A mirabolante
história de Jatumama
Moreno
jambo de olhos castanhos e amendoados, tinha feições “jacarandescas”, rosto
quadradão, e um nariz largo e grande parecendo a metade vertical de uma pêra.
A
arcada dentária inferior projetava-se um pouco mais que a superior, feito a
mandíbula de um babuíno.
Era
bonitão de um jeito esquisito.
Ele
era bem maior que eu também. Quando andava as costas das mãos quase roçavam o
chão.
Mas
na verdade, era grande, forte e bobo.
Um
clichê ambulante.
Mas
era um bom amigo, seu nome: Jatumama.
-
“Tá falando com quem, porra?”
-
Estou introduzindo você como coadjuvante do meu conto, numa tentativa um tanto
apelativa de fazer com que os leitores se simpatizem logo de cara com o
personagem.
-
“Que leitores?”
-
No futuro eu terei leitores nunma coisa chamada internet.
-
Inter... o que?
-
Deixa para lá!
-
“Calma aí! Calma aí! Se você vai escrever sobre mim, não esquece de mencionar
que eu sou foda e que tenho uma ferramenta grande!”
-
Pode deixar.
Jatumama
era foda e tinha uma ferramenta grande!
Comia
todas as menininhas da cidade e ainda saía de pau duro atrás de João do Santo
Cristo.
Sua
clava era motivo de burburinho entre ouvidos femininos.
Nessa
época eu namorava uma menina muito bonita chamada...
-
“Areia Mijada!”
Não,
o nome dela não era esse e ela não tinha cara de areia mijada.
-
“Tinha sim!”
Tinha
nada! Mentira dele.
Era
uma gatinha, delicada e gente boa.
-
“Tá... era bonitinha... mas tinha cara de areia mijada.”
-
Jatumama...
-
“Só assume que ela tinha cara de areia mijada.”
-
Eu não vou assumir até por...
-
“Assume!”
Só
porque ela tinha uns furinhos na bochecha, ele...
-
“Assume!”
Nem
dava para ver direito!”
-
“Assume!”
-
Tá bom! Tá bom... Ela tinha cara de areia mijada.
-
“Ah... bom.”
-
Mas presta atenção, não é assim que o Conta Uma funciona. Você é do passado!
Quem conta a história sou eu. Tchau!
Enfim...
Voltando ao assunto...
Areia
Mijada tinha uma prima mais velha que inacreditavelmente se apaixonou por
Jatumama.
Ela
era simples, rica, hippie e chique.
Um
dia um tal amigo dela, cheio da grana, ia dar uma grande festa de aniversário e
nós fomos convidados por tabela.
Não
vou dizer que eu era desses que sabia escolher o talher correto para comer
todas as coisas. (Nem hoje sei!)
Mas
pelo menos se me desse um garfo e uma faca eu sabia como segurar.
Mas
Jatumama que era suburbano-mazzaropi-shrekiano.
Ficou tenso de encarar a nata coalhada da
sociedade dominante.
-
“Porra, festinha de mauricinho é foda!”
Festinha
de mauricinho é foda mesmo!
Aquele monte de homem com cara de “cheira pum” e um monte de mulher com
cara de “chupo não”.
E
pobre, sabe como é, né... tem o cacoete de chamar atenção.
-
Jatumama... nós somos convidados... fica tranquilo!
-
“Se um merdinha daqueles vier de gracinha para cima de mim a porrada vai comer.”
-
Não vai ter nada disso! Está louco?
A
festa parecia o aniversário da Smurfete. Só tinha macho.
A
diferença é que ao invés de azuis, eram todos brancos.
De
preto, só eu e o caviar.
E
vou dizer que me acho muito mais gostoso que ele.
Areia
Mijada... (sacanagem chamar a garota assim...)
e Hippie Rica vieram nos receber da melhor
forma possível.
Com
sorrisos e beijos.
-
“Vou apresentar vocês ao aniversariante.”
Hippie
Rica foi feita por um Deus inspirado no photoshop do Diabo.
