terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FIM DO MUNDO




2013.
E do nada, um meteoro atingiu a Terra: BUM!
Aí me surge a porra de um asteroide de 45 metros, 130 mil toneladas passando do nosso ladinho. Ufa..
Os cientistas disseram que não tinha perigo porque não estava em rota de colisão com a Terra.
Mas mermão, quem joga sinuca sabe o poder que uma tabela pode ter.
E além do mais, e se fosse bater? Ainda não vi ninguém de collant azul e capa vermelha, dando pinta voando por aí.
Uma hora vai dar merda.

Enfim, parece que sempre o mundo vai estar prestes a acabar.
Mas na virada de 1999 para 2000 isso quase se tornou uma certeza, lembra?

Não bastasse Nostradamus lançar a o veneno: “De mil passarás, mas dois mil não chegarás!”*  tínhamos também o mito do “Bug do milênio*” que daria uma pane generalizada em todo sistema do planeta. Colapso, fim dos tempos.

E esse Conta Uma data exatamente desse dia...

Pau Barbado era um ser humano delicado e suave.
Tão suave quanto comer um tacacá* no verão de Bangu.

 - “Se o mundo vai acabar mesmo, quero morrer jogando leite em alguém!”
- Nossa! Que poético! Por que você não bate lá na porta da Simone Bução, então?

Simone Bução
Uma vizinha muito maluca e estranha, de cabelo Cocker Spaniel, rosto chupado e olhos desconexos que nunca chegavam num acordo direcional.
Já o corpo era perfeito. Perfeitamente reto, sem nenhum vestígio de curva. Onde deveria existir uma bunda dava para pendurar um espelho.
Os seios, tínhamos que ficar procurando feito o Geninho* do desenho da She-Ra.
As coxas branquelas e finas eram da mesma espessura da batata da perna e os joelhos eram do tamanho exato da sua cabeça.
Tinha dedos longos e muitos pelos no braço.
Mas o que mais me chamava atenção mesmo era um bigodinho que ela ostentava. Parecia que tinha engolido uma andorinha e deixado o rabo para fora da boca, como diria Didi Mocó.
Eu acho que ela raspava aquela merda com gilete. Quando raspava!
Não fosse o suficiente, seu papai era Brabão da Polícia Federal.

Simone Bução dava em cima de todo mundo que tivesse testículos, mas só um contemplado teve a ousadia de se deitar com ela.

- “Vai ficar jogando isso na minha cara para o resto da vida, porra!?”

O fato é que depois que Pau Barbado caiu na cama da Simone Bução, se fudeu.  A mulher ficou totalmente obcecada por ele. No melhor estilo Glen Close em Atração Fatal*. 

Tadinha, ela era gente boa, mas extremamente louca e muito carente.  Para você ter uma ideia, na primeira vez que eles transaram, ela lhe serviu um café da manhã na cama com um anel de compromisso entre o pão e a manteiga, se dizendo completamente apaixonada.
Foram necessários sete babalorixás e um mandato de segurança para ele se livrar dela, quase ileso.

- “Já acabou? Enquanto você fica de blá blá blá, as bolas de fogo estão chegando do céu. Vambora sair logo para rua!”
- Pau Barbado, não tem a mínima chance de eu sair de casa hoje.
- “Para com isso! Vamos lá, porra!”
- E você quer ir para onde?
- “Advinha?! Começa com P e termina com uteiro!”

Pau Barbado era a pessoa mais tarada que eu já conheci na vida.

Tinha tesão na Dercy, na Vovó Mafalda, em mulher amamentando, na princesa do Mário Bros, na Olívia Palito e naquela loirinha, de aparelho, dos Goonies*...resumindo:

Era um doente.

E ficou durante quarenta minutos tentando me tirar de casa feito Lúcifer sussurrando no ouvido de Jesus, passando aquela língua bifurcada de serpente no lóbulo da minha orelha.

Mas eu sou teimoso.

- Na boa, desiste, brother! O mundo pode até não acabar hoje, mas só essa energia que se formou nesse dia, faz a gente refletir e querer ficar perto da família, das pessoas que ama... e além do mais...
- “Eu pago a noitada.”
- ...Me arrumo em dez minutos.

Também sou volúvel.

Prontos para sair, entramos num acordo:
- Cara... sem sacanagem... passar o fim do mundo no puteiro é deprimente.
- “Não acho! Você num queria ficar com a família? Vamos ficar com as “primas”*, mané!”
- Não, não. Vamos num outro lugar que eu sei que está rolando uma parada maneira.

Uma festa temática originalmente chamada: “Fim do Mundo” numa boate na qual eu tinha o status de: Very Important Penetra.

Não tinha grana, mas sempre fui descolado, bem relacionado, charmoso e cara de pau.
Entramos facilmente pela porta da frente, e ainda tomamos tapinhas nas costas dos donos.

O lugar estava abarrotado de mulheres. Parecia liquidação de sapatos.

- “E você querendo ficar em casa, né?!”

Tática:
Por mais nervoso e tímido que você seja, sempre aborde a mulher mais bonita da festa. Isso mostra confiança e chama atenção das outras.
Sempre dava certo.

Cheguei escorregando de Zé Bonitinho na mais esvoaçante:
- Qual é a chance de alguém linda como você querer conversar com um cara como eu?

A mulher sorriu revelando os cisos:

- “Ah... que isso... muito obrigada!”
- Posso te pagar um drink?
- “Não.”

E desviou de mim feito o Neo das balas da Matrix*.

