quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

MÃOS À OBRA



Olá leitores. Saudade?

Eu disse que estava de férias, mas era mentira. 

Como muito de vocês que me acompanham no facebook sabe, estava mesmo era tocando uma obra gigantesca aqui na empresa.
Desde o natal e ainda não acabou. 

Por isso a falta de tempo para escrever novos contos. 

Obra em casa antiga, sabe como é, né?
É feito espinha no nariz. Quanto mais você mexe, maior vai ficando.

E pior que eu, trabalhando de arquiteto, só o Picaxu de salva vidas.

- “Patrão! O sistema ribunocleico de próclise e mesóclise da intrísseca prosopéica remêneutica está completamente enferrujado, como o senhor pode ver.
- “O Hamálico Prefúsico vai ter que mudar também. Olha aí!”
- “Essa peça nova não coube. Tem que achar outra parecida.”

Trocar algum produto em lojas grandes de material de construção é mais complexo e burocrático que papelaria.

- “O senhor vai ali, pega lá, chupa aqui, toma cá e depois volta para pegar o cupom que o senhor terá que retirar lá embaixo na seção de retirada de troca de produto.”
- Olha, mas eu estou sem a nota fiscal.
- “Sem nota é impossível.”
- Posso falar com o gerente?
- “Pode! Mais já adianto que será em vão.”
- Obrigado, espero que o seu dia seja ótimo também.

A gerente era uma mulher baixinha de pele morena e cara redonda feito um Trakinas. O uniforme não salientava as curvas do seu corpo.  Não que eu quisesse contemplá-las..

- Bom dia meu amor! Eu preciso muito da sua ajuda...

Quando a gerente Trakinas levantou a cabeça para mim... seus olhos se encheram de luz como se visse o próprio Jesus Cristo.

- “Thalles Robertooooooooooooooooooooooo!”

Quem?

- “Thalles Roberto! Eu Adoro você! Sou muito sua fã!”
- Hehe... olha, com certeza você...
- “Minha mãe te amaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!”
- Hehe... muito legal... Mas é que...
- “Só um minutinho que tem uma colega que vai pirar em ver você aqui. Sarahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh”

Fudeu.
Estava com uma ressaca shrekiana.
Com os óculos escuros parafusado na cara.
No começo achei que ela estava me confundindo com algum pagodeiro ou sertanejo, mas aí ela começou a falar muito de Deus então percebi que devo ser parecido com algum cantor evangélico.
Era só o que me faltava.

A outra vendedora era mais histérica. Veio pulando de longe feito micareteira quando encontra a amiga num bloco de carnaval.

- “Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!”

Acreditem... sou tímido.
Ela veio pegando demais para uma serva do senhor.

- Hehehe...Tudo bom?

Confesso que dei uma ensaboada na garganta no melhor estilo Bond Boca.

- “Que voz maravilhosa abençoada por Jesus! ”

Sem querer ser metido, mas...
A minha voz é charmosa, profunda, aconchegante e divina mesmo.

Com a cara de Angelim que Deus me deu, autografei no bloco de pedidos dela. Sem ter ideia de como se escrevia o nome do cara, fiz um desenho abstrato e ainda botei no final aqueles três pontinhos da maçonaria.
Só sei que não enfrentei fila e ainda troquei o produto sem nota e sem nenhum problema.

Os evangélico é tudo unido!

- “Só preciso do seu CPF Thalles.”
- Não conheço nem o cara, quanto mais o CPF dele. Dei o meu.
- Ué? Está constando em nosso sistema como Angelo Morse.
- Han? É, né... Você sabe guardar segredo?
- “O que foi?”
- Esse é o meu nome verdadeiro.
- “Jura? E de onde vem o Thalles Roberto?”

Mandei de trivela com os olhos fechados e sem pudor:
- É que... eu sou fã do Thales Pan Chacon e do Roberto Carlos.

Ela deu uma arqueada na sobrancelha, sorriu, mas sacou o caô.

Levei um tempo sem voltar lá e comprei o resto do material em outra loja, que de tão famosa tem nome e sobrenome.
Inclusive foi nessa que eu comprei toda a cerâmica das paredes das salas, num precinho muito, mas muito em conta, por sinal.
Sem querer dar mole para equação de pedreiro, malandramente, trouxe cinco metros a mais, para quando chegasse no final, não ter que escutar...

- “Aí patrão! Vamu precisar de mais duas caixas dessa cerâmica.”

Puta que pariu! Praga dos arquitetos, que segundo eles, são mediúnicos e matemáticos exatos.

Volta o cornélico para loja de material de construção.
Na verdade fui tantas vezes nessa loja que já tinha lugar cativo na mesa do café da manhã com os funcionários.

- Oi minha querida, tudo bom? Preciso de mais duas caixas daquela cerâmica que levei na sexta feira. Lembra?
- “Lembro. Aquela azulzinha cheio de quadradinho?

Vendedora negra, simpática, gordinha e bonitinha. Daquelas que quando ri, surgem duas covinhas na bochecha que dá vontade de apertar.

- Essa mesmo.
- “Acabou”
- What?
- “Você levou todas as últimas caixas.”

A sensação de um pepino adentrando o ânus.

