quarta-feira, 18 de julho de 2012

Meu Sogro: Vagina Seca




Sogros fazem parte do seu relacionamento.

E o primeiro que eu tive parecia uma vagina seca.
Impenetrável.

Militar aposentado, mantinha sempre o mesmo semblante e suéter. Arrastava uma sandália de couro e usava o short do pijama sem cueca, revelando o seu famoso e murcho testículo esquerdo.

Sua guerra: Manter três fios de cabelo relutantes em cima da testa.

Tinha a rotina de um marcapasso:
Ia do quarto para mesa, do prato para o vaso, e da pia para cama.

Menos aos domingos.

Quando se permitia um único lazer:

Assistir ao futebol na poltrona, fumando cachimbo, bebendo Campari e comendo ovos cozidos com chuchu e parmesão.


Meu sogro era um velho clichê, eu sei.


Eu o chamo de sogro porque na minha época se você transava com a menina, levava ao cinema e conhecia os pais, estava praticamente noivo.

(Não nessa ordem!)


Minha sogra, Dona Carmem, por sua vez era um amor de pessoa.

Uma senhora elegante, inteligente e divertida. Tinha olhos gentis e cativantes que camuflavam os anos ao lado da estátua de carrara que era o marido.
Ela sempre se desculpava pelo jeito granoblástico dele:

- “Meu filho, Vagina Seca é assim mesmo. A última vez que sorriu foi no enterro de papai.
Humor negro.


Mas a verdade é que Seu Vagina Seca não ia com a minha cara.

Quando eu dava bom dia, ele dava um grunhido. Quando eu dava tchau, ele roncava.


Nunca tinha visto a cor dos olhos dele.


Quando passava por mim não se dirigia e quando eu ligava, não atendia.

Bianca era mais velha e muito mais maluca do que eu, mas como todo pai, ele achava que eu é que a levava para o mau caminho.


Depois de um tempo, desisti. Paciência.

Mas Bianca, insistia:

- “Quanto mais tempo isso levar, pior vai ficar!”
- Quer que eu faça uma serenata para ele?

- “Quero que você use o seu charme para conquistar o velho.
- Pois sim.
- “Você é naturalmente engraçado! Seja natural!”


Tão natural quanto um bobo da corte judeu tentando entreter Hitler.


- “Hoje tem jogo, meu pai é flamenguista igual a você. É um ótimo dia!
- Ótimo dia para um suicídio.

Ganhar a simpatia daquele homem seria como arrancar um ciso de um hipopótamo.


Eu queria mesmo era ver o jogo com a minha torcida.

Mas no fundo, aquele velho me irritava.

Mau humor me incomoda deverasmente.

Devia ser pecado capital no lugar da preguiça.

Cara, quer saber? Vou encarar o coroa.

Cheguei perto do sofá como quem não queria nada e fiquei em pé olhando para TV.

Ele nem piscou.

Quando o jogo começou, me adiantei e sentei num movimento só.

Ele pegou a mesinha com a garrafa de Campari e os dois ovos cozidos com chuchu, tirou e arrastou para perto dele.


Comecei tocando a bola pelo meio:

- É hoje, né Seu Vagina Seca!? Mengão hein!? A goleada vai ser de quanto?

- “É.”


O “Flecha de gelo” bicou a bola para lateral.


Fiz um lançamento:

- Adoro o Romário!
- “Eu não! É indisciplinado e prepotente”.


Hadouken! Foi nas minhas pernas sem bola.

Já levantei batendo a falta:

- É, mas na pequena área ele é um mestre!

- “Prefiro o Sávio que é um exemplo dentro e fora do campo.”


Acendeu o cachimbo dando seguidas baforadas e o vento jogava toda fumaça na minha cara.

Cartão amarelo.


Achei melhor jogar pela lateral.

- Acho cachimbo curioso. Tem que tragar igual a cigarro?

 - “Não.”

Aumentou o volume da TV.

Ele era mais escroto que peido em elevador.


Sem mais, deixei o grilo cantar: Cri...cri...cri..

E o tempo passava jabutinescamente, enquanto eu tentava, em vão, decifrar aquela esfinge sentada ao meu lado.


Foi assim até o juiz apitar.


Mas eu tenho Fair Play:

- Vou até a cozinha, o senhor quer alguma coisa?

- “Peça a minha esposa mais um tira gosto, por favor.”


Mãe e filha estavam na torcida, se divertindo:

- “E aí já são amigos?”

- Ele é tão sério que chega a ser irônico.

- “Você está muito nervoso meu filho! Tem que ser mais ousado. Vou te contar, ele acha que sabe de tudo! Experimenta deixá-lo curioso.

- Jura?

- “É assim que eu sobrevivo.”


Voltei para o segundo tempo com a cabeça quente e o petisco frio não mão.

Scaneando meu cérebro jovial atrás de alguma sacada original e interessante.

Não achei.

O jogo recomeçou e eu optei pela retranca.
Botei o pratinho na mesa e afundei no sofá como quem deita na lama.


Num lampejo de gentileza, ele me ofereceu o petisco:

- “Aceita um?”


Opa! Um espaço.

