sábado, 25 de agosto de 2012

ENFEZADO



Eu, acordar de mau humor, é mais raro que negro em episódio de Friends.

Mas quando acontece...

Esta semana teve um dia que despertei travado na taturana.
Não sei se foi sonho ou pesadelo que eu tive, mas acordei aborrecido com tudo.
Mal.

Chamando Chapeuzinho de Mun Ha.

Tomei banho de cara emburrada e joguei a toalha molhada no chão. 
Nem fiz a barba para não ter que olhar para nenhum preto.
Nem fiz cocô.
Vesti a roupa resmungando e dei um peteleco no peixe do aquário.
Apertei o botão do elevador com um soco.

O porteiro do meu prédio me deu bom dia e eu nem respondi.
Não queria falar com pobre.

O dono do bar botando a mesa para fora também tentou ser cordial.
Não queria falar com nordestino.

O judeu dono da loja de quadros me deu um alô singelo.
Fingi que não vi.
Não queria falar com judeus.

Estava com um humor nazístico!
Dando banda em manco.

- Vou comer uma parada.

O senhorzinho dono da padaria da esquina veio se chegando todo sorridente.
Virei a cara!
Não queria falar com velhos também!

Fui direto ao balcão, apontei para o salgado mais obeso e falei igual ao Tarzan:
- Mim quer esse!

Quase assim.

O balconista é gay enrustido, abusado e metido a piadista do Zorra Total.
Falou rindo:
- “Catchup?”

Ele disse “catchup” como se fosse: “Quer que te chupe”, sabe?

Fiz que não com a cabeça.
Não queria falar com enrustidos.

Enquanto eu esperava a lerdeza da Rainha do Deserto pegar o meu salgado, reparei com o canto do olho, que um bebezinho no colo da mãe apontava para o meu cabelo.

- “É filho! É o cabelo do rapaz.”

Ignorei.
Não queria falar com bebês.

Só quero comer.

Sabe os dois segundos que antecedem a primeira mordida que você vai dar naquele suculento enrroladão massarancudo repleto de presunto, queijo e cebola, super calórico e gorduroso que fica sempre te chamando na vitrine da lanchonete?
O queijo derretido escorre pelos dedos e você ainda lambe para limpar.

Pensamento obeso, eu sei.

Por um pentelhésimo de segundo, pensei até em devolver o salgado e pedir só uma vitamina.

Acho que vou fazer isso...

- Tem mostarda?
- “Tem!”

Eu não sei de quem foi a infeliz ideia de acabar com as bisnagas de molhos.
Nunca consigo abrir a merda desses sachêzinhos.
Com a mão oleosa então...

Tentei o primeiro, tentei o segundo, tentei o terceiro sachês e nada!

Está escrito: “Rasgue aqui!” mas é tudo mentira!
Tentei arrancar um pedaço com o dente.
Droga...

Desisti!

Comi o salgado de uma só vez, estilo o Dudu do Popeye.
E, diabodatasmaniamente, pedi outro.

- “Benza Deus!”

Um gordo com cheiro de gorgonzola emerge ao meu lado, feito um submarino.
Não queria falar com gordos.
Não queria falar com ninguém! Não sei o que me deu esse dia.
Geralmente sou um amor.

Será que pensei em voz alta?

- Oi?
- “Benza Deus! Eu era assim igual a você, comia de tudo!”
- Hum...
- “Comigo não tinha tempo ruim! A qualquer hora do dia eu comia besteira.”
- Hum...
- “O problema é que depois dos trinta, o corpo fica preguiçoso.”
- É.
- “Começa a aparecer a tal barriguinha...”

Deu apontou para minha barriga. Acredita?

E resolveu que a gente ia conversar.
Eu não estava para papo, mas não teve jeito.

- É, né.
- “Depois que a gente começa a engordar meu amigo, é uma luta para emagrecer.”
- Pois é!
- “Eu mesmo tentei de tudo.
- “Herba Life...”
- “Ginástica...”
- “Dietas....”
- “Macumba...”
- “Uma vez fiquei quinze dias só comendo abacaxi e...

Ele não parava de falar.
E eu imaginando uma forma de enfiar o frasco de adoçante na garganta dele e ir empurrando com o dedo até o esôfago...

