Encontrei uma mulher hoje na rua que vou ter que contar a história dela...
- “Olá, muito
prazer!”
Caucasiana de cabelos
loiros combinando com olhos rasgados cor de cacau e sobrancelhas grossas. A cabeça pendia sobre um longo pescoço no
qual alguns pelinhos salientes tremulavam arrepiados com o sopro do vento.
Corpo esguio e bem articulado, mãos rápidas, pés pequenos, seios yakultianos, pernas honestas, sorriso
jovial, nariz de pipoca e nádegas simpáticas.
- O prazer é todo
meu.
Durante os
pertinentes dois beijinhos cariocas, ela apertou minha mão com uma força não
muito comum para uma mulher.
No momento que nossos
olhos se fitaram o eixo da terra moveu 0,5 graus para a esquerda e houve um ruído na atmosfera.
Quem nos apresentou
foi uma amiga: Felina Pombagira Pato Donald.
(Precisarei pelo menos de uns dez C.U para falar sobre ela.)
Estávamos numa festa
e após um bate papo despretensioso percebi que a mulher era bastante descontraída
e muito bem humorada.
Humor é a parte da
mulher que mais me atrai.
A cumplicidade numa
troca de piadas pode ser tão íntima, ávida e prazerosa quanto o sexo
propriamente dito.
Já vi orgasmos de gargalhadas
em mesas de bar mais intensos quanto os da cama.
Não deve ser a toa
que a palavra “gozar” tem os dois sentidos.
- “Vamos fumar um
cigarro?”
- Vamos!
Éramos os únicos na
varanda, pois estava frio.
Ela acendeu o cigarro
olhando para mim:
- “Mas fala aí de
você!”
Deu-me uma cotoveladinha
no braço que me fez babar a cerveja.
Detesto que me
catuquem.
- “Está solteiro,
casado ou enrolado?”
- Estou só.
- “Até parece!”
Outra cotoveladinha
inconveniente. Percebi que ela era dessas.
- Sério! Solteiríssimo! Na pista!
A varejo! Self Service!
- “Ah... nem vem que
eu já conheço suas histórias pela Felina...”
Quando ela ia me dar
outra cotoveladinha, eu defendi...
... mas ela golpeou
no meu rim, com um pouco mais de força dessa vez.
- Tudo mentira ou
calúnia da oposição.
Enrijeci dois dedos e
espetei sua barriga tal qual um esgrimista.
Ela se encolheu.
- “Com essa cara toda
de cafajeste?”
Beliscou meu peito e
chutou minha perna.
- Pois é. Só tenho má fama e propaganda ruim.
Fingi que ia chutar
na altura do seu rosto, mas apenas dei uma caneladinha de leve, em sua coxa
direita.
- “Sei...”
Gingou na minha
frente com o cigarro no canto da boca feito o Popeye e tentou acertar meu
queixo com um soquinho de direita, mas eu esquivei.
- Na boa, vamos parar
por aqui... vou acabar te machucando.
Ela olhou para mim
igual aquele loirinho vilão do “Karatê Kid”:
- “Duvido!”
Deu um tapa na minha
mão jogando o copo de cerveja no chão.
Numa manobra Mestre splinteriana, devolvi o golpe, tirei
o cigarro de sua boca e ainda dei um tapinha na sua bunda.
Aí fudeu...
Caímos num Kung Fu
inacreditável e só paramos quando...
- “Tudo bem aí gente?”
Felina apareceu na
varanda com a cara vermelha de
pileque.
Recompus-me sem
graça, ajeite a camisa e baixei a guarda:
- Sim, claro, estamos
apenas brincando e...
Aí a psiconinja aproveitando minha distração,
deu um soco na minha costela e saiu fazendo careta, rindo:
- “Fraco!”
- Felina, essa menina
...
- “Não quero nem
saber, vocês que são loucos que se entendam.”
E desse dia em diante
foi sempre assim...
