quarta-feira, 17 de abril de 2013

A mirabolante história de Jatumama



A mirabolante história de Jatumama

Moreno jambo de olhos castanhos e amendoados, tinha feições “jacarandescas”, rosto quadradão, e um nariz largo e grande parecendo a metade vertical de uma pêra.
A arcada dentária inferior projetava-se um pouco mais que a superior, feito a mandíbula de um babuíno.
Era bonitão de um jeito esquisito.
Ele era bem maior que eu também. Quando andava as costas das mãos quase roçavam o chão.
Mas na verdade, era grande, forte e bobo.
Um clichê ambulante.
Mas era um bom amigo, seu nome: Jatumama.

- “Tá falando com quem, porra?”
- Estou introduzindo você como coadjuvante do meu conto, numa tentativa um tanto apelativa de fazer com que os leitores se simpatizem logo de cara com o personagem.
- “Que leitores?”
- No futuro eu terei leitores nunma coisa chamada internet.
- Inter... o que?
- Deixa para lá!
- “Calma aí! Calma aí! Se você vai escrever sobre mim, não esquece de mencionar que eu sou foda e que tenho uma ferramenta grande!”
- Pode deixar.

Jatumama era foda e tinha uma ferramenta grande!

Comia todas as menininhas da cidade e ainda saía de pau duro atrás de João do Santo Cristo.
Sua clava era motivo de burburinho entre ouvidos femininos.

Nessa época eu namorava uma menina muito bonita chamada...

- “Areia Mijada!”

Não, o nome dela não era esse e ela não tinha cara de areia mijada.

- “Tinha sim!”

Tinha nada! Mentira dele.
Era uma gatinha, delicada e gente boa.

- “Tá... era bonitinha... mas tinha cara de areia mijada.”
- Jatumama...
- “Só assume que ela tinha cara de areia mijada.”
- Eu não vou assumir até por...
- “Assume!”

Só porque ela tinha uns furinhos na bochecha, ele...

- “Assume!”

Nem dava para ver direito!”

- “Assume!”
- Tá bom! Tá bom... Ela tinha cara de areia mijada.
- “Ah... bom.”
- Mas presta atenção, não é assim que o Conta Uma funciona. Você é do passado! Quem conta a história sou eu. Tchau!

Enfim... Voltando ao assunto...

Areia Mijada tinha uma prima mais velha que inacreditavelmente se apaixonou por Jatumama.

Ela era simples, rica, hippie e chique.

Um dia um tal amigo dela, cheio da grana, ia dar uma grande festa de aniversário e nós fomos convidados por tabela.

Não vou dizer que eu era desses que sabia escolher o talher correto para comer todas as coisas. (Nem hoje sei!)
Mas pelo menos se me desse um garfo e uma faca eu sabia como segurar.

Mas Jatumama que era suburbano-mazzaropi-shrekiano.
 Ficou tenso de encarar a nata coalhada da sociedade dominante.

- “Porra, festinha de mauricinho é foda!”

Festinha de mauricinho é foda mesmo!
 Aquele monte de homem com cara de “cheira pum” e um monte de mulher com cara de “chupo não”.

E pobre, sabe como é, né... tem o cacoete de chamar atenção.

- Jatumama... nós somos convidados... fica tranquilo!
- “Se um merdinha daqueles vier de gracinha para cima de mim a porrada vai comer.”
- Não vai ter nada disso! Está louco?

A festa parecia o aniversário da Smurfete. Só tinha macho.
A diferença é que ao invés de azuis, eram todos brancos.
De preto, só eu e o caviar.
E vou dizer que me acho muito mais gostoso que ele.

Areia Mijada... (sacanagem chamar a garota assim...)
 e Hippie Rica vieram nos receber da melhor forma possível.
Com sorrisos e beijos.

- “Vou apresentar vocês ao aniversariante.”

Hippie Rica foi feita por um Deus inspirado no photoshop do Diabo.
Era caliente, esvoaçante e tinha olhos dignos de serem expostos no Louvre.

Assim que acabamos de sermos apresentados a todos os 12 homens da festa, reparei que eles eram simpáticos e refrescantes demais.
O aniversariante então, soltava até luz por onde passava.

- São todos gays, Jatumama.
- “O que? Onde? Como?”