Ok. Nem sempre essa tática dá certo.

Cinco drinks apocalípticos depois e o filho da puta do Pau Barbado já estava sugando a alma de uma mulher pela traquéia.

E eu, o mais perto que cheguei de alguma mulher, foi da Tia do cigarro, do lado de fora da boate.

Não era o meu dia.

Uma hora depois, Pau Barbado passou por mim de mãos dadas, piscando o olho, me dando tchauzinho e amaldiçoou:

- “Vai passar o fim do mundo sozinhooo...”

Fiz sinal feio com o dedo para ele.

Olhei para o relógio: 23:59
Olhei para o céu pela janela. Nada!

Bom, se o mundo vai acabar, eu vou me acabar antes dele.
Pedi mais um whisky duplo. E outro... e outro...

Sempre desconfio que estou bêbado quando me pego conversando com o copo.
E tenho certeza quando o mesmo começa a me responder:

- “Tem dinheiro para pagar essa conta lotada de whisky, Bruce Wayne?”

Puta-que-o-pariu!
O copo sempre tem razão!
Esqueci de pegar uma grana extra com Pau Barbado.

Fui embora da boate, tropeçando, deixando com a moça da comanda todo o meu dinheiro, meu isqueiro Zippo, minha dignidade, duas promissórias e um monte de desculpa.

Do lado de fora, um fenômeno chamava a atenção dos bêbados mais supersticiosos:

- Que porra de nevoeiro sinistro é esse?

Não dava para ver nada e o pouco que se via parecia sonho.

- Está de sacanagem que o mundo vai acabar de verdade?

Me lancei valente e trôpego entre as brumas, com um certo ar timburtiano no rosto, em direção ao ponto de ônibus.

Ninguém do meu lado e nada no bolso.

Quando o busão apareceu me joguei dentro dele, como quem parte em um navio fantasma.

- Me dá uma carona?

Desci no centro da cidade, em meio às putas e travestis.
Como não estava em condições de diferenciar um ser do outro, achei melhor trocar um perigoso boquete por um perigoso X-tudo.

Com a fome de doze Átilas, aterrissei na carrocinha de insalubridade comprovada e me atraquei ao sanduba feito pivete em carteira de gringo.

Só quem já provou um X-Tudo em fim de noite, com catchup violeta, mostarda laranja e maionese vietnamita, sabe o que estou falando.
A gente chega a lamber o saco em busca da última batata palha e fica muito feliz quando acha um ovo de codorna. 

No mesmo momento desesperador que lembrei não ter dinheiro, achei uma nota amassada para pagar.

Usando meus soluços como muletas, parti ziguezagueando em direção à minha casa.

O trajeto meu corpo já sabia decor.

Tanto que poderia até andar dormindo que chegaria no meu destino.

Andar dormindo.... andar dormindo... andar dor...zzzzzzz

Acordei com a gritaria de um mendigo, raivoso como o próprio Barba Negra, me ameaçando com uma foice imaginária.

Pelo seus resmungos, percebi que tinha tropeçado nele e me encolhido entre suas cobertas cinzas e sujas.
Feito um coala contrabandeado.

Pulei de susto, pedi desculpas e vi que estava exatamente na esquina do meu prédio.

Um cachorro que mijava na pilastra, riu.

O porteiro me deu bom dia com simpatia, mas reparei pela quina dos olhos que ele se benzeu.

Olhei para ele em tom aterrorizante e voz abatedoura:
- O mundo vai acabar hoje Ernesto! Vai acabar!

E entrei gargalhando no elevador tendo que fechar um olho para enxergar os botões do painel.

Onze andares. E sabe-se lá o porquê cargas d´águas, apertei o único botão que não deveria.

A pessoa abriu a porta descabelada e assustada:

- “O que houve Angelo?”
- O mundo vai acabar e eu quero você!
- “Seu doido, entra aí!”

A porta fechou em minhas costas rangendo para mim em tom de desaprovação.

Desabei nos lençóis entregando-me ao meu carrasco de bigode e tetas murchas.

Fim.

Acordei com o tilintar das xícaras do café da manhã ecoando na minha cabeça feito dois rinocerontes de vidro dançando lambada.

Não tive coragem de abrir os olhos.

De repente, umas garras pontiagudas fizeram carinho em minhas costas descendo ao meu cóccix, arrepiando até o último pêlo da prega rainha.

Nessa hora, fiz o que qualquer cristão faria. Rezei:

- Que seja o Capeta! Que seja o Capeta! Tem que ser o Capeta!
- “Bom dia flor do dia.”

Hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm....

- Ai não.

Simone Bução com um sorrisinho maroto de Tony Blair passava sapecamente a língua pelos dentes.

- “Melhorou?”
- Não sei exatamente... o mundo acabou?
- “Não mesmo.”
- Então estou muito mal.

Perto do ovo mexido, dois anéis de metal.

NOTA: Onde tiver asterisco, leia-se: Procure no Google.

O Conta Uma não é o Guanabara, 
mas também faz aniversário, tá?!
Dia 28/02/2013 faremos um ano de sucesso!
Rápido, né?
Gostaria de agradecer ao fãs e aos amigos 
pelo apoio, cobrança, correções e elogios. 
Esse ano ainda tem muita coisa boa surgindo. 
Continuem postando muito em suas 
páginas das redes sociais 
e espalhando o C.U no boca a boca.
Quer dizer...bom, vocês entenderam.

Porque a vida é muito mais inverossímil que a ficção
Ou não?
Beijoca!