- Como é que você me dá uma ré dessas filho da puta!”

- “Sai daí de dentro, seu viado!”

- “Eu vou te matar desgraçado!”


Praticamente um monstro de vinte andares esmagando Tóquio.


Eu vi sair um maribondo da boca do maluco.

Juro!


Tive que intervir.


- ÔôôôÔ! Meu amigo! Calminha aí! Acidentes acontecem!

- “Calma aí é o caralho! Acidente porra nenhuma! Você viu a ré que esse filho da puta deu para cima do meu carro?”


Ele se escorou em outro carro para não cair.


Olhei para Tapa de ferro, que chegou junto dele.

Pit Bull e Sagat também fizeram a contenção.


- Amigão! Deixa o cara sair do carro para gente resolver isso da melhor forma possível. Violência não resolve nada.

- “Foda-se!”


(A maravilha de um diálogo educado e um argumento coeso!)


O insulfilm do Honda era muito escuro, não deixava a gente enxergar nada.

Nem sabíamos se o motorista era homem, mulher, flor ou fruta.


Eu só sabia de uma coisa.

Quem fosse que estivesse lá dentro, já estava todo cagado!


Quando eu meto a cara e a lanterna no vidro...


Que surpresa...


Advinha?


Não tinha ninguém dentro do carroooooooooo!


Eu ainda procurei para ver se o cara estava embaixo do banco.

Mas não, não tinha ninguém mesmo!


Geralmente eu sou calmo...

Mentalizo o azul.


Mas às vezes... Quando o vermelho sangue prevalece...


Arregalo os olhos, nascem garras, caninos, chifres e nasce uma asa de morcego nas minhas costas.

Sim, eu viro um gárgula!


Voei em cima do babaca e o agarrei pelo pescoço.


Tapa de Ferro até estranhou.


- Olha aqui!


Colei a cara dele no vidro.


 Você está vendo alguém dentro do carro?


- “Ué?”


- Você fez esse escarcéu todo, deu chilique igual a Vera Verão, está me aporrinhando há mais de uma hora e destruiu um carro parado, seu filho da puta!


- “ Po, po, po...”


Você bate num carro estacionado e ainda diz que ele deu ré?


Ele já não era mais tão grande assim.


- Po, po, po, porra nenhuma!


Acabou a diplomacia.


Dei um esporro e ele, bebum bolado, aceitou.


Meia hora depois, chega o dono do Honda...


Meu amigo! Desculpa o acidente, mas o senhor ali está disposto a pagar pelo conserto.


Quando o maluco viu o tamanho do cara que tinha batido no carro dele:


- “Não, não, não precisa não!...Eu tenho seguro, valeu mesmo!”


E meteu o pé!