domingo, 2 de setembro de 2012

A BELA ADORMECIDA



Você percebe que perdeu a dignidade quando precisa jogar charme para o mecânico na tentativa desesperada de conseguir um desconto no conserto do seu carro.

Mas achar uma oficina com preço justo é mais difícil que pedreiro vegetariano.

Tabela de mecânico varia mais que humor de mulher na TPM.

Eles tiram vantagem do nosso sofrimento.

- Esse eu vou conquistar.

Já cheguei para conversar com o camarada levando um café no copo descartável e um sanduíche de pão com mortadela.

Para quebrar o gelo.
Ele achou graça.

Abusei do meu sorriso garfieldiano, mostrei respeito e interesse pelo trabalho dele, ouvi suas questões, suas angústias, seus sonhos...

Ele foi amolecendo, mas o serviço ainda estava muito caro.

Sentei no sofá deixando a bermuda revelar um pouco das minhas pernas cabeludas e bem torneadas.

Depois fiquei massageando por cima da camisa, meu mamilo direito que é o mais sexy e hipnotizador.

Faltava pouco para eu tirar com o dedo uma marca de graxa no canto da boca dele

Consegui um desconto de R$ 150 reais no orçamento e mais uma polida de graça.
Nem precisei fazer sexo.

Sou muito charmoso.

Quando você se acostuma com carro é uma merda.
A pé, tudo parece mil vezes mais longe do que é realmente.

E eu tinha uma lista gigante de coisas para comprar...

No fim do dia, após rastejar por todos os becos do centro, me vi na fila do ônibus cheio de sacola.
Igual aquele boneco mexicano que fuma um cigarro para dar sorte, lembra disso?

Deixa para lá.

Era a hora do rush.
Na verdade, o trânsito anda tão caótico que toda hora é hora do rush agora.

Uma das coisinhas que eu carregava era um fardo com dez bambolês.
Nem me pergunte.

Quando o ônibus surgiu, rolou aquele frisson humano. Pareciam somalianos no MC Donald`s.

A fila virou uma bagunça e eu fiquei naquela de adivinhar onde o ônibus iria parar para eu ser um dos primeiros a entrar.
Subir num busão com cinco sacolas pesadas, cheio de bambolês no pescoço deveria ser esporte paraolímpico.

Após contar com a benevolente ajuda do trocador e acertar o crânio de uma três pessoas, entrei.

Ingenuamente, fui para o final do ônibus numa ilusão que lá seria mais confortável.
Fiquei no meio onde tinha mais espaço no chão para guardar as coisas.

Um homem mais negro e mais forte do que eu,  parecendo o Jacaré do “É o Tchan”, sentou-se ao meu lado.

O que fui ruim, pois me tirou liberdade do lado direito.

E uma mulher bonita, mas de cor pálida, com seios apessegados e joviais, me pediu licença para se sentar do meu lado esquerdo.

Fiquei meio que esmagado entre os dois.
Mas tudo bem.

Saquei um livro de dentro do cabelo, encostei-me no banco e relaxei.

O trânsito do Rio de Janeiro parecia imagem de cartão-postal. Imóvel.

Me deu até sono.

Travei as sacolas com o pé e tentei cochilar.

Tentei, mas...
“Toda vez que eu vejo você, sinto uma coisa diferente...”

Isso mesmo! Por mais clichê que possa parecer, tinha a porra de um filho da puta, ouvindo pagode no celular.

Quem era? Jacaré!

Confesso, que nem estava tão alto ao ponto de todos os passageiros escutarem.
Só a galera que estava de camarote.
Basicamente no meu ouvido.

Olhei para ele de cara feia.

O maluco era da cor do banco, devia ter quase dois metros de altura e um braço do tamanho da minha perna.

Quando percebeu que eu estava olhando, me encarou.

Fiz o que qualquer homem macho faria...

Desviei o olhar para o outro lado e cantarolei o refrão:
- ...Sorria que eu estou te filmando...

Ia fazer o que?
Bater nele com meus bambolês?

Não tem um negócio que se a pessoa insistir em ouvir música no ônibus será retirado do local sob força policial?
Cadê?
Fiquei esperando adentrar pela janela uma equipe do Bope.
Mas nada.

Continuamos ouvindo o repertório:
“Advinha o que eu sinto por você...”

Ok, ok, ok...

A música só parou quando o celular dele tocou.
- “Alô!”