- ...”Mas eu só fui emagrecer mesmo com essa fórmula milagrosa!”

Han? Como é que é? O que ele disse?
O sacripantas dava quase dois de mim. 

Cite três coisas que me incomodam:
1.    Gordo me chamando de gordo.
2.    Gordo me dando receita de regime.
3.    Gordo achando que está magro. Igual o Zeca Camargo.


- “...Inclusive eu vendo!”

Sacudi a cabeça e me situei na conversa.

- Vende o que?
- “Vendo Óleo de Cardume.”

Não foi óleo de cardume que ele disse, não...
Esqueci o nome... Óleo de cágado? Não...
 Óleo de Cártamo! Acho que era isso!

- “Eu vendo Óleo de Cártamo!”

Mermão... e num é que o maluco me abre uma bolsa cheia do produtos e vem cheio de papinho de Lípase Lipoproteica para cima de mim.

Dá para levar a sério gordo vendendo remédio para emagrecer?

- “É baratinho! Por...”
- Não me interessa!

Decididamente eu não queria falar com vendedores.
Virei às costas e fui embora até o caixa.

O desgraçado fica aliciando pessoas gulosas em padarias.
Chamando os outros de adiposo.
Isso ofende.

Cheguei no trabalho mais enfezado ainda.

De repente me bateu uma cólica que arrepiou os cabelinhos da nuca.

Fui ao banheiro e desencarnei.
Todo mal que estava em mim foi exorcizado.
Descobri que todo o meu mau humor era só intestino preso.
Só aí que realmente fui entender a origem da palavra: enfezado.

Quase que voltei na padaria para mostrar minha barriga verdadeira.

Apesar que...

Bom...

Tem uma barriguinha mesmo, né?

Enfim...

Depois dos trinta, sabe como é?

Cervejinha e tal.

Puxa...Será que eu estou adiposo, mesmo?

Não devia ter falado com ele, realmente.

Para GALERA que curte O CONTA UMA 
Saibam que ele vai virar livro!
Estou reescrevendo algumas histórias, lembrando outras e guardando umas inéditas que...Bom! Vocês vão ver!
Espero que entendam os atrasos na postagem do blog.
Não troquem de canal!
Continuem divulgando para me ajudar.
Abraços!

Angelo Morse
(O dono do C.U)

sábado, 11 de agosto de 2012

LOBO MAU


- “Angelo!”
Saca aquele tipo de pessoa que frequenta sempre o mesmo bar?

- “Angelo!”
Até vai a outros, mas necessita ter sempre um bar cativo ?

- “Angelo!”
Sou desses! 
Sei lá, sabe aquela coisa do chegar, e só pelo olhar o garçom já saber exatamente o que você quer, saca?

- “Angelo!”
Existem pessoas que passam a vida à procura desse tipo de ligação com alguém, seja com os pais, com os amigos ou até mesmo com quem divide a cama.

- “Angelo!”
Segundo Freud, o fato de...

- “ANGELO !”
- Que susto, Guerrero!
- “Tá falando sozinho, maluco?”
- Não, estou falando sozinho, estou falando...Deixa para lá!
- “Olha só! Não começa de maluquice, porque a parada é séria.
- Estou sabendo! Garçon! Mais um copo, por favor!
- “As mulheres estão no papo, não vai estragar!”
- Fica tranquilo!
- “Recapitulando: a loira é medalha de ouro em espetaculosidade, mas é minha! A amiga que ela vai trazer, é sua.”
- Eu já entendi.
- “É bom deixar bem explicado, porque eu te conheço!”
- Mas vem cá, você já explicou essa regra para elas?
- Eu estou trabalhando nessa mulher há dois meses e já está tudo certo. Agora... A amiga vai depender do seu talento, garoto. Mas você sabe? é mole!

