sábado, 27 de abril de 2013

Era uma vez um sabiá.


Bebi como se não tivesse amanhã. Teve!

Sabe como é né? Nunca deixo um virtuoso vinho em vão. 
No dia seguinte acordei para trabalhar precisando daquele famoso remédio milenar criado pelos astecas feito a partir do néctar das margaridas do norte da Galiléia. A nossa boa, velha e naturalíssima: Coca-cola.
Ela  mesma que desentope privada, limpa ferrugem de prego, bronzeia a pele, lubrifica o cólon do útero, regulariza o pH e...cura ressaca.

Chegando na padaria da esquina...

- “Vem cá, você que é homem...”

Era a formosa filha do padeiro.
Olhos de menina,  jeito de moleca e corpo de surfistinha de bodyboard. Não é assim nenhuma dançarina do Faustão, mas é uma moçoila daquelas para namorar no sofá de mãos dadas.

Homem casado perto de mulher solteira é igual diabético em dia de São Cosme Damião.
Por mais que sinta o cheiro da paçoca, sabe que não pode meter a mão no saco.

 - "Vem cá, você que é homem..."

Geralmente essas frases, que "homem" vira adjetivo, é para fuder a gente.

Estiquei a coluna, estufei o peito, encolhi a barriga, ajeitei o cabelo, limpei a garganta e dei uma coçada no queixo.

- Pois não?
- “... me ajuda?"

Confesso que acho todos os animais do planeta umas obras maravilhosas da natureza, mas não tenho todo esse amor incondicional que algumas pessoas nutrem por eles.
Apesar de todos os males, ainda me dou melhor com os seres humanos.

E um sabiá laranjeira encontrava-se na calçada, um tanto amuado e tristonho. Não voava por algum motivo.

Mas o que diabos eu poderia fazer para ajudar o bichinho penoso?
Boca a bico? Massoterapia? Orar para Jesus? Dá dez reais para ele?

- “Olha só como ele está.” 

Tirei os óculos com o charme de um Dr House  e examinei a situação.

- Tadinho...
(Isso foi realmente de coração, porque passarinho é tudo bonitinho, né?)

Agachei-me tal qual um cadete da aeronáutica e resgatei o pobrezinho com as duas mãos. Com todo o cuidado possível.
Olhei para ele bem de perto,  nossos olhos negros e brilhantes se encontraram como se Saint Exupéry tivesse escrito aquele momento.

Pela carinha do passarinho entendi exatamente o que ele precisava: De um pouco de ânimo e incentivo amigo.

Tomado por uma força sobrenatural, fiz o que qualquer rapaz gentil, jovial e atlético faria:
Estupidez

Flexionei os joelhos e o cotovelo num movimento só, tal qual uma catapulta e arremessei o bichinho para cima. Tão alto, mas tão alto, mas tão alto que ele chegou a ultrapassar a altura da amendoeira.

Vendo o pássaro superimpulsionado, sentindo novamente a brisa refrescante da vida e cheio de ar puro nos pulmões, só lhe restaria bater as asas e voar, desaparecendo no anil do azul, ao som de “We are the champions”

- Missão cumprida!

Capaz até de eu ganhar uma rosquinha caramelada, quem sabe?

Meu orgulho só foi espatifado pelo grito desesperado da Formosa Filha do Padeiro.

- “Nããããããããããããããããããããããoooooooooooooooooooooooooooo!”

Só percebi o elo fraco do meu plano quando vi o sabiá sofrer toda a força gravitacional que lhe é de direito, e retornar para a Terra, feito um Tomahawk em direção ao chão.
Sem esboçar nenhuma tentativa de bater as asas.

- Ô,ô...

Voa sabiá! Voa sabiá! Voa sabiá! Voa sabiá!

- “Pega ele!”

Se pegar sabiá caindo fosse esporte, eu seria péssimo nele.

Além do mais, o sol me atrapalhou.

O som da queda fez até o meu coração sobressaltar.

Era uma vez um sabiá.

Num misto de horror, ódio e perplexidade, a Formosa Filha do Padeiro apunhalou minha alma com os olhos entre uma pena e outra que flutuava entre nós.

Sem graça e sem palavras, só me restou pôr os óculos e o desfecho:

- Deus sabe o que faz.

MORAL DA HISTÓRIA: Nunca mais ganharei rosquinha de caramelo de graça.

Em homenagem a memória do guerreiro sabiá laranjeira, 
vamos espalhar essa história pelos quatro ventos da internet. 

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