Eu, acordar de mau humor, é
mais raro que negro em episódio de Friends.
Mas quando acontece...
Esta semana teve um dia
que despertei travado na taturana.
Não sei se foi sonho ou
pesadelo que eu tive, mas acordei aborrecido com tudo.
Mal.
Chamando Chapeuzinho de Mun Ha.
Tomei banho de cara
emburrada e joguei a toalha molhada no chão.
Nem fiz a barba para não ter
que olhar para nenhum preto.
Nem fiz cocô.
Vesti a roupa resmungando e dei um peteleco no peixe do aquário.
Apertei o botão do elevador
com um soco.
O porteiro do meu prédio
me deu bom dia e eu nem respondi.
Não queria falar com
pobre.
O dono do bar botando a
mesa para fora também tentou ser cordial.
Não queria falar com
nordestino.
O judeu dono da loja de
quadros me deu um alô singelo.
Fingi que não vi.
Não queria falar com
judeus.
Estava com um humor
nazístico!
Dando banda em manco.
- Vou comer uma parada.
O senhorzinho dono da
padaria da esquina veio se chegando todo sorridente.
Virei a cara!
Não queria falar com velhos
também!
Fui direto ao balcão, apontei para o salgado mais obeso e falei igual ao Tarzan:
- Mim quer esse!
Quase assim.
O balconista é gay enrustido,
abusado e metido a piadista do Zorra Total.
Falou rindo:
- “Catchup?”
Ele disse “catchup” como
se fosse: “Quer que te chupe”, sabe?
Fiz que não com a cabeça.
Não queria falar com enrustidos.
Enquanto eu esperava a lerdeza
da Rainha do Deserto pegar o meu salgado, reparei com o canto do olho, que um bebezinho no colo da mãe apontava para o meu cabelo.
- “É filho! É o cabelo do
rapaz.”
Ignorei.
Não queria falar com bebês.
Só quero comer.
Sabe os dois segundos que
antecedem a primeira mordida que você vai dar naquele suculento enrroladão
massarancudo repleto de presunto, queijo e cebola, super calórico e gorduroso
que fica sempre te chamando na vitrine da lanchonete?
O queijo derretido escorre
pelos dedos e você ainda lambe para limpar.
Pensamento obeso, eu sei.
Por um pentelhésimo de
segundo, pensei até em devolver o salgado e pedir só uma vitamina.
Acho que vou fazer isso...
- Tem mostarda?
- “Tem!”
Eu não sei de quem foi a infeliz
ideia de acabar com as bisnagas de molhos.
Nunca consigo abrir a
merda desses sachêzinhos.
Com a mão oleosa então...
Tentei o primeiro, tentei
o segundo, tentei o terceiro sachês e nada!
Está escrito: “Rasgue aqui!” mas é tudo mentira!
Tentei arrancar um pedaço com o
dente.
Droga...
Desisti!
Comi o salgado de uma só vez, estilo o Dudu do Popeye.
E, diabodatasmaniamente, pedi
outro.
- “Benza Deus!”
Um gordo com cheiro de
gorgonzola emerge ao meu lado, feito um submarino.
Não queria falar com
gordos.
Não queria falar com ninguém! Não sei o que me deu esse dia.
Geralmente sou um amor.
Não queria falar com ninguém! Não sei o que me deu esse dia.
Geralmente sou um amor.
Será que pensei em voz alta?
- Oi?
- “Benza Deus! Eu era assim
igual a você, comia de tudo!”
- Hum...
- “Comigo não tinha tempo ruim! A qualquer hora do dia eu comia besteira.”
- Hum...
- “O problema é que depois
dos trinta, o corpo fica preguiçoso.”
- É.
- “Começa a aparecer a tal
barriguinha...”
Deu apontou para minha barriga. Acredita?
E resolveu que a
gente ia conversar.
Eu não estava para papo, mas
não teve jeito.
- É, né.
- “Depois que a gente começa
a engordar meu amigo, é uma luta para emagrecer.”
- Pois é!
- “Eu mesmo tentei de
tudo.
- “Herba Life...”
- “Ginástica...”
- “Dietas....”
- “Macumba...”
- “Uma vez fiquei quinze
dias só comendo abacaxi e...
Ele não parava de falar.
E eu imaginando uma forma de enfiar o frasco
de adoçante na garganta dele e ir empurrando com o dedo até o esôfago...
- ...”Mas eu só fui
emagrecer mesmo com essa fórmula milagrosa!”
Han? Como é que é? O que ele disse?
O sacripantas dava quase
dois de mim.
Cite três coisas que me incomodam:
1. Gordo me chamando de gordo.
2. Gordo me dando receita de regime.
3. Gordo achando que está magro. Igual o Zeca Camargo.
- “...Inclusive eu vendo!”
Sacudi a cabeça e me
situei na conversa.
- Vende o que?
- “Vendo Óleo de Cardume.”
Não foi óleo de cardume
que ele disse, não...
Esqueci o nome... Óleo de cágado? Não...
Óleo de Cártamo! Acho que
era isso!
- “Eu vendo Óleo de
Cártamo!”
Mermão... e num é que o maluco me abre uma bolsa cheia do produtos e vem cheio de papinho de Lípase Lipoproteica
para cima de mim.
Dá para levar a sério
gordo vendendo remédio para emagrecer?
- “É baratinho! Por...”
- Não me interessa!
Decididamente eu não
queria falar com vendedores.
Virei às costas e fui
embora até o caixa.
O desgraçado fica aliciando
pessoas gulosas em padarias.
Chamando os outros de adiposo.
Isso ofende.
Cheguei no trabalho mais
enfezado ainda.
De repente me bateu uma cólica
que arrepiou os cabelinhos da nuca.
Fui ao banheiro e desencarnei.
Todo mal que estava em mim
foi exorcizado.
Descobri que todo o meu mau humor era
só intestino preso.
Só aí que realmente fui entender a origem da
palavra: enfezado.
Quase que voltei na
padaria para mostrar minha barriga verdadeira.
Apesar que...
Bom...
Tem uma barriguinha mesmo,
né?
Enfim...
Depois dos trinta, sabe
como é?
Cervejinha e tal.
Puxa...Será que eu estou
adiposo, mesmo?
Não devia ter falado com
ele, realmente.
Para GALERA que curte O CONTA UMA
Saibam que ele vai virar livro!
Estou reescrevendo algumas histórias, lembrando outras e guardando umas inéditas que...Bom! Vocês vão ver!
Espero que entendam os atrasos na postagem do blog.
Não troquem de canal!
Continuem divulgando para me ajudar.
Abraços!
Angelo Morse
(O dono do C.U)