Guerrero era um daqueles caras que acham que não existe mulher difícil, apenas, mal cantada.
Por conta disso ele dava em cima de todos os seres com vagina da galáxia, secretárias eletrônicas e manequins de loja.
Confesso que eu sempre o admirei por tamanha determinação, mas com o tempo, comecei achar esse comportamento um pouco chato e cansativo.
É que nem sempre, quando eu estava com ele, tinha disposição para parecer interessante e charmoso.
Tem vezes que a gente só quer sentar no bar, bater um papo e ver gente bonita passar, para lá e para cá. Só isso!
As mulheres fazem isso muito bem, há anos.
Mas homem tem uma necessidade de auto-afirmarção primitiva, infantil e quase esquizofrênica.
Em qualquer idade.
E para Guerrero, a vida era um campo de batalha cuja vitória só se concretizava quando uma mulher estava em sua boca.
Só faltava ele sacudir a vítima para um lado e para o outro, feito um Tiranossauro Rex.

- Você conhece essa mulher da onde?
- “Ela vende Avon lá no trabalho.”
- E a amiga?
- “A amiga é Mística, não tenho a mínima idéia de como ela é!”

Mística é um personagem do X Men com o poder de se transformar em qualquer pessoa, isso queria dizer que eu deveria estar preparado para tudo.
De Sininho a Capitão Gancho, passando pelo Crocodilo com o relógio no estômago.

- Porra, Guerrero!
- “Se liga! As presas estão vindo encontrar com a gente já sabendo da intenção luxuriosa da nossa parte. Se você quiser pegar a mulher, você pega, se não o problema é teu, só preciso que você harmonize o ambiente.”
- Está achando que eu sou Feng Shui?
- “Olha elas ali, se comporta!”
- Quer que eu enfie um incenso no ouvido?
- Cala a boca!

Mermão, a Mística era uma mulher normal e agradável de olhar.
Mas a vendedora da Avon era ...Nababesca!
Paralisou todos os músculos dos machos do bar.
Ela tinha um corpo violinístico, parecia uma princesa! Tinha olhos cinzas flamejantes, umas pernas bronzeadas e bem torneadas, seios rígidos e protuberantes, o pé combinava com o calcanhar, um sorriso hipnotizador e uma bun...
 Desculpe.
Na verdade estou me perdendo por que essa história nem é sobre ela.

Voltando ao assunto:
As meninas eram legais, o chope foi descendo e a gente ficando alto.
Papo vai, beijo vem...

- “E agora? Vamos para outro lugarzinho?”
 Insinuou Guerrero com uma cara de Calígula.

No mesmo minuto, a Mulher da Avon atirou-se em frente a um táxi, puxou Guerrero para dentro e sentenciou:
- “Hoje você é meu!”

Deu tesão e medo. Igual eu sentia quando via a Lúcia Veríssimo.

- “Então, , né?”
Disse Guerrero, com o sorriso V de vingança, me dando tchauzinho.

Nunca mais ele apareceu.
Mentira, apareceu sim.
Mas essa história também não é sobre ele.

Ao meu lado, no meio da rua, Mística estava menos atirada que a amiga:
- “Pessoas animadas, né?”
- Muito!
- Bom, mas e a gente? Vamos fazer o que?

Ingenuamente passei a bola para ela em vez de chamar um táxi e seguir o mesmo destino do Guerrero.

- A gente podia tomar uma saidera na minha casa. Topa?

Cesta de três pontos.

- Ué... Pode ser.

Ereção.

- “Mas olha, eu preciso que você seja discreto.”
- Se tem uma coisa que eu sou na vida é discreto.

Discreto como um avestruz no cio com um sino no rabo.

- “É que eu não levo qualquer um para lá, sabe?”

Maturidade, maturidade...

- Faz você muito bem! É perigoso mesmo! Hoje em dia o que não falta é homem aproveitador, tarado, estuprador, psicopata...

Senti que exagerei e que estava atirando no próprio pé.

- ...É melhor a gente levar cerveja, né?
- “Tem bebida lá.”

Lateja a pélvis.

Mística morava sozinha a apenas cinco quarteirões do bar.
Nessas horas eu era muito religioso
“Obrigado meu Deus por mais essa glória...”

O coração já estava batendo igual Carlinhos Brown na lata.

- “Pronto, chegamos!”

Botou a mão na maçaneta e brecou:
- “...Antes de mais nada, eu preciso te falar uma coisa.

Pronto, lá vem o Conta Uma...
- O que?
- “Vou te apresentar uma pessoa, mas ela é um pouco ciumenta.”

