A verdade é que de todas, ela sabia fazer como ninguém.
Começou acariciando levemente meu pé, passeando pelo tornozelo e seguiu explorando minha batata da perna rumo à parte de trás da coxa.
Eu dormia de bruços.
Ela apenas encostou suavemente na minha bunda. Suavemente mesmo. Quase imperceptível.
Continuou navegando trôpega, porém ainda saliente, pelo meu cóccix
Arranhava minhas costas de um jeito tão sexy que interrompia minha respiração.
Arrepiei-me do calcanhar até a nuca, mas continuava a dormir.
Meu ponto mais vulnerável se encontra na parte de trás do meu pescoço e foi exatamente o local onde ela perdeu mais tempo brincando.
Uma ereção já se emoldurava.
Ainda de olhos fechados, como quem sonha, eu sorria.
Senti sua presença assim tão perto, tão próxima ao meu ouvido.
Era mais do que claro que o seu objetivo era conquistar meus lábios.
Eu gosto deles também.
Gradativamente ela foi chegando bem mais perto deles.
Até que os tocou.
Mermão...
Dei-lhe um pulo da cama desesperado e assustado.
Apliquei em minha própria face um tapão típico de jogador de vôlei.
Chegou a arder.
E dei mais uma série de tapas no corpo como quem quer tirar um Exu incorporado.
Confesso que o ataque de pelanca que eu dei, caso fosse filmado e postado no youtube, levantaria sérias suspeitas sobre minha preferência sexual.
Apesar da adrenalina injetada pelo terror eu ainda me encontrava míope e inebriado pela sonolência.
Só escutei, por dois milésimos, o farfalhar das suas asas.
Mesmo refém da escuridão percebi o vulto alado se esgueirando nas sombras.
Era enorme.
Poderia muito bem ser o Conde Drácula.
Dei um Cirque du Soleil até o interruptor do quarto e acendi a lâmpada.
As minhas lâmpadas acendem de forma gradual como um nascer do sol. A medida que a claridade ia ficando mais intensa, partes do quarto iam se revelando.
Até que se a luz se fez por completa.
Meus olhos vasculhavam todos os cantos e esconderijos possíveis.
Nada.
Todos tinham viajado e eu estava sozinho em casa.
Não gosto de ficar sozinho.
Pois é nessas horas que os inimigos atacam.
Corri até a cozinha e no caminho fui acendendo todas as luzes da casa.
Bebi um copo d água numa golada só e lancei mão de uma faca de carne.
Após alguns segundos de reflexão e sobriedade, troquei por uma vassoura.
Lembrei que no jantar tinha bebido meia garrafa de vinho.
E acabei dormindo sem escovar os dentes.
Isso pode ter atraído o apetite das baratas. Elas se alimentam de nossa baba, sabia disso?
- Bom, seja o que for, o animal era maior que um mosquito e menor que um pterodátilo.
Podia também ser um morcego.
Não me interessa se a maioria deles só comem frutas e sementes.
O que eu sei é que os que se alimentam de sangue vivem na América Latina, inclusive o Brasil.
Peguei a faca novamente por precaução.
Odeio tomar susto, então o jeito seria chegar no quarto fazendo barulho e arruaça até o bicho aparecer logo de uma vez e a porrada comer.
Então como um gato, num pulo certeiro, fui parar em cima da cama.
Ataquei o vento, de forma quixotesca feito um mosqueteiro esquizofrênico.
Nada.
A janela estava aberta e lá do outro lado, no prédio da frente, uma velha com insônia e cabelo azul testemunhara toda minha performance insana e ridícula.
Cena: Um negão de cabelo Black Power, apenas de cueca com uma vassoura na mão e uma faca na outra, chamando algum espírito para briga.
Mesmo de longe, só pelo olhar da Velha de cabelo azul, senti minha dignidade escoar pelo ralo do travesseiro.
Tentando demonstrar normalidade, soltei as armas, respirei fundo, ajeitei o pênis mole dentro da cueca samba canção de seda chinesa e arrumei o cabelo.
Com muito cuidado, quase pedindo licença para senhora, encostei a janela.
Quando fui fechar a cortina...
O animal alado de cor preta com uns dez metros de largura começou a voar enlouquecidamente pelo quarto.