Toda vez que nos
encontrávamos em qualquer lugar que fosse, Mulher Kill Bill e eu ficávamos nos
espreitando, aguardando disfarçadamente entre drinks, sorrisos e canapés a
melhor hora para o ataque surpresa, numa dança tarantinesca que para alguns parecia apenas um baita tesão
enrustido.
Com o passar do tempo,
nossas lutas foram ficando bem mais loucas e Mulher Kill Bill foi se tornando
ousada, cruel, destemida e mortífera.
Numa festa, eu estava
voltando bêbado da cozinha com uma garrafa de prosecco na mão e duas taças na
outra.
Ela apareceu do nada,
jogou-me no canto da parede, pressionando o antebraço na minha
jugular.
Usando a tática “Gracie
Jiu Jitsu”, derrubei-a no chão, apenas com uma das pernas e com a outra travei
seu pescoço com o joelho.
Ágil, ela lançou a
famosa “Chave Cicciolina” e me imobilizou.
Como eu estava com as
mãos ocupadas, me rendi.
- Ok, essa você
venceu.
- “Sempre venço!”
Minha vingança veio
meses depois.
Estávamos todos os
amigos viajando na casa de praia da Felina.
(O maior reduto de loucos do Hemisfério Sul, incluindo
Tia Skol e Vovó Pirada, saudade no plural e infinita na memória.)
Quando de repente... quem
chega? Mulher Kill Bill e... o noivo!
Um cara sério, gente
boa e famoso no meio artístico.
Chegou na praia de
terno e gravata.
Sabia que dessa vez ela
ficaria quieta, então na primeira oportunidade que a encontrei sozinha pela
casa, escarneci:
- Olha, só para
finalizar já que você agora é uma mulher direita...
Dei-lhe um peteleco
na testa, virei as costas e ri gargamelticamente:
- Eu sou o Mestre.
Nem terminei a frase
e já senti uma voadora endoidecida nas minhas costas me jogando ao chão.
Seria proibida até no
Telecatch*.
- Ô maluca, o seu
noivo está...
Ela veio para cima
feito vilão do Homem Aranha.
Tive que dar uma
banda maculelê, mas ela já caiu virada na Edinanci*.
E a porrada estancou.
Eu de sunga, ela de
biquíni e todas as pessoas na varanda sem saber que uma luta greco-erotic-romana
acontecia na sala de estar.
Praticamente UFC na Banheira
do Gugu*.
Para não fazermos
barulho, as provocações eram sussurradas no calcanhar da orelha, mas a coisa
ficou quente mesmo quando o nó do laço da parte de cima do biquíni se desfez,
soltando os yakults
Se ela parasse para
amarrar ficaria vulnerável e seria o fim da luta.
Parti para cima, passei
a guarda e a prendi pelos pulsos sem chance de saída, crucificando-a no tapete.
Os seios libertos,
ofegantes e suados apontavam rígidos e pontigudos em minha direção, como se me acusassem de
algo.
Levantei a
sobrancelha:
- Quem é o mestre?
- “Sou eu!”
- Seu noivo vai
chegar a qualquer momento... Fala!
- “Me solta!”
- Quem é o mestre?
- “Sou eu!”
Dura na queda.
- Então... eu vou
morder seus mamilos.
- “Morde.”
Fiquei desconcertado e engasguei a respiração.
Mulher Kill Bill puxou
lentamente meu corpo de encontro ao dela e mandou feito uma lacraia sedutora em
meu ouvido:
- "Sabe o
que eu sempre quis fazer com você?"
- O que?
Mermão...
A taturana me deu uma
joelhada no saco que me fez voltar três encarnações, numa delas eu era eunuco.
Nocaute.
Levantou, amarrou o
biquíni, ajeitou o cabelo que estava igual ao da Glen Close em Atração Fatal e
finalizou:
- “Tststs... Homens
são tão bobos... Eu sou a Mestre!”
Deu uma risada de
madrasta da Branca de Neve e saiu vitoriosa de encontro ao noivo que estava no
quintal junto com o pessoal.
Nem viu a primeira
almofada cruzar a atmosfera em câmera lenta direto na sua cabeça.
Quando virou já tomou
a segunda na lata e caiu sentada na grama.