Ô, ô...

- Ué, você não mora sozinha?
- “Não.”
- Mora com quem?

Por mais incrível que pareça, essa história não é sobre Mística também.

Quando ela abriu a porta da sala, dei de cara com a seguinte cena:
 Um russo gigante, largadão nas almofadas, embaixo de quatro ventiladores, com as pernas abertas, lambendo seu ânus.

Essa história é sobre ele.

- “Cadê o namorado da mamãe?! Cadê o namorado da mamãe?!”

Um Husky Siberiano cinza com olhos azuis, igual um lobo.

- “Vem Lobo!”

O cão veio babando com a boca escancarada como se a mulher fosse um rosbife, malandro.
Mermão, só a linguada que ele deu na cara dela me deixou acuado.

Afinal ele tinha acabado de lamber o cu, faça-me o favor!

Confesso que não faço o tipo: Apaixonado por cachorro.
Eu até acho interessante essa coisa deles mastigarem as próprias bolas.
Sei lá, eu penso que na vida, poderia se útil...
Numa fila de banco enquanto espera ser atendido.
Ou numa sala de aula. No elevador.
Para passar o tempo, sabe?
Enfim.
O que eu não gosto dos cachorros é essa necessidade que eles têm de ficar pulando em cima da gente, cheirando tudo e latindo.

- “Ele num é lindo!"
- Muito lindo.

E era mesmo.
Fiz um carinho no cão como quem faz num moleque cabeçudo.
Ele não gostou muito.
- “RUF!”
- “Lobo!”
- Opa!
- “Num disse que ele é ciumento?”
- Se você fosse minha dona, eu também seria.

Amanteiguei estilo Wando.

Fui dar um beijinho nela...
- “RUF!”

Ele me empurrou e deu uma abocanhada no ar, onde estava minha mão, saca? Numa artimanha canina...

- “Pode deixar, que ele não morde, não.”

Odeio quem fala isso.
A arcada do cão deve ter uns quatrocentos dentes.
Claro que ele morde. É só querer.

- “RUF!”
- “Pára! Lobo!”
- “RUF!”
- Ele foi treinado pelo seu pai ou pelo seu ex-namorado?
- “Bobo!”

Macho é macho em qualquer espécie. (Profundo isso...)
Percebi que ele estava apenas defendendo o território.
A casa escura, pequena e com móveis de madeira, parecia uma toca.

- “Você prefere um vinho?”
- Aceito sim.

Quando ela saiu me peguei discutindo com o Lobo:
- Qual é Lobo? Vai me atrasar? Presta atenção! Eu vou transar com a sua dona e você não vai me atrapalhar, está entendendo?

Ele rangeu a mandíbula, baixinho, quase imperceptível:
Grrrrrrrrr...
- Nem que eu tenha que mijar a porra do chão da casa inteira.
Grrrrrrrrr...
- Nem que eu tenha que lutar com você até a morte.
Grrrrrrrrr...
- Nem que eu...
- “Está falando sozinho, Angelo?”
- Reparei que os olhos dele mudam de cor, né?
- “Sim, de acordo com o tempo.”
- Que maneiro! Igual àquele galo português.
- “Rsrsrsrs...Mais ou menos.”
- Grrrrrrrrr...

Ela veio com duas taças daquele vinho de garrafa azul, lembra?
Ibrahimovic...Mitsuplic...Era um vinho famoso que todo mundo bebia, mas hoje sabemos ser de qualidade duvidosa, assim como todos da minha época...Como era mesmo o nome?...
Liebfraumilch!  Lembrei junto com o Google.

Peguei uma taça e sentei no sofá.
Lobo pulou e se posicionou ao meu lado como se fosse meu amigo.
Mas não é o Lobo que é o melhor amigo do homem, é?
Mística sentou e o Husky ficou bem no meio da gente.
Batendo, sorrateiramente com a cauda das minhas costas.
Como quem diz: “Vamos ver quem ganha essa, mané!”

- “Deixa eu dar uma atençãozinha para ele”

A forma kamasutriana como ela rolava e fazia carinho no cachorro me incomodava.
 - “Quem é o namorado da mamãe?”

