quarta-feira, 11 de julho de 2012

TI-TI-TANIC



Sou conhecido pelo meu incrível poder de persuasão:
- ...Zuretta, entendo que você não queira ir, mas é fundamental a sua presença.
- “Não vou.”

Meu incrível poder de apelação:
- Porra Zuretta, por favor! Por tudo que a gente já passou juntos! Pela nossa amizade! Pela nossa história! Pelos sacrifícios que eu já fiz por você!
- “Não vou!”

E o maior poder de todos...O de ser chato para caralho!

- Justiça, verdade, honra e lealdade! Invoco o Código Thundercat! Zuretta, o Código Thundercats! Código Thundercats!

Aí não tem escapatória.

- “Puta que pariu...Tá bommmm, eu vou!"
- Eu te amo!
- “Mas você sabe que é muita sacanagem sua me pedir isso, né?”

O favor que eu estava pedindo era simples.
Há uns seis meses atrás, ele tinha transado com uma menina que era...Como posso dizer...Já deve ter um nome politicamente correto para o termo...
Bem, ela era vesga. E gaga. E chata.

Foi uma única noite de sexo e dois meses de martírio.
Até ela entender que ele não queria mais nada.
Eu sei...Que cretino, né?

Acontece que a Vespa era um chiclete daqueles que só sai da sola raspando o sapato no meio fio.

Foi quando...Vai rolar Flash Flash back, presta atenção:
- “Oi Angelo! Quaquanto tetempo!
- Oi Vespa, tudo bem?
- “Tudo bem. Essa é maminha Amiga Gostosa, ela é de Flofloripa e estátá passando as faférias comigo, conhecendo a cidade.
- Muito prazer! Seja bem-vinda Amiga Gostosa!

Amiga Gostosa era... Enfim!

- “E sasseu amigo Zuretta?”
- Está bem. Maluco...solteiro.
- “Ainda? A gente bem que popopodia sair os quaquatros? Será que ele totopa?”
- Totopa..quer dizer, topa, claro!
- “Amanhã na maminha casa?”
- Pode ser.
- “A gente fafaz um “esquente” dedepois vai para um babarzinho”.
- Perfeito! Vou combinar com Zuretta.
- “Vavai mesmo?”
- Vou.
- “Vavai nada!”
- Vou sim, deixa comigo!
- “Quequero ver.”

Entenderam?

- “Moleque, você vai ficar me devendo essa pelo resto de nossas vidas!”
- Cara, não precisa pegar a mulher. É só fazer companhia e sorrir.
- “Sorriso de mosca na teia.”

Fomos.
A Vespa morava no alto de uma subida, num lugar tão tão distante.

Tipo o castelo do Merlin, saca?

Escalamos o morro como cavalheiros que sobem para salvar a princesa do dragão.
Nesse caso eu iria salvar a princesa e Zuretta o dragão.

Os dois esbaforidos, enfim tocamos a campainha...
A Vespa abriu a porta com um sorriso...
Parecia que uma linha ligava o canto da sua boca a maçaneta.

- “Olá!”
- Hi!
- “Vejam só se se se não é o Sr Sussumido!”

Zuretta deu um sorriso de Monalisa.

- “Entrem! Amiga Gostosa está preprepreparando uns drinks.”

Hum...Gostosa e prepara drinks...É para casar, né?

Reparei que a casa toda estava meticulosamente preparada para o abate.

Meia luz. Meia calça. Meia taça.

A Amiga Gostosa já nos recebeu com dois copos de Cuba Libre.

Diz aí, tinha como não se apaixonar?

E ela tinha sotaque.
Geralmente eu gosto de sotaques, meu problema é que após duas horas conversando com a pessoa, eu pego o sotaque para mim:
- E tu vais ficar quanto tempo aqui na minha terra guria?
- “Quinze dias.”
- Nossa! Dá para curtir muito.
- “É só disso que eu preciso”

A Amiga Gostosa tinha acabado de tomar um chifre do namorado e estava naquele lema: Vou dar um troco naquele canalha dando para o primeiro cara legal que aparecer.

Nesse caso...Este hombre que vos vala.

Mesmo se não me achar legal, convenço a você que sou.

Então foram risos, charme, sedução e magia no ar.

Zureta fez o que estava no seu script:
Se besuntou de glacê, pôs uma cereja na cabeça e deixou a Vespa  sugar torrão por torrão, todo o açúcar da sua alma.

De vez em quando tentava me esfaquear com a menina dos olhos.

Numa hora me escorou na cozinha:
- “Vem cá, agora a gente já pode sair para outro lugar, né?”
- Sair para onde Zuretta? Você acha que elas querem mesmo sair daqui? Elas querem amor, Zuretta, amor.

Voz em off:
- “Tchutchucãoooo, prepapara mais um dridrink para meeim?

- “Escuta isso moleque!”

Tchutchucão foi foda.

- Ah! Tchuchucão...
- “Vou colocar cicuta no copo dela.”
- Não fala assim!
- “Tem razão, vou colocar no seu.”

Com cicuta ou não, tomamos tantas Cubas Libres que estávamos todos com a cara do Fidel Castro.
"Viva Cuba! Êêêê... Cubão!”

Locos!

- “Sabe de uma coisa? Tomara que o desgraçado do meu ex-namorado esteja feliz com aquela vaca!”