- Aceito sim, obrigado!
Peguei um ovo cozido e antes de abocanhá-lo, do nada, mandei de fora da área com o goleiro adiantado:


- O senhor sabia que o chuchu é uma fruta?


Seu Vagina Seca quase se engasgou.


Cruzei as pernas como se fosse o Sigmund Freud do chuchu:

- É uma fruta!

- “Está enganado. O tomate que é um fruto.”

- O tomate e o chuchu.

- “Nunca ouvir falar nisso!”


Cheguei perto como quem divide um segredo:

- É que poucas pessoas sabem.


Mandei o ovo pra dentro de uma vez só.


Romário bateu e GOOOOOOOOOOOOOL...
Um a zero para o Flamengo.


Eu pulei e gritei de alegria.

Seu Vagina Seca comemorou mais ameno, fechando os punhos para cima.


Ele realmente ficou curioso...
- “Interessante esse negócio aí do chuchu...”

- É né? E não é só ele. A berinjela, o pepino, a abóbora e o pimentão também são frutas.

- “Mentira????”

- Pois é! Li na Larousse Cultural.


(Em 3.200 A.C, pessoas batiam de porta em porta vendendo coisas.
Eram Livros, Yakult ou Testemunhas de Jeová.

Minha mãe comprava livros e Yakult.)

- “É...Esqueci o seu nome, perdão?”

- Angelo.

- Aceita uma bebida, Angelo?


Hummmmmmmmm....Claro.


- “Gosta de Campari?”

- Não conheço muito.


Contra-ataque:

- Não acredito! Não conhece?

Levantou-se para pegar um copo para mim.


- “... Minha família é italiana. Toda vez que bebo, lembro do meu pai que sempre contava a história. Foi inventada por um garçom, Gaspare Campari, que nas folgas experimentava receitas. Tem mais de cinqüenta ingredientes e ainda hoje, é preparada com a mesma composição original, graças à fórmula que foi guardada em segredo absoluto por mais de 100 anos.


Serviu- me de um copo e pôs na minha mão.


Jogando de sapato alto, tentei roubar-lhe a bola novamente:

- É o caso da Coca-Cola que...


Ele segurou meu braço com força e pegou o copo de volta, sério:

- “Escuta aqui! Coca-cola é para moleques; Campari é para homens.”


Tomei um susto.
Ele percebeu o silêncio na minha garganta.
Pela primeira vez vi a cor dos seus olhos.

Eram da cor da bebida: Vermelho.

- “Qual dos dois você é? Homem ou moleque?”


Era sobre maturidade, bebida ou a filha dele?

Peguei o copo de volta bem devagar, sorrindo:

- Sou homem.


Virei tudo de uma vez só.

Mermão...
Já tomou Campari?

Puta que pariu!  Que troço ruim!

Parecia perfume, remédio e veneno.

Foi um amargo na língua, uma ardência na garganta e um enjôo no estômago.

Com a mesma velocidade que bateu, voltou.

Vo-mi-tei no ta-pe-te.

Não sabia se era sangue ou só a bebida.

As mulheres vieram correndo assustadas?

Seu Vagina Seca dava tapinhas nas minhas costas e ria.
Riu muito. Gargalhava, o canalha.

- “Não foi nada, só o menino que ainda tem muito que aprender.”


Eu, tossindo, só acenei que estava bem.


- “Quer uma Coca-cola?”


Gol do Sávio. Flamengo 2 a 0. Campeão invicto.
Seu Vagina Seca pulava e gritava de alegria.

Eu comemorei mais ameno, fechando os punhos para cima.
Nunca mais bebi Campari na vida.

NOTA: GOSTOU? Divulga para mim? Se publicar no seu facebook, me marca para eu rezar por você.
Mas pode ser também por twitter, E-mail, SMS, fofoca, mesa de bar...
Bjs

9 comentários:

  1. "Vo-mi-tei no ta-pe-teeeeeeeeeeeeeeeeeee."


    ...E NESSA HORA EU QUASE VOMITEI DE RIR!
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!

    ResponderExcluir
  2. Não gostou dessa? Então depois eu conto a da sogra que tentou me matar com o gato.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. AMEI. SÓ NÃO GOSTEI DO APELIDO DO SOGRO. É DESRESPEITOSO,GROSSEIRO E PRECONCEITUOSO COM UMA SETENTONA QUE ADMIRA VC E SEUS ESCRITOS.

      Excluir
    2. Lisonjeadíssimo por saber que tenho uma fã com tantas primaveras. Que bom que amou!
      Vagina seca não foi uma crítica às mulheres idosas, nem a nenhuma mulher e muito menos à vagina.
      Acontece.
      Um beijo!

      Excluir
  3. Ai ai Angelo,

    Concordo com vc, campari é muito ruim e quando eu bebi uma vez nunca mais quis beber isso em toda minha vida.

    Risadas matinais encontro por aqui!

    Bjs

    ResponderExcluir
  4. Hahahahaha! Eu sou sua fã cara! Quando eu li campari, já sabia que ía dar merda. Campari é a pior bebida do mundo! E olha que eu moro na Noruêga e aqui tem um tal de "karsk" que é fabricado em casa. É quase alcool puro q eles colocam no café amargo. Nem um Rickstasy derruba como isso. Parabéns pelo blog. Vc é demais.

    ResponderExcluir