sábado, 25 de agosto de 2012

ENFEZADO



Eu, acordar de mau humor, é mais raro que negro em episódio de Friends.

Mas quando acontece...

Esta semana teve um dia que despertei travado na taturana.
Não sei se foi sonho ou pesadelo que eu tive, mas acordei aborrecido com tudo.
Mal.

Chamando Chapeuzinho de Mun Ha.

Tomei banho de cara emburrada e joguei a toalha molhada no chão. 
Nem fiz a barba para não ter que olhar para nenhum preto.
Nem fiz cocô.
Vesti a roupa resmungando e dei um peteleco no peixe do aquário.
Apertei o botão do elevador com um soco.

O porteiro do meu prédio me deu bom dia e eu nem respondi.
Não queria falar com pobre.

O dono do bar botando a mesa para fora também tentou ser cordial.
Não queria falar com nordestino.

O judeu dono da loja de quadros me deu um alô singelo.
Fingi que não vi.
Não queria falar com judeus.

Estava com um humor nazístico!
Dando banda em manco.

- Vou comer uma parada.

O senhorzinho dono da padaria da esquina veio se chegando todo sorridente.
Virei a cara!
Não queria falar com velhos também!

Fui direto ao balcão, apontei para o salgado mais obeso e falei igual ao Tarzan:
- Mim quer esse!

Quase assim.

O balconista é gay enrustido, abusado e metido a piadista do Zorra Total.
Falou rindo:
- “Catchup?”

Ele disse “catchup” como se fosse: “Quer que te chupe”, sabe?

Fiz que não com a cabeça.
Não queria falar com enrustidos.

Enquanto eu esperava a lerdeza da Rainha do Deserto pegar o meu salgado, reparei com o canto do olho, que um bebezinho no colo da mãe apontava para o meu cabelo.

- “É filho! É o cabelo do rapaz.”

Ignorei.
Não queria falar com bebês.

Só quero comer.

Sabe os dois segundos que antecedem a primeira mordida que você vai dar naquele suculento enrroladão massarancudo repleto de presunto, queijo e cebola, super calórico e gorduroso que fica sempre te chamando na vitrine da lanchonete?
O queijo derretido escorre pelos dedos e você ainda lambe para limpar.

Pensamento obeso, eu sei.

Por um pentelhésimo de segundo, pensei até em devolver o salgado e pedir só uma vitamina.

Acho que vou fazer isso...

- Tem mostarda?
- “Tem!”

Eu não sei de quem foi a infeliz ideia de acabar com as bisnagas de molhos.
Nunca consigo abrir a merda desses sachêzinhos.
Com a mão oleosa então...

Tentei o primeiro, tentei o segundo, tentei o terceiro sachês e nada!

Está escrito: “Rasgue aqui!” mas é tudo mentira!
Tentei arrancar um pedaço com o dente.
Droga...

Desisti!

Comi o salgado de uma só vez, estilo o Dudu do Popeye.
E, diabodatasmaniamente, pedi outro.

- “Benza Deus!”

Um gordo com cheiro de gorgonzola emerge ao meu lado, feito um submarino.
Não queria falar com gordos.
Não queria falar com ninguém! Não sei o que me deu esse dia.
Geralmente sou um amor.

Será que pensei em voz alta?

- Oi?
- “Benza Deus! Eu era assim igual a você, comia de tudo!”
- Hum...
- “Comigo não tinha tempo ruim! A qualquer hora do dia eu comia besteira.”
- Hum...
- “O problema é que depois dos trinta, o corpo fica preguiçoso.”
- É.
- “Começa a aparecer a tal barriguinha...”

Deu apontou para minha barriga. Acredita?

E resolveu que a gente ia conversar.
Eu não estava para papo, mas não teve jeito.

- É, né.
- “Depois que a gente começa a engordar meu amigo, é uma luta para emagrecer.”
- Pois é!
- “Eu mesmo tentei de tudo.
- “Herba Life...”
- “Ginástica...”
- “Dietas....”
- “Macumba...”
- “Uma vez fiquei quinze dias só comendo abacaxi e...

Ele não parava de falar.
E eu imaginando uma forma de enfiar o frasco de adoçante na garganta dele e ir empurrando com o dedo até o esôfago...

- ...”Mas eu só fui emagrecer mesmo com essa fórmula milagrosa!”

Han? Como é que é? O que ele disse?
O sacripantas dava quase dois de mim. 

Cite três coisas que me incomodam:
1.    Gordo me chamando de gordo.
2.    Gordo me dando receita de regime.
3.    Gordo achando que está magro. Igual o Zeca Camargo.


- “...Inclusive eu vendo!”

Sacudi a cabeça e me situei na conversa.

- Vende o que?
- “Vendo Óleo de Cardume.”

Não foi óleo de cardume que ele disse, não...
Esqueci o nome... Óleo de cágado? Não...
 Óleo de Cártamo! Acho que era isso!

- “Eu vendo Óleo de Cártamo!”

Mermão... e num é que o maluco me abre uma bolsa cheia do produtos e vem cheio de papinho de Lípase Lipoproteica para cima de mim.

Dá para levar a sério gordo vendendo remédio para emagrecer?

- “É baratinho! Por...”
- Não me interessa!

Decididamente eu não queria falar com vendedores.
Virei às costas e fui embora até o caixa.

O desgraçado fica aliciando pessoas gulosas em padarias.
Chamando os outros de adiposo.
Isso ofende.

Cheguei no trabalho mais enfezado ainda.

De repente me bateu uma cólica que arrepiou os cabelinhos da nuca.

Fui ao banheiro e desencarnei.
Todo mal que estava em mim foi exorcizado.
Descobri que todo o meu mau humor era só intestino preso.
Só aí que realmente fui entender a origem da palavra: enfezado.

Quase que voltei na padaria para mostrar minha barriga verdadeira.

Apesar que...

Bom...

Tem uma barriguinha mesmo, né?

Enfim...

Depois dos trinta, sabe como é?

Cervejinha e tal.

Puxa...Será que eu estou adiposo, mesmo?

Não devia ter falado com ele, realmente.

Para GALERA que curte O CONTA UMA 
Saibam que ele vai virar livro!
Estou reescrevendo algumas histórias, lembrando outras e guardando umas inéditas que...Bom! Vocês vão ver!
Espero que entendam os atrasos na postagem do blog.
Não troquem de canal!
Continuem divulgando para me ajudar.
Abraços!

Angelo Morse
(O dono do C.U)

Um comentário:

  1. Ahahhahhahha, Eu também fico de mal humor se eu ficar muito tempo sem fazer número 2...é uma merda, literalmente falando, isso...

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