Era
caliente, esvoaçante e tinha olhos dignos de serem expostos no Louvre.
Assim
que acabamos de sermos apresentados a todos os 12 homens da festa, reparei que
eles eram simpáticos e refrescantes demais.
O
aniversariante então, soltava até luz por onde passava.
-
São todos gays, Jatumama.
-
“O que? Onde? Como?”
Jatumama
olhava ao redor como se eu tivesse dito que eram todos vampiros.
-
Disfarça e deixa para lá.
Mas
Jatumama, texano de Belford Roxo ficou travado.
E
tome whisky.
A
casa da bicha era tão fina que demorei vinte minutos para descobrir como que
abria a torneira.
E
mais dez para achar a descarga.
Dava
para lamber o chão inteiro de tão limpo e cheiroso.
Mas
achei prudente não lamber.
Jatumama,
se agarrava a Hippie Chique como se fosse um coelho numa festa de coiotes.
-
Cara, fica tranquilo que ninguém vai te agarrar, não.
-
“Sei lá...”
-
A não ser que você queira.
-
“Coé brother?!”
A
verdade é que a festa estava muito farta e divertida. Uns caras se beijavam na
deles, outros dançavam e a gente bebia, ria e falava besteira.
Hippie
Chique, assim como Areia Mijada... (Não dá! Posso chamá-la de Amy? Posso?
Obrigado!)
Hippie
Chique, assim como Amy, eram ótimas e muito mais maduras, evoluídas, desinibidas
e para frente do que a gente.
Então
não foi nenhuma surpresa quando Hippie Chique virou a cabeça toda risonha
trazendo nos dentes um cigarrilho do capeta.
Meu
único pecado que até então tinha sido misturar guaraná num Gold Label legítimo,
somou-se aos tragos que dei na famosa cannabis sativa.
Inebriado
pelo poder da fumaça mágica e afrodisíaca com uma linda garota em meus braços e
um copo duplo de whisky na outra, fiz o que qualquer macho alfa faria: Apaguei
Feito
a Branca de Neve ouvindo o Dunga cantar.
A
pressão sanguínea desceu pelo ralo e levou minha alma da festa.
O
efeito do negócio era forte.
Dormi
no colo da menina feito um recém nascido.
Acordei
na cadeira da piscina com Amy dormindo no meu ombro.
Isso
me deu uma escoliose irreversível e os ligamentos do meu braço esquerdo nunca
mais foram os mesmos.
Não
consigo nem apertar o tubo da pasta de dente com essa mão.
A
boca ressecada parecia a de um Dragão de Komodo.
Os
olhos idem.
Na
verdade a coordenação motora também.
Acho
que até cauda eu tinha.
Olhei
para um lado... um bem-te-vi... olhei para o outro... uma garrafa de vodka
refletia poeticamente o sol nascente.
-
Cadê Já-tu-ma-ma Mogli da Selva?
Fui
procurá-lo.
Casa
de rico até bagunçada é bonita, né?
-
Alguém transou na cozinha.
Bebi
seis litros d’água e comi uma torrada seca sem manteiga por precaução.
Hummmm...
Ouvi
umas vozes vindas de dentro de um cômodo de porta fechada.
Do
lado de fora da porta, tinham quatro interruptores.
-
Vou sacanear.
Acendi
todos de uma vez com uma palmada só.
Mermão...
Na mesma hora, surgiram de dentro do quarto dois revoltados com olhos de Medusa
e nariz branco.
Parece
que um dos interruptores ligou o ventilador e isso não foi nada bom para o que
eles estavam fazendo.
Espalhou
tudo...
-
Desculpa! Foi mal!
No
latim chama-se: gafis quasum deum mortis.
Já
tinha feito a merda, continuei minha busca atrás do honorável.
Tinha
um quarto grande de porta entre aberta.
Pela
fresta da porta, eu vi o traseiro da Hippie Chique de calcinha.
Sem
comentários... Imaginem.
Abri
a porta com a desenvoltura de um samurai e vi um corpo semi nu ao lado da
menina.