Isso também.

O fato é que ele já tinha tido mais contato nas partes íntimas do que eu.
Eu sei que é maluquice, mas ele me olhava de rabo de olho. Rindo.
A casa, muito pequena para se criar um animal daquele porte, fedia a cachorro. Fedia mesmo!

- Bom, pelo visto, perdi a Chapeuzinho para o Lobo, né?

Com sorriso amarelo.

- “Ahhhhhh...Que nada!  Vem cá.”
“RUF”
- Acho que você vai ter que prendê-lo.

Mermão, o cachorro foi para área de serviço como quem vai para a câmara de gás.
“Au, au, au, au, au, au, au, au, au, au, au, au, au, au, au...”

E o tempo que a gente passou no quarto, o cachorro ficou chorando.
Impossível ter um desempenho satisfatório assim.
Dava para sentir que a mulher estava sofrendo, saca?
Enfim...Dormimos.

- “Amanhã de manhã eu te recompenso.”

Acordei de manhã com a língua dela em minha orelha, passando as unhas nas minhas costas, rolando o pênis duro na minha perna...
O que?
- Lobo, seu filho da puta!

Dei um salto da cama e uma chute no cachorro que ele voou longe.
“Caim, caim, caim, caim...”

- “Han, han? O que foi?!”
- O que foi, é que seu cachorro estava me molestando, porra!
- Ah! Angelo, ele só estava acordando a gente.

Se era assim que ela acordava todos os dias, estava tudo explicado.

Cara, nessa hora, com o os raios de sol adentrando pela casa, deu para ver os milhões de pêlos e ácaros flutuando pelo ar.
O cheiro do cachorro impregnado no ambiente.
Comecei a espirrar. Crise alérgica mesmo.

- Vou embora!
- “Que isso, menino! Deixa de bobeira.”
- Tchau.

Cadê minhas roupas?
O desgraçado do Lobo tinha feito um ninho com elas e mastigado um pé do meu sapato.
Parti para cima, mas ele se escondeu. Eu ia matar.
Vesti o que sobrou das minhas coisas e fui embora passando mal.
Na verdade eu espirro até hoje.

E no meu telefone tinha uma mensagem do Guerrero:
- “E aí? Transou com a gata?”  
 R: Não. Com o cachorro.

Até hoje sou traumatizado.


NOTA: Se a Coca-Cola ainda faz propaganda, 
quem sou eu  para não fazer, né?
COMPARTILHA PARA MIM
(E não esqueça de me marcar para eu saber.)
Divulgue para os amigos e inimigos, comente no blog se conseguir, envie o C.U por e-mail, Twitter, por SMS, tatue-o na bunda, grite pela rua, sei lá...

Ah! E tem também minha FANPAGE.
Preciso dar mais atenção para ela.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

DETRANSVIADO


Desculpem o intervalo do Conta Uma
Voltamos com nossa programação normal.

“Aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância.”
Dalai Lama

Às vezes é melhor escrever para exorcizar.

SEGUNDA:
Meu primo de dezoito anos que mora no interior, veio para cidade resolver umas questões e me passou uma cantada:
- “Primo! Aproveitando que eu estou na sua terra, você bem que podia me levar para conhecer esse mundão aí. Olhar as paisagens; a mulherada; tomar uma gelada na orla da praia...”

Eu estava enrolado com um projeto, mas não iria decepcionar meu parente distante, né? Olhei para o relógio: 15h.
- Mas só se for agora! Entra aí!
- “Ô beleza!”

Andamos cem quilômetros e nos deparamos com uma blitz da lei seca.
Bom, tinha reboque, o DETRO e coletes da lei seca, mas senti falta do balão e dos cadeirantes.
Parecia então, uma blitz normal.
E eu NUNCA sou parado em blitz.
- “Parado aí, cidadão.”

Eu tenho policiafobia. Não é porque sou negro, não.
É só medo de acharem uma pistola no porta-luvas, um saco de cocaína embaixo do banco ou um defunto no porta-malas. Sei lá!
- Pois não, seu policial.
- “Documento do carro.”
- Está na mão.
- “’Tá na mão, mas está com a vistoria vencida.”

Merda...Mulambolei!