No susto me joguei no chão e com a habilidade de um samurai peguei a vassoura. Nesse mesmo rolamento ninja, com a mira microscópica de um Tiger Woods dei-lhe uma porrada certeira...
No DVD, que agora quebrado, pendurava-se apenas pelo fio vermelho.
Já o animal, intacto, dobrou a esquina rumo à sala de estar.
Parou na parede branca em cima do sofá.
Imóvel como se empalhado fosse.
Não tinha dez metros, ok... mas era bem grande.
Era uma mariposa bruxa.
Saca mariposa bruxa?
Estranha, né?
Dizem a lenda que se ela tocar em você quer dizer que algum parente ou próximo seu que já faleceu está lhe dando um olá.
Só um aviso aos amigos e parentes...
EU NÃO QUERO FALAR COM GENTE MORTA!
Não vem usando celular de mariposa para falar comigo não, maluco!
Muito menos através de gato, cachorro, papagaio ou qualquer outro animal.
Precisa falar alguma coisa muito importante do além? Manda uma mensagem inbox pelo facebook que é impossível que no céu ou no inferno não tenha banda larga.
A mariposa de asas abertas tinha uns desenhos que parecia os olhos de uma coruja me olhando.
Parecia, mas não era.
Além do mais o único inseto que eu tenho medo é maribondo.
Porque maribondo é sinistro para caralho.
Agora, não vai ser uma borboleta metida à besta que...
Mermão... ela veio voando para cima de mim no ataque soviético, acredita?
Fiz o que qualquer macho das selvas faria:
Saí correndo.
Sabia que elas possuem um pó na saliva que se cuspir nos seus olhos, te cega?
Sério! Nunca ouviu isso não?
É verdade, vi no Discovery Channel. Juro!
Peguei uma camisa e começamos a duelar... eu e a Bruxa, as 03h42min da madrugada.
Eu rodava a camisa com a destreza de um Bruce Lee com nunchaku, mas a Mariposa Bruxa antevia todos os meus golpes como se fosse médium.
Depois de acertar o quadro, o ventilador, o relógio e um porta retrato, peguei de jeito a dita cuja. Com o solavanco que tomou foi parar longe, direto ao chão.
- Aha! Touché!
Percebi que no ossinho anelar da minha mão direta, uma pelinha levantada mostrava um sangue minando por conta da pancada no porta retrato.
- Chupei vento devagarzinho e dei um beijinho para sarar.
Venci.
Me aproximei do inseto lepidóptero que agonizava no assoalho da minha sala.
- Você vai aprender a nunca mais se meter comigo, animal nefasto.
Essa minha frase foi até dublada pelo mesmo cara que faz a voz do Silvestre Stallone.
Mirei o cabo de vassoura no meio da testa da bicha.
Não tinha como errar, pois sou muito bom de sinuca. Não sei se já comentei isso, mas o Rui Chapéu, antes de me conhecer, era só Rui.
Tal qual um inquisidor, olhei bem dentro dos olhos da Bruxa, bem lá no fundo.
Ajoelhei-me e olhei mais de perto.
- Curioso.
De alguma forma bizarra, a Mariposa deitada de barriga para cima, toda aberta, peluda e vulnerável, lembrou-me uma vagina.
Larguei a vassoura num movimento greenpeaceano.
E fui chegando meu rosto mais perto dela.
Muito mais perto.
Dava para ver o suor escorrendo nos pêlos dos grandes e pequenos lábios.
Inconsequentemente fui tomado por uma vontade de beijá-la.
A ponta da minha língua quase tocou a sua...
Quando bruscamente despertei do feitiço.
Por isso ela é chamada de Mariposa Bruxa. Elas são cheias de artimanhas.
Esmaguei a cabeça dela com a vassoura e joguei o cadáver pela janela.
A velha de cabelo azul, do outro lado do prédio, ainda me observava.
Imóvel como se empalhada fosse.
Desviei o olhar.
Nunca olhe nos olhos de uma bruxa.
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o que vai acontecer com você, né?
o que vai acontecer com você, né?
hahahah...a velha de cabelo azul nunca contou essa estoria pra ninguem, iam dizer q ela estava gaga..mas esta rindo ate hoje.
ResponderExcluirClaudia