domingo, 24 de março de 2013

O namorado da minha filha.



Na verdade, esse não é propriamente um conto do Conta Uma.
Mas antes de qualquer coisa não posso esquecer que isso aqui é um blog como outro qualquer
Então se eu quero desabafar é aqui que eu vou fazer.
Se você vai ou não gostar não é problema meu, foda-se!

Desculpa, não quis dizer isso, estou um pouco alterado.
Você é muito importante para mim.

Estou meio tenso.
É que o tal namoradinho da minha filha veio dormir aqui em casa hoje.

E não pense que sou desses pais antigos e malucos que superprotegem a filha.

Tudo bem que ela por si só é uma minideusa, meiga como uma Branca de neve cantando para os pássaros, gostosa feito um filhotinho de coelho coberto de chocolate e mais engraçadinha que um panda tentando lamber a remela do próprio olho.

Os pais do tal moleque são meio suspeitos.
Bebem, fumam, dançam... jogam buraco.
Enfim.

O garoto tem um quê de Bad Boy, misturado com Lek, Lek, sabe?
Dissimulado e meio bobo.
Parece o Jonh Travolta.
Tem até topete.

Hum.

Minha mulher, mesmo contra minha vontade, deixou os dois dormirem juntos no quarto.
Mulheres são tão ingênuas e românticas.
A gente que é homem sabe muito bem o que se passa em nossa cabeça pervertida.

Assim que eles dormiram, fui dar uma checada na mochila do pilantra.

Logo de cara achei algo que parecia ser uma pedra de crack, mas era só massinha de modelar.
Massinha de modelar... sei.
Um pirulito.... Quem chupa pirulito hoje em dia?
Dois carrinhos
E um boneco do Ben 10.
Não vou com a cara desse Ben 10.
Não entendo muito. Ele é um, mas pode ser 10. Parece confuso, né?
Meio sem personalidade, concorda?
Mau caráter.
E tinha um livrinho de histórias do Peter Pan.
 Nitidamente o livro foi colocado ali só para ele fingir que é culto.
Também não gosto do Peter Pan.
Muito descompromissado, imaturo e desfocado para o meu gosto.

Estão dormindo, os dois juntinhos.

Durante toda madrugada, de meia em meia hora eu fui no quarto vigiar.
A porta sempre aberta.

Descobri que ele chupa dedo.

Fala sério...
Quem chupa dedo hoje em dia?

O nome dele é Pedro Lucas.
Nome estranho.
Ou você é Pedro ou é Lucas, porra!

Já puxei a ficha do carcamano.
É indisciplinado e bagunceiro.
Tem duas passagens pela secretaria da escola.

Hum.

Minha filha é uma santa e um amor de menina.
O alvo preferido dos cafajestes.

Mas não vai ser esse moleque com jeitinho de João do Santo Cristo que vai corrompê-la.
Não sobre o meu cadáver.

Ele dormiu abusadamente de cueca.
Quem usa cueca vermelha hoje em dia?


Acordaram.
Mas eu já estava sentado no sofá da sala esperando.

- Filha, está tudo bem aí?
- “Sim papai.”

Claro que está tudo bem. Ela não sabe de nada da vida.
Quero ver quando ela descobrir que esse cara viciado em puteiro, tem mais duas amantes, outra família, sífilis, perdeu todo o dinheiro do aluguel em corridas de cavalo, atropelou um casal de idosos com a moto, sempre dá em cima da melhor amiga dela e vive arrumando briga quando está bêbado e drogado de heroína.

Aí, quando ela vai voltar para mim toda dengosa e chorosa e eu vou ter que falar:
- Minha, filha, eu te avisei. Esses caras com massinha de modelar...

Hum.

- “Papai, você pode comprar uma coisa para eu tomar café da manhã?”
- Claro, meu amor, o que você quer?
- “Eu queria aquele pãozinho com creme.”
- “Para mim, pode ser o mesmo que ela, tio.”

“...O mesmo que ela, tio”... Hum.

Moleque abusado.

Quando o médico disse que era menina eu já vi que ia dar merda.

Se ele não tivesse só cinco anos ia ver só.

Vou preparar o café da manhã deles, mas estou de olho.

sábado, 9 de março de 2013

CALÇA ARRIADA



Enquanto não sai um conto do C.U, topa uma história rapidinha para gente não perder a viagem? 

Isso foi hoje.


Sabe quando você toma um porre e no dia seguinte fica com ressaca de caganeira?

Vai dar descarga no vaso e identifica boiando, pedaço de pizza, maço de cigarro, guardanapo, pena de urubu e uma cabeça de playmobil que você engoliu quando tinha dois anos de idade.

Então... estava assim.

O certo seria eu não sair de casa, mas tinha um aniversário para ir a noite. Então eu tive que ir na rua comprar um presente.

Pálido e um pouco enjoado, comecei a peregrinação de loja em loja atrás de algo legal, porque o aniversariante é maneiro.

- “Já tem nosso cartão, senhor?”
- Oi?
- “Já tem o nosso cartão, senhor?”
- Não, obrigado.
- “Com ele o senhor tem 10% de desconto no ato da compra.”
- Não, obrigado.
- “É rapidinho, só me passar o número da identidade e do CPF.”
- Não, obrigado.
- “O senhor ainda concorre a um vale compra no valor de...

Ah... Cale-se! Cale-se! Cale-se! Você me deixa loooouco!

- “... e uma viagem para Cancun...”
- Querida, eu sei que é o seu trabalho, mas eu não vou fazer o cartão independente do que você diga. Não perca o seu tempo comigo, pode abordar outra pessoa na loja, ok?
- “Ok, mas eu acho que o senhor não entendeu as vantagens do nosso cartão...”