- Mas eu juro que está agendada policial...
- “Não importa! Magrão! Mais um para o reboque.”

Cu fechando, joelho batendo, percebi que teria que usar do meu charme:
- Seu policial, eu entendo perfeitamente que...
- “Cidadão, o senhor está vendo aquele monte de gente ali?”
- “Todo mundo tem uma história para contar. Não quero ouvir nenhuma!”
- Mas...
- “Pode lacrar, Magrão!”

Magrão era um carrasco do DETRAN, que se achava o presidente.
- “Aí pretinho, tira tudo do carro, seu carro vai ser rebocado.”
- Só um minutinho, eu estou tentando...
- “REBOCADO.”

Tirei meus óculos para desintegrá-lo com meu olhar de raio laser.
Não tenho esse poder.

CARRO LACRADO E REBOCADO.

Nada doeu mais que as palavras do meu primo:
- “Porra primo! Achei que tu era O cara!”
- Como pode ver, não sou.
- É melhor andar de cavalo.

Magrão levou o carro e dava para ouvir seus gemidos de prazer.
- Amigão! Como é que eu pego o carro de volta?
- “Fácil! É só pagar as multas e ir ao depósito.”

Fácil seria te esfaquear e ir embora de carro, assobiando Patience.

DETRAN é o local cujo os espíritas chamam de Umbral.
Você vê as pessoas, mas ninguém te enxerga, ninguém te ouve, e você fica vagando, sem destino, sofrendo...

- Olááááááááá´!?

Sozinho.

Até que aparece um morto-vivo:
- “Já pagou as multas?”
- Oi? Ah sim, não tem nenhuma multas.
- “Aqui diz que tem cinco multas”.
- Ué, mas no site...
- “Duas em 2010, uma em 1994, uma em 1978 e uma em 3.000 A.C”
- Puxa vida mas em 3.000 antes de cristo eu nem...
- “Paga lá e volta, por favor.”

Saí papaléguasmente rumo ao banco.
Paguei e voltei, suado, para fila do Umbral.
Fila, não! Era uma aglomeração onde cada um determinava a sua vez.
Nessas horas meu cabelo sobe uns dois metros e minha voz três tons.

Quando chegou minha vez, o Morto-Vivo manda com a cara mais lavada:
- “Agora tem que esperar as multas saírem do sistema.”
- Como assim, elas estão aqui na minha mão, pagas!”
- “Agora tem que esperar as multas saírem do sistema...”
- E quando é que eu posso voltar?
- “Agora tem que esperar as multas saírem do sistema...”

Sua mãe é cafetina em que zona mesmo?

- “Agora tem que esperar as multas saírem do sistema...”

Mentaliza o azul...Cadê o Dalai Lama quando se precisa dele?

TERÇA:
Umbral

-  Saiu do sistema?
- “Saiu.”
- E agora?
- “Estou vendo que o carro não está no seu nome.”

Comentei que o carro está em nome da empresa do meu sogro?

- “Preciso do contrato social da empresa com duas xerox autenticadas, três xerox autenticada do RG do dono da empresa, cinco xerox autenticadas da xerox do CPF xerocado do dono xerocado da empresa, os três últimos CNPJ da firma, um exame de sangue do dono da empresa, três pentelhos virgens da parte esquerda do saco escrotal do dono da empresa, a pedra filosofal do Harry Porter, dois cílios de unicórnio, um dente de leite do Oscar Niemeyer, um pirulito de morango daqueles que você molha no pozinho antes de comer, e um atestado de óbito de Jesus Cristo de Nazaré em duas vias autenticadas em cartório.
- Poxa vida, meu sogro está viajando. Não tem outra forma?
- “Preciso do contrato social da empresa com duas xerox autenticadas...”
- Tá, tá, já entendi!

Tudo bem. Compreensível.
Demorei um dia para conseguir tudo.
Confesso que achar o tal pirulito de pozinho foi o mais difícil.
Mas achei.

QUARTA:
Umbral

- Pronto Seu Morto-Vivo! Está tudo aqui.

Mermão...O filho de Macunaíma leu a porra dos documentos todos,  página por página, linha por linha.
 Enquanto isso, o pessoal da “fila” me amaldiçoando.