O que me chamou atenção foi que Jacaré atendeu mandando um alô meio diferente.
Não foi um “alô” muito firme, foi mais para um “aloan” escorregadio, saca.

- “Tudo beim, querido?”

Ok! Jacaré era homossexual, todo mundo percebeu.

Normal.

Ele baixou a voz, começou a sussurrar no telefone e ficou sensualizando durante todo engarrafamento.

De repente todos os sinais do meu corpo se voltam para o meu lado esquerdo.

A Pálida estava pressionando o seu corpo junto ao meu.

Ai meu deus...
A mão direita dela quase na minha coxa.

Eu sou um homem comprometido.

Me ajeitei no banco.

Ela encostou singelamente a cabeça no meu ombro e o decote se revelou.

Dalai Lama, Dalai Lama..

Não tenho mais idade para ser assediado em ônibus.

Mentalizei o azul.

Uma coroa com cara de areia mijada, que estava em pé na minha frente observava tudo.

Sutilmente, empurrei o corpo da menina para o outro lado.

Ela voltou feito um joão bobo furado.

Parecia estar dormindo, mas mantinha os olhos abertos!

O que que ela está querendo?

Deixei para lá. Fica aí!

Fechei os olhos e tentei cochilar novamente.

Jacaré voltou a nos deliciar com a música dos Travessos:
“Quando a gente ama eu sou um homem mais feliz...”

Puta que pariu.
Jacaré ainda por cima parecia apaixonado!

De repente o braço da Pálida caiu totalmente sobre minha coxa.
Não faça isso! Não faça isso!

Senti seus lábios raspando no meu braço, passando pelo meu cotovelo até que num movimento, quase ninfomaníaco,  ela caiu de boca no meu colo.

DESMAIADAAAAAAAAAAAAAAAAA!


- Moça! Moça! Moça!

A Coroa da minha frente se meteu e começou a sacudir a garota.
Jacaré também.

Eu confesso que fiquei meio sem ação.

Levantei e dei mais espaço para os dois agirem.

Mermão, Jacaré deu três tapas de jogador de vôlei na cara da Pálida que a bochecha dela corou igual a da Branca de Neve.
Ardeu em mim.

Só que a mulher estava mais para Bela Adormecida, malandro!

Desmaiada de olho aberto feito um zumbi.

Sinistro. 
Só falta essa mulher está morta.
Ninguém merece eu achar que ela estava me bulinando e a garota estar morta, né?

- “Está viva, está com pulso!”-

- Motorista! Motorista! Pára o ônibus!
Uma balburdia só.

A Coroa assumiu a situação e Jacaré, grande para caralho, levou a menina no colo para fora do ônibus igual super herói.

Ainda bem que ele estava ali, porque senão ia sobrar para mim.
Imagina eu sair com cinco bolsas, dez bambolês e uma mulher nos braços.

Na calçada, eles foram rodeados por aquelas famosas vinte pessoas que mais atrapalharam do que ajudam, sabe?

O motorista aproveitou para meter o pé.

E eu também.


NOTA: 
Estou escrevendo o livro e o blog juntos. 
Não reparem a bagunça.
Continuem divulgando para me ajudar.
Obrigado!

Angelo Morse
(O dono do C.U)

12 comentários:

  1. Saquei um livro de dentro do cabelo ...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk estilo Globetrotters kkkkkkkkk

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  2. Eu fico igual adolescente em pré estréia de crepúsculo!!!!!! Ansiedade total!!!!!!! Tinha que sair conta uma todos os dias!

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  3. Tia Rafa, adolescente não gosta mais de crepúsculo há muito tempo. Adolescente gosta de One direction chationes.

    Pant, só assim para alguém dar mole para vc, ahahhhaha.

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  4. Ri asmaticamente aqui ! MUITO BOM MESMO ! PARABÉNS ! Até chorei ... HAHAHAHAHAHAHA....

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    1. (P.S.: Sou a SSuzaninha WWerneck do grupo Olho Vivo, do Prof. Pablo! Bjs.)

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  5. Ri muito!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Vc é incrível, meu artista!
    Sua sogra.

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  6. adoreiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!!!! tinha que ser historia sua mesmooo... :D

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  7. Porque tem coisas na vida que só acomtecem com vc!

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  8. Muito boa.
    O nome do boneco é equeco.
    Bjs
    All

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  9. Engraçado pra kct uhdauhsdhuSHUAduha

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