Dica: Quando uma mulher carente e com raiva começar a falar mal do homem, o mais certo é você tirá-la para dançar antes que o veneno estrague toda a carne.

Seja lá qual for a música que esteja tocando.

Por sorte era o sucesso da época:
My Heart Will Go On, com Céline Dion. tema do Titanic:

- Não chore por uma desilusão amorosa, pois se você se iludiu não foi um amor verdadeiro.

Tstststs...Canastrãããããããão.

Mas funcionou.

Tal qual uma jibóia esfomeada no cio enrosquei-me na lebre e comecei a mastigá-la pelas orelhas.

Zuretta também se entregou a sua sentença.

Os dois casais dançando. Estava muito romântica a cena.

Lembra do filme Titanic?
Tudo ia muito bem até a porra do navio bater no icerberg.

- “Angelo, você tem camisinha?”

Apresento-lhes meu iceberg.

Esqueci que a AIDS só desaparece do nosso corpo após o sexto encontro.

(OBS: Para os jovens que leem o Conta Uma, saibam que isso é uma piada. Usem sempre camisinha! É...Não usem drogas e se for beber não dirija!
Mas me chame!)

- Caramba, não trouxe.
- “Poxa...Então não vai rolar.”

O casco do navio rachando.
“Craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash”

- Só um minutinho por favor.

Fui correndo até Zuretta que estava com uma cara de quem ia comer um churrasco grego.

(Saca churrasco grego? Não? Procura no google, só!)


Sabia que não deveria, mas ia comer mesmo assim.

- Tem camisinha aí Zuretta?
- “CAMISINHA?????????????????????????????”

Falou alto e fez uma cara como seu eu tivesse perguntando se ele tinha uma roupa de escafandro estilizada pelo Romero Brito.

- É porra! Camisinha, conhece não?
- “Tenho nada! Comigo vai na veia mesmo!”

Com a sutileza de um hipopótamo numa piscina de bolas.

- Droga! Vou ter que sair para comprar.
- “HA! Onde? Até você descer esse morrão e voltar, a mulher já foi embora para Florianópolis, moleque.”

Foi aí que a Vespa com ouvido de tuberculoso, soltou lá do fundo das almofadas:
- “Angelo! Vavai com a babicicleta dodo meu irrrmão que está na gaga...garagem.”

Mandei um beijo como se ela tivesse me dado uma boa idéia.

- Amiga Gostosa! Eu já volto, tá?
- “Não demora, não!”
- Volto antes de você falar: supercalifragilisticexpialidocious

Vamos lá! Quem aposta que eu sou especialista em bicicletas?
Devia ser umas onze horas da noite, pouco iluminado, a porra do morro era uma descida satânica e mortal, a rua cheia de buracos, eu bêbado, de bota e camisa social para fora da calça jeans com cinto aberto.

Mas com o tesão de Carandiru...Encarei a super rampa

Montei na bike como quem monta um dromedário.

Assim que comecei a descer ouvi de longe Zuretta gritando desesperado da porta:
- “MOLEQUE! NÃO TEM FREIOOOOOOOOO!”

What? Apertei o freio e cadê?
Quem é o filho da puta que usa uma bicicleta sem freio?

Já era tarde.

Fui pegando rapidamente uma velocidade incrível.
No meio do morro eu devia estar, sei lá, uns 460 km.

A bike tremia mais que velha quando ganha em maquininha de bingo.


Minha camisa flutuando lembrava a capa do Superman.
Pessoas olhavam curiosas pelas janelas de suas casas o foguete da Nasa.
Lá no final da rua avistei um paredão branco onde seria minha lápide.

Lembrei da minha infância, dos meus amigos, da minha mãe...

Num último lampejo de instinto de sobrevivência.
Fiz o que qualquer homem faria:
Joguei a bicicleta num buraco.

E voei.

Ainda tentei me agarrar na lua, mas ela minguante, não suportou.

Espatifei-me no chão como uma compota de doce de abóbora.
Rolei ainda uns cinco metros e afundei a cara na lama.
Ironicamente em frente à única drogaria...Fechada, claro!

Meu amigo Zuretta desceu o morro atrás de mim como se os pés fossem skis.

- “Caralho moleque achei que você fosse morrer!”
- Não morri?

Sangrando, arrebentado e sem dignidade, subi o morro mancando.

Amiga Gostosa cuidou dos meus ferimentos com éter.
Dormi em teus colo, chorando feito criança, abraçado ao meu pênis, um consolando o outro.

Até que o oceano congelado ficou em silêncio.

Já Zuretta, "esperto", comeu a Vespa e ainda fez um filho nela.

Não me perdoou até hoje.

NOTA DO C.U: Gostou? Então publica no seu mural, no seu twitter, envia por e-mail, SMS, no boca a boca, me ajuda aê, tá?

6 comentários:

  1. MuuUiiito bom! Realismo fantástico distorcido por álcool e testosterona! Pela descriçao, eu acho que peguei a Vespa uma vez....

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  2. ahauahauahau!!! Muito bom!! Foi mal, mas fiquei com muito mais pena do Zuretta do que de vc!

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    1. Entendo. Nem se compara.
      Zuretta até hoje joga na minha cara.

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