- “Olha só! Eu disse três pentelhos, aqui só tem dois.”
- Não, não, tem três, deve ter caído um por aí.
- “Tem razão, está aqui.”
- Ufa! E agora?
- “Agora só falta uma coisa.
- Mais uma coisa?
- "Só falta uma procuração do dono da empresa em seu nome.”
- WHAT?
- “Um documento registrado que comprove sua ligação com ele.”
- Cara, eu tenho o comprovante de compra e venda do carro! O carro estava comigo! Eu teria todos esses documentos que você me pediu se não tivesse ligação com o dono da empresa?
- “Não posso fazer nada.”
- Ele é meu sogro! Eu durmo com a filha dele! Quer a certidão de casamento?
- “Não posso fazer nada.”
- Cara, ele está viajando lá na França! Não tenho como pegar uma procuração dele!
- “Manda ele se dirigir até o consulado e passar uma procuração por fax.”
- Fax? Que fax cara? Ele está em Veneza, passeando de gôndola!
- “Manda um e-mail para ele.”
- Ele está em cima da pirâmide de Quéops!
- “Consulado.”
- “Ele está na terceira lua de Júpiter!”
- Procuração.

HADIFJADSLFADSLINFVDAS;FJLDSFVNUSDLFDJLFU;LFUDLVMUFSÇL!!!!!

Pulei em cima dele, enfiei a mão dentro da sua boca até o ânus, puxei quatro pregas pela orelha dei quatro nós e enfiei de volta pela uretra.
Quem dera.

- Por que você não disse isso quando eu vim aqui da primeira vez?
- “Não posso fazer nada.”

Dalai Lama, Dalai Lama, Dalai Lama, Dalai Lama...

- Sogro! Você volta quando?
- “Depois de amanhã, por quê?”

Cada dia que o carro passa lá dentro você paga uma taxa de 40 pila$.

- É que eu preciso de uma procuração sua em meu nome.
- “Porra Angelo! Você tem uma.”
- Tenho?
- Tem, claro! Procura!

Procura a procuração.

Lembram-se do projeto que eu estava envolvido lá no começo da história?
O dia seguinte era o último para entregá-lo.
Terminei-o de qualquer jeito e fui à caça do tal documento libertador.

Feito Vampiro atrás de mulher menstruada.

Após vasculhar todos os esconderijos... Achei!
- Não acredito!

Foi como se eu tivesse encontrado meu doador de medula.

QUINTA:
Umbral.

Cheguei no DETRAN igual o Napoleão Bonaparte.

- Seu, Morto-Vivo!
- “Pois não!”
- Aqui está a procuração do dono da empresa em meu nome!

Aí fiz o que qualquer homem maduro faria: A dancinha do Pica Pau


- “Deixa eu ver essa documentação de novo.”

E num é que o Morto-Vivo, chupador de fimose dos diabos, que tinha lido tudo anteriormente, releu tudo novamente? 
Acredita nisso?

Dava tempo de se assistir toda trilogia do Senhor dos Anéis.
Só na procuração, ele se concentrou como se tivesse lendo o Corão.
Mas quem estava batendo a testa na quina da mesa era eu.

Uma eternidade depois...
- “É! Agora está tudo certo! Viu como seguindo os procedimentos fica fácil?”

Dalai Lama, Dalai Lama...

- Vou só entregar para o chefe carimbar e o senhor pode ir buscar o carro.
- E a multa, o reboque e as diárias?
- “Isso você resolve lá no depósito.”
- Beleza...

Duas eternidades depois...Vem o Chefe:
- Sr. Angelo Morse, infelizmente não poderei liberar o seu carro!
- Haha...Nem brinca, Chefe...imagina...
- “É SÉRIO!”
- Por que? Por que? Por queeeeeeeeeeeeeee?

Meu coração batia igual Carlinhos Brown na lata.

- “Essa procuração está em nome de pessoa física para pessoa física, eu preciso de uma procuração de pessoa jurídica para pessoa física.”

Fiz o que qualquer homem faria: Implorei!
- Não, não, não, não, não Chefe! Por favor! Não faz isso comigo...
- “Veja bem! Se fosse só uma questão burocrática, eu até resolveria...
- Como assim? Isso é burocracia pura! Ou então é pessoal!
- NÃO-POSSO-FAZER-NADA!

