Enquanto não sai um conto do C.U, topa uma história rapidinha para gente não perder a viagem?
Isso foi hoje.
Isso foi hoje.
Sabe
quando você toma um porre e no dia seguinte fica com ressaca de caganeira?
Vai
dar descarga no vaso e identifica boiando, pedaço de pizza, maço de cigarro, guardanapo,
pena de urubu e uma cabeça de playmobil que você engoliu quando tinha dois anos
de idade.
Então...
estava assim.
O
certo seria eu não sair de casa, mas tinha um aniversário para ir a noite. Então
eu tive que ir na rua comprar um presente.
Pálido
e um pouco enjoado, comecei a peregrinação de loja em loja atrás de algo legal,
porque o aniversariante é maneiro.
-
“Já tem nosso cartão, senhor?”
-
Oi?
-
“Já tem o nosso cartão, senhor?”
-
Não, obrigado.
-
“Com ele o senhor tem 10% de desconto no ato da compra.”
-
Não, obrigado.
-
“É rapidinho, só me passar o número da identidade e do CPF.”
-
Não, obrigado.
-
“O senhor ainda concorre a um vale compra no valor de...
Ah...
Cale-se! Cale-se! Cale-se! Você me deixa loooouco!
-
“... e uma viagem para Cancun...”
-
Querida, eu sei que é o seu trabalho, mas eu não vou fazer o cartão independente
do que você diga. Não perca o seu tempo comigo, pode abordar outra pessoa na
loja, ok?
-
“Ok, mas eu acho que o senhor não entendeu as vantagens do nosso cartão...”
Cara,
é mais fácil fazer um Amish comprar um Ipad do que esses vendedores de cartão
irem embora.
Tive
que usar minha cara de Darth Vader para encerrar o assunto:
-
Não, obrigado.
Fiz
até a mãozinha de estrangulamento a distância.
-
“O senhor que sabe.”
A
Mulher saiu inconformada, como se seu fosse um cretino.
Eu
sei é que essa lenga, lenga toda me deu vontade de ir no banheiro.
Tenta
ir em banheiro de loja. Só consegue se estiver grávida porque vagabundo tem
medo de pegar terçol.
Tive
que caçar um sanitário porque o peido já chegou molhado.
A
cólica veio deixando a coluna igual a do Quasímodo de Notredame.
E
a lágrima triste escorria pela bochecha feito a do Burro dos saltimbancos
trapalhões.
Achei
um banheiro no shopping escondidinho.
Cu
tem GPS, já falei. Quando a gente está apertado, quanto mais perto você chega
do banheiro, mas vontade dá. Flato!
Adentrei
rezando para estar vazio porque a porrada ia ser boa.
Sentei
no vaso mais rápido que criança na cadeira quando o animador de festa diminui a
música.
E dali eu não sairia tão cedo.
De
repente escuto a porta bater, alguém entrou.
Enquanto
mulher vai sempre acompanhada no toilet, faz amizade, troca maquiagem e senha
do facebook, homens nem se olham.
E
é muito ruim você ficar cagando e gemendo com alguém te escutando.
Demostra
fraqueza e vulnerabilidade
E
acústica de banheiro é igual de igreja, né.
Qualquer
peido é Pavaroti.
Um
cara entrou na cabine ao lado. Ia fazer cocô também, supus.
Se
tem muito mictório vazio, só mija em vaso quem tem piru pequeno.
Bom,
continuei minha mentalização intestinal.
-
“Você empesteou o banheiro com cheiro de homem.”
Levantei
a sobrancelha feito um suricato e o cocô que estava saindo se escondeu feito
barata quando a gente acende a luz.
Ele
falou comigo?
-
“Que perfume você usa?”
Ele
deve estar no telefone, só pode.
-
“Hein, rapaz de cabelo estiloso. Estou falando com você.”
Um
homem desconhecido, sentado no vaso ao lado e puxando conversa?
O
que ele queria? Começar uma guerra?
-
“Eu estou te olhando faz tempo. Alguém já te disse que você é muito bonito?”
O
cara era gay, claro, mas abordar os outros cagando é sacanagem.
Fiz
o qualquer macho faria.
Tossi
para mostrar para ele que sou forte e limpei a garganta para revelar meu nível
de heterossexualidade.
-
“Você não vai falar comigo, não?”
Falei:
-
Cara, eu estou passando mal, é uma péssima ideia falar comigo agora.
-
“É que eu estava pensando se a gente podia se conhecer melhor, você parece ser
tão interessante.”
-
Mermão, presta atenção. Eu tenho amigos gays, estou do lado de vocês contra o
preconceito, defendo para caralho os gays, mas não curto essa parada. Seja lá o
que você está querendo, desiste, pois você está me constrangendo, me
atrapalhando e eu vai começar a me irritar.
Falei
com a voz do Optius Prime.
-
“Calma!”
-
Estou calmo, cara. Eu ainda estou calmo.
-
“Só me diz se é Malbec.”
-
O que?
-
“O seu perfume. É o Malbec, da boticário não é?”
Puta
que pariu...
Nem
respondi.
-
“Muito cheiroso... forte... intenso.”
Silêncio.
-
“Não fica chateado comigo não! Posso só te perguntar uma coisa?”
-
“Posso?”
-
“Só uma coisa. Posso?”
Eu
estava no meio de uma dor de barriga daquelas. O maluco não ia desistir.
-
Fala, cara.
-
“Como é que você sabe que não curte se nunca experimentou.”
Olha
o papinho...
-
Cara...sério, fica na sua, fica.
-
“Porque eu já vi muitos homens mudarem de opinião. Homens que você nem imagina.”
Que
merda hein...
-
“Às vezes só o que falta é oportunidade com a pessoa certa.”
Dei
uma engrossada.
-
Porra meu amigo, não fode! Sério que esse seu papo furado funciona? Você vai
acabar tomando umas porradas qualquer dia desses.
Macho
para caralho.
-
“Você vai me bater?”
Falou
todo malemolente igual o gato da Alice, mermão.
Dei
uma testada para ver se já dava para levantar e ir embora, mas sabe quando fica
algo pendente na barriga. Ainda ia demorar.
Fiquei
quieto novamente.
O
cara continuou se arrastando na conversa feito uma jibóia em câmera lenta:
-
“Me desculpa te incomodar assim, mas é que eu pirei quando te vi. Achei que
pudesse rolar alguma coisa.”
Respirei
fundo.
-
Tá bom, cara, fico lisonjeado. Mas agora que você sacou que não vai rolar nada,
dá para ir embora?
-
“Dou.”
É
mole?
Bufei.
-
“Vamos fazer o seguinte. Vou te dar meu telefone, caso mude de ideia, me liga.
Pode ser?”
E
passou o papelzinho por debaixo da cabine.
-
“Muito prazer, meu nome é Angelo.”
What?
Muita coincidência ruim. Meu xará ainda por cima.
-
“E o seu?”
Nem
falei nada, claro.
-
“Tchau estiloso.”
A
porta bateu.
Assim
que eu acabei, lavei a mão, ajeitei o black e mandei um beijinho para o
espelho.
Fim
de história.
Pode
não ser um final bom para o C.U, mas para o meu foi.