Era
o dono da casa.
-
Hummmm...
Entrei
sorrateiramente e vi as roupas de Jatumama no chão.
-
Hummmm...
O
quarto tinha uma outra porta que eu “sherlockmente” abri.
Era
a porta do closet gigante com um banheiro dentro. Tudo branco.
Tinha
ternos caros, sapatos brilhosos, cuecas de seda... e no canto esquerdo estava o
desgraçado pelado, dormindo agarrado com um labrador que eu nem tinha visto na
festa.
Na
banda esquerda da bunda do filho da puta... sangue coagulado.
-
Que porra aconteceu aqui, maluco?
Jatumama
com dois xis no lugar dos olhos.
-
Jatumama! Jatumama! Jatumama!
Chutei
sua orelha com o meu sapato bico fino.
O
cachorro levantou a cabeça junto com o zumbi que despertou de uma vez só, todo
arqueado igual siri na panela.
-
“O que? O que foi?”
-
O que foi é o caralho! Que diabos aconteceu aqui, maluco?
Sussurrando
para não acordar os vampiros.
-
“Porra!”
O
cachorro que não precisava dar explicações saiu do quarto de fininho.
Jatumama
se escorou nas gavetas e começou:
-
“Cara! Esse pessoal é maluco.”
-
Isso eu sei. O que houve?
-
“Não me lembro muito bem, só sei que depois que você morreu, nós continuamos
bebendo muito. Acabei ficando muito doido.
-
Não me diga!
-
“Aí Hippie Chique, muito louca, me arrastou aqui para esse quarto para gente transar”.
-
Han.
-
“De repente ele apareceu.”
-
O cachorro?
-
Não, o viado. Disse que só queria olhar e tal.
-
Hannnn...
-
De repente Flufy subiu na cama.
-
O apelido do viado é Flufy?
-
“Não, Flufy é o cachorro.”
-
Han.
-
E do nada ele começou a arranhar minhas costas.
-
Flufy?
-
“Não, o viado.”
-
No susto e sem querer, dei uma porrada com o braço no rosto...
- Do viado?
-
“Não, da mulher.”
-
Porra Jatumama!
-
“Estava tudo muito escuro e confuso.”
-
Tá, e aí?
-
“Virei para pedir desculpas e tomei uma mordida na bunda.”
-
Da mulher?
-
“Não, do cachorro.”
Pausa
porque nessa hora tanto faz se era verdade ou mentira, tive que cair no chão de tanto dar gargalhada.
-
“Acho que o cachorro ficou nervoso na hora e me atacou”.
-
Puta que pariu...
-
“Doeu, tá.”
Gargalhei de peidar.
-
“Chegou a tirar sangue. Aí eu fui no banheiro para limpar.”
-
Hummmm...
-
“Quando eu voltei eles estavam se pegando.”
-
Quem?
-
“Hippie Chique e o viado, ora! Quem mais?”
-
Sei lá, porra!
-
“Aí eu sem saber o que fazer, deitei no chão e acabei dormindo.”
-
E o cachorro dormiu com você por que?
-
“Acho que ele veio numa de pedir desculpas e ficou.”
-
Jatumama... Você só pode estar de sacanagem de achar mesmo que eu vou acreditar numa história mirabolante dessa?
-
“Mas foi verdade.”
-
Olha só, na boa! Se você comeu o cara,
se comeu a mulher ou se comeu o cachorro, ou se todo mundo te comeu nem me
interessa.
-
“Qual é! Fala sério!”
- Sério. Ou você me conta a verdade ou nem precisa falar nada e a gente
não toca mais nesse assunto.
-
“Cara..estou te dizen...”
-
Fala a verdade!
-
“Juro que...”
-
Somente a verdade!
-
“Mas...”
-
Nada mais que a verdade!
-
“Ok. Quer saber mesmo?”
-
Fala.
-
“Quem mordeu minha bunda foi o viado.”
Só
sei que depois que Jatumama saiu daquele closet nunca mais foi o mesmo.
Fala aí pessoal, tudo bem?,
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