Essa última frase foi em Slow Motion, saca?
E o final ainda ficou ecoando na minha cara...
- ... “NADA, NADA, NADA, NADA, NADA...”

E guilhotinamente rasgou o documento prontinho na minha fuça: “RASG!”
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!

Caí de joelhos. Respirei fundo, levantei, catei meu cacos, peguei os documentos e fui saindo.
Mas antes de ir totalmente, falei de forma novelesca:
- Agora sei por que vocês espalham tanta placa avisando que desacato a funcionário público dá seis meses de cadeia.
E saí porta a fora, esbaforido e desorientado.
Minha vontade era estuprar a menina dos olhos dele. Amaldiçoei-o.
Mas do lado de fora, preciso confessar.
Fiz o que qualquer macho faria: Chorei.
É gente! O DETRAN me fez chorar.
Sentei no primeiro bar e tomei um porre daqueles.

SEXTA:
Acordei com uma forte dor no corpo, uma ressaca paralelepípeda e um mau humor que faria o Darth Vader parecer um escoteiro.
Briguei com a mulher, com o porteiro, com o gari, até com um Hare Krisna que tentou me vender um livro sobre meditação.
- Cala a boca!

Após voltar ao meu juízo perfeito. Se é que isso é possível...
- ...Enfim, Sogro. Só você pode tirar o carro.
- “Voltarei de viagem mais cedo. Vou te ajudar!”
- Obrigado. E desculpe o transtorno!

Agora era eu, o dono da empresa e um bando de adolescentes doidos para irem para casa, em plena sexta feira.

Umbral - Burocracia - Ofício na mão:
- “Escuta aqui! Só ele pode retirar o carro.”

O depósito de carros apreendidos é dentro de uma favela.
Tipo um Carandiru de carros. Cheio de confusão, indignação e poeira...

- “Já pagaram a guia?”
- Que guia?
- “Entra naquela fila, pega a guia, paga na “boca do caixa do banco”, volta e entra naquela outra fila.”

Não tinha filas nenhuma, apenas um monte de gente esbravejando.
- Tem outra opção?
- “Acessa a internet e com a chave de segurança do ofício você retira a guia.”.

Caçamos uma Lan House e conseguimos imprimir a guia para pagar.
Mas já eram 15:40. Na minha cidade, sexta feira, em vinte minutos você não anda nem um quarteirão.
Game Over!
Fim de semana sem carro. Agora só na segunda feira.
Oito diárias, mais multa, mais taxa de reboque, mais stress, mais...

SEGUNDA DE NOVO:
Umbral - Burocracia – Espera o homem chamar para pegar o carro:
-Alguém trás o carro pra mim?
- “Hahahaha...”

Mermão...A parada é uma gigantesca ilha de carros cercada de motos por todos os lados.

- “Tenta achar ele aí, Show!”

Meu bebezinho é um Kia. Pequenininho. Só de pensar nele ali, perdido e abandonado, comecei a procurá-lo desesperadamente.
- Bebê!
Avistei-o lá na meiota, todo sujo, acuado entre quatro carros muito mal encarados.
Certamente foi molestado por um Chevette carrancudo que estava colado na traseira dele.
O bichinho estava tão assustado que quando chegamos perto, ele trancou as portas.

E os caras, todo esse tempo, tinham deixado o carro aberto com a chave escondida dentro!!!

- Dá para acreditar nisso?

Meia hora depois, só conseguimos abrir o carro porque um funcionário tinha faculdade em: “Levantar pinos de porta de carro com arame.”

Carambolas!
Levei o carro para tomar sorvete, mas ele ainda não está falando comigo.

Não quero ver a cara do DETRAN tão cedo.
Pena que isso não será possível.

CONTINUA...


GOSTOU? ENTÃO COMPARTILHA!
NOTA: 
confesso que adorei a quantidade de pessoas 
reclamando do atraso.
Bom, agora que voltamos! Já sabe, né? 
Divulga para me ajudar.
No mural do Facebook, no twitter, 
e-mail, SMS ou bate papo em mesa de bar.