Peguei outras duas
almofadas, enrosquei as pontas nas mãos transformando-as numa espécie de
nunchaku.
Você viu Matrix?
Sem sacanagem, foi
uma sequência de trezentas almofadadas numa velocidade de 900 km por hora sem
chance de reação.
Ninguém entendeu
nada, muito menos o noivo dela que também tomou com uma almofada na cara antes que
falasse alguma coisa.
Foi uma surra sem
precedentes que entrou para história das surras.
Venci.
Muitos anos se
passaram... Nós amadurecemos... ela
casou
e eu fiquei noivo.
Foi num churrasco que
nos encontramos pelos freezers da vida.
- “E aí rapaz, tudo
bem?
- Tudo bem, e você?.
- “Conheci sua
mulher, ela é ótima.”
- Obrigado, seu
marido também. Cadê ele falando nisso?
- “Tá gravando, infelizmente não poderá aparecer.
- Porra, que pena.
- “É... Quanto tempo
a gente não se vê, hein? Você acredita que eu ainda guardo uma marca daquela guerra das
almofadas?
- Jura? Desculpe! Nós
éramos muito malucos, né?
- “Muito... inclusive... espero que sua noiva não seja ciumenta.”
- Por que?
Mulher Kill Bill com
aquele olhar de Norman Bates*, entrelaçou os dedos e estalou todos de uma vez
só: “PRACK!”
- “Tem dez segundos
para se preparar para uma revanche: um... dois...”
- Hahaha... nem
brinca...deixa de ser doida... imagina...
“... três... quatro...”
- A festa está cheia
de convidados, eles não vão entender...
“...cinco...”
Eu sabia que nada que
eu falasse, iria convencer a serial killer.
“... seis ...”
Minha
noiva sentada de pernas cruzadas com o quinto copo de caipvodka na mão, só
observava minha súplica.
- Amor... eu sei que
o que vai acontecer aqui pode parecer loucura, mas é coisa antiga,
brincadeira... Tudo bem?
-
“Eu tenho que participar?”
....sete... oito ...
-
Não.
“... nove...”
-
“ Então fiquem a vontade na loucura de vocês!”
“DEZ!”
Droga, eu estava
velho para isso...
Os amigos dessa vez fizeram
rodinha em volta e até apostaram dinheiro.
Mulher Kill Bill e eu
nos engalfinhamos de uma tal forma que saímos rolando pelo chão da festa.
Parecíamos dois filhotes de babuínos enviagrados.
Era soco, tapa, puxão,
chupão e pontapé para tudo que era lado.
Churrasco, suor e
cerveja misturado com batom e perfume francês.
Homem lutar com
mulher é prejuízo. Se você vence é covarde se perde é otário.
Decidi pela covardia.
- Peguei!
Encachei um mata leão
e comecei a sufocá-la de verdade.
- Quem é o mestre?
- “..... eu!”
Num bote ela cravejou todos os
dentes no meu ombro como se tivesse incorporada por um leopardo da Tropa de
Choque.
Nenhum dos dois
soltava, apesar dos hematomas e da dignidade e bom senso derretendo no chão
quente.
A gente ia se matar
de brincadeira.
- “Chega!”
Felina se intrometeu
pela primeira vez porque a coisa toda tinha ficado totalmente fora de controle.
- Os dois são Mestres...da
loucura extrema, pronto!
E separou a gente de
uma vez por todas, por anos.
Exatamente hoje,
quase uma década depois, estou passando pela rua e sinto uma lata de
refrigerante bater nas minha cabeça.
Era Mulher Kill Bill
com as duas filhas no carro. Passou rindo e apontando para o próprio peito, certamente
orgulhosa pela pontaria certeira.
- “Eu sou a mestre!”
Nota: Uma das lutas foi
gravada por um cinegrafista amador.
http://www.youtube.com/watch?v=Jpoki4wBwtA
O CONTA UMA É DE GRAÇA E SEMPRE SERÁ,
MAS COMPARTLHA AÍ COM OS AMIGOS, TÁ?
OBRIGADO!