- Mas por que diabos você não me avisou?
- “Você não perguntou.”

Senti com a língua que os meus caninos estavam maiores e pontiagudos.
A vontade inicial foi morder a cabeça dela como se fosse uma Tortuguita.

Mentaliza o azul... mentaliza o azul...

- Tem certeza que não tem no estoque?
- “Tenho. Esse modelo saiu de linha porque a fábrica lançou uma versão parecida.”

A porra da cerâmica era 31 x 31, a nova 31.5 x 57.
Fabricada especificamente para currar com a minha vida.

Tal qual o Pensador, sentei no vaso sanitário do mostruário e desabei em desalento, desespero, dor e drama.
O black power murchou feito samambaia chorona na seca.

Tortuguita viu minha depressão e ficou com pena:
- “Mas olha só... Constam dez caixas no estoque da outra loja.”

Brilho nos meus olhos.

- Onde? Onde? Onde? Onde?
- “Na loja da BARRA DA TIJUCA”

Nocaute.
Barra é foda! Não gosto de ir lá! Acho tudo muito exagerado e distante. Fora o engarrafamento jabutinesco que iria pegar.

- “Mas é bom ligar para confirmar.”
- Você pode ligar para mim?
- “Infelizmente não estou autorizada.”

56 minutos ouvindo a maravilhosa música da loja que merecia ganhar um prêmio de pior música de espera de todos os tempos.

Já no meio do caminho consegui falar com a vendedora do setor.

- “Realmente constam dez caixas desse produto.”
- Guarda para mim que estou chegando aí, por favor.

Essa vendedora era uma loirona muito maquiada e cabeluda com tração nas quatro rodas.  Parecia uma Elke Maravilha com injeção eletrônica. O crachá parecia um boche entre os seios.
Não que eu tenha reparado.

- Ufa! Tudo bom? Puxa! Que martírio para achar essa cerâmica.
- “Imagino. Deixa eu ir no estoque só conferir o seu pedido.
-  Obrigado, eu só quero duas... Três... Melhor quatro caixas.

Meia hora depois, volta a Elke Poposuda com cara de pataquara:
- “É...Seu Angelo... na verdade... houve um erro no sistema.
- “Ah não... Quantas têm?”
- “Nenhuma. A informação é que saiu de linha para sempre.”

Já viu mamãe porco espinho tendo parto normal?
Fechei os olhos e fiquei amarelo feito Bruce Lee com caganeira.
Encolhi-me no piso frio da loja e fui morrendo aos poucos.
Feito um Tamagoshi solitário e carente.

- “Sabe o que é curioso? Aqui no meu sistema está constando quatro caixas em nossa loja de Bangu.”

Sabe o que é curioso? O tecido dos lábios e do clitóris é o mesmo que o da glande peniana?

- Oi?
- Oi
- Bangu?
- É, parece que tem em nossa loja de Bangu.

Bangu é sacanagem.

- “Mas é melhor ligar para confirmar.”

Jura infeliz?

Você poderia ligar para mim, por favor?
- “Infelizmente não.”

Olhei dentro da alma da mulher com as pupilas negras e dilatadas:
 - Fiquei uma hora ouvindo a porra da musiquinha de vocês em versão sertanejo, olha a minha cara de quem quer ouvir a versão funk.
- “O senhor pode passar um e-mail. Eles respondem mais rápido.”
- Você pode passar para mim?
- “Infelizmente não”

Espero que no carnaval você engravide de um mendigo vestido de pierrô.

- “Oi?”
- Vou lá pessoalmente então. Boa semana para você.
- “Desculpa não poder ajudar”

Morra!

Antes de entrar no carro, enviei a porra do e-mail para loja, mas nada de resposta, claro.

Bangu é mais longe que prisão perpétua
Após duzentas horas, cheguei virado nos sete cangaceiros.

A gerente do setor era uma anã grande de bigode oxigenado.
Parecia o Eufrazino da turma do Pernalonga.

- “Veio de tão longe por que?”

Mentaliza o azul...mentaliza o azul...

- “Era mais perto ter ido na loja de Niterói.”

Men-ta-li-za-o a-zul...

- “Ou na loja da Barra.”

O azul, azul, azul, azul...

- Moça bonita. Já fui a todas. Só preciso que você confirme para mim se realmente existem as quatro caixas no seu estoque, por gentileza.

- “Tem sim.”
Comprei as últimas caixas pelo dobro do preço.

Voltei para casa, com a missão acrobática de não quebrar tudo andando por aquelas ruas que mais parecem uma caixa de ovo.

Chegando em casa, recebo um e-mail:

- “Sr Angelo Morse. Esse produto saiu de circulação. Mas ainda consta em nossas lojas da Barra da Tijuca e de Goiânia.
Obrigado pela preferência.

Você responderia o que?

As duas melhores respostas concorrem a camisa do Conta Uma que será lançada em Fevereiro.

Não se esqueçam de divulgar nas redes sociais que o C.U voltou.
Aguardem as novas histórias bem mais divertidas. 
Mãos à obra e que venha 2013
Obrigado pela preferência.
Abraço.

E para finalizar, um agradecimento especial ao cantor Thalles Roberto.