Cara, é mais fácil fazer um Amish comprar um Ipad do que esses vendedores de cartão irem embora.

Tive que usar minha cara de Darth Vader para encerrar o assunto:
- Não, obrigado.

Fiz até a mãozinha de estrangulamento a distância.

- “O senhor que sabe.”

A Mulher saiu inconformada, como se seu fosse um cretino.

Eu sei é que essa lenga, lenga toda me deu vontade de ir no banheiro.

Tenta ir em banheiro de loja. Só consegue se estiver grávida porque vagabundo tem medo de pegar terçol.

Tive que caçar um sanitário porque o peido já chegou molhado.
A cólica veio deixando a coluna igual a do Quasímodo de Notredame.

E a lágrima triste escorria pela bochecha feito a do Burro dos saltimbancos trapalhões.

Achei um banheiro no shopping escondidinho.

Cu tem GPS, já falei. Quando a gente está apertado, quanto mais perto você chega do banheiro, mas vontade dá. Flato!

Adentrei rezando para estar vazio porque a porrada ia ser boa.
Sentei no vaso mais rápido que criança na cadeira quando o animador de festa diminui a música.
 E dali eu não sairia tão cedo.

De repente escuto a porta bater, alguém entrou.

Enquanto mulher vai sempre acompanhada no toilet, faz amizade, troca maquiagem e senha do facebook, homens nem se olham.
E é muito ruim você ficar cagando e gemendo com alguém te escutando.
Demostra fraqueza e vulnerabilidade

E acústica de banheiro é igual de igreja, né.
Qualquer peido é Pavaroti.

Um cara entrou na cabine ao lado. Ia fazer cocô também, supus.
Se tem muito mictório vazio, só mija em vaso quem tem piru pequeno.

Bom, continuei minha mentalização intestinal.

- “Você empesteou o banheiro com cheiro de homem.”

Levantei a sobrancelha feito um suricato e o cocô que estava saindo se escondeu feito barata quando a gente acende a luz.

Ele falou comigo?

- “Que perfume você usa?”

Ele deve estar no telefone, só pode.

- “Hein, rapaz de cabelo estiloso. Estou falando com você.”

Um homem desconhecido, sentado no vaso ao lado e puxando conversa?
O que ele queria? Começar uma guerra?

- “Eu estou te olhando faz tempo. Alguém já te disse que você é muito bonito?”

O cara era gay, claro, mas abordar os outros cagando é sacanagem.

Fiz o qualquer macho faria.
Tossi para mostrar para ele que sou forte e limpei a garganta para revelar meu nível de heterossexualidade.

- “Você não vai falar comigo, não?”

Falei:
- Cara, eu estou passando mal, é uma péssima ideia falar comigo agora.

- “É que eu estava pensando se a gente podia se conhecer melhor, você parece ser tão interessante.”
- Mermão, presta atenção. Eu tenho amigos gays, estou do lado de vocês contra o preconceito, defendo para caralho os gays, mas não curto essa parada. Seja lá o que você está querendo, desiste, pois você está me constrangendo, me atrapalhando e eu vai começar a me irritar.

Falei com a voz do Optius Prime.

- “Calma!”
- Estou calmo, cara. Eu ainda estou calmo.
- “Só me diz se é Malbec.”
- O que?
- “O seu perfume. É o Malbec, da boticário não é?”

Puta que pariu...

Nem respondi.

- “Muito cheiroso... forte... intenso.”

Silêncio.

- “Não fica chateado comigo não! Posso só te perguntar uma coisa?”
- “Posso?”
- “Só uma coisa. Posso?”

Eu estava no meio de uma dor de barriga daquelas. O maluco não ia desistir.

- Fala, cara.
- “Como é que você sabe que não curte se nunca experimentou.”

Olha o papinho...

- Cara...sério, fica na sua, fica.
- “Porque eu já vi muitos homens mudarem de opinião. Homens que você nem imagina.”

Que merda hein...

- “Às vezes só o que falta é oportunidade com a pessoa certa.”

Dei uma engrossada.

- Porra meu amigo, não fode! Sério que esse seu papo furado funciona? Você vai acabar tomando umas porradas qualquer dia desses.

Macho para caralho.

- “Você vai me bater?”

Falou todo malemolente igual o gato da Alice, mermão.

Dei uma testada para ver se já dava para levantar e ir embora, mas sabe quando fica algo pendente na barriga. Ainda ia demorar.

Fiquei quieto novamente.

O cara continuou se arrastando na conversa feito uma jibóia em câmera lenta:

- “Me desculpa te incomodar assim, mas é que eu pirei quando te vi. Achei que pudesse rolar alguma coisa.”

Respirei fundo.

- Tá bom, cara, fico lisonjeado. Mas agora que você sacou que não vai rolar nada, dá para ir embora?
- “Dou.”

É mole?

Bufei.

- “Vamos fazer o seguinte. Vou te dar meu telefone, caso mude de ideia, me liga. Pode ser?”

E passou o papelzinho por debaixo da cabine.

- “Muito prazer, meu nome é Angelo.”

What? Muita coincidência ruim. Meu xará ainda por cima.

- “E o seu?”

Nem falei nada, claro.

- “Tchau estiloso.”

A porta bateu.

Assim que eu acabei, lavei a mão, ajeitei o black e mandei um beijinho para o espelho.

Fim de história.

Pode não ser um final bom para o C.U, mas para o meu foi.