Jatumama olhava ao redor como se eu tivesse dito que eram todos vampiros.

- Disfarça e deixa para lá.

Mas Jatumama, texano de Belford Roxo ficou travado.

E tome whisky.

A casa da bicha era tão fina que demorei vinte minutos para descobrir como que abria a torneira.
E mais dez para achar a descarga.
Dava para lamber o chão inteiro de tão limpo e cheiroso.
Mas achei prudente não lamber.


Jatumama, se agarrava a Hippie Chique como se fosse um coelho numa festa de coiotes.

- Cara, fica tranquilo que ninguém vai te agarrar, não.
- “Sei lá...”
- A não ser que você queira.
- “Coé brother?!”

A verdade é que a festa estava muito farta e divertida. Uns caras se beijavam na deles, outros dançavam e a gente bebia, ria e falava besteira.
Hippie Chique, assim como Areia Mijada... (Não dá! Posso chamá-la de Amy? Posso? Obrigado!)

Hippie Chique, assim como Amy, eram ótimas e muito mais maduras, evoluídas, desinibidas e para frente do que a gente.

Então não foi nenhuma surpresa quando Hippie Chique virou a cabeça toda risonha trazendo nos dentes um cigarrilho do capeta.

Meu único pecado que até então tinha sido misturar guaraná num Gold Label legítimo, somou-se aos tragos que dei na famosa cannabis sativa.
Inebriado pelo poder da fumaça mágica e afrodisíaca com uma linda garota em meus braços e um copo duplo de whisky na outra, fiz o que qualquer macho alfa faria: Apaguei

Feito a Branca de Neve ouvindo o Dunga cantar.

A pressão sanguínea desceu pelo ralo e levou minha alma da festa.
O efeito do negócio era forte.
Dormi no colo da menina feito um recém nascido.

Acordei na cadeira da piscina com Amy dormindo no meu ombro.
Isso me deu uma escoliose irreversível e os ligamentos do meu braço esquerdo nunca mais foram os mesmos.
Não consigo nem apertar o tubo da pasta de dente com essa mão.
A boca ressecada parecia a de um Dragão de Komodo.
Os olhos idem.
Na verdade a coordenação motora também.
Acho que até cauda eu tinha.

Olhei para um lado... um bem-te-vi... olhei para o outro... uma garrafa de vodka refletia poeticamente o sol nascente.

- Cadê Já-tu-ma-ma Mogli da Selva?

Fui procurá-lo.
Casa de rico até bagunçada é bonita, né?

- Alguém transou na cozinha.
Bebi seis litros d’água e comi uma torrada seca sem manteiga por precaução.

Hummmm...

Ouvi umas vozes vindas de dentro de um cômodo de porta fechada.
Do lado de fora da porta, tinham quatro interruptores.

- Vou sacanear.

Acendi todos de uma vez com uma palmada só.

Mermão... Na mesma hora, surgiram de dentro do quarto dois revoltados com olhos de Medusa e nariz branco.
Parece que um dos interruptores ligou o ventilador e isso não foi nada bom para o que eles estavam fazendo.
Espalhou tudo...

- Desculpa! Foi mal!

No latim chama-se: gafis quasum deum mortis.

Já tinha feito a merda, continuei minha busca atrás do honorável.

Tinha um quarto grande de porta entre aberta.
Pela fresta da porta, eu vi o traseiro da Hippie Chique de calcinha.

Sem comentários... Imaginem.

Abri a porta com a desenvoltura de um samurai e vi um corpo semi nu ao lado da menina.

Era o dono da casa.

- Hummmm...

Entrei sorrateiramente e vi as roupas de Jatumama no chão.

- Hummmm...

O quarto tinha uma outra porta que eu “sherlockmente” abri.

Era a porta do closet gigante com um banheiro dentro. Tudo branco.

Tinha ternos caros, sapatos brilhosos, cuecas de seda... e no canto esquerdo estava o desgraçado pelado, dormindo agarrado com um labrador que eu nem tinha visto na festa.
Na banda esquerda da bunda do filho da puta... sangue coagulado.

- Que porra aconteceu aqui, maluco?

Jatumama com dois xis no lugar dos olhos.

- Jatumama! Jatumama! Jatumama!

Chutei sua orelha com o meu sapato bico fino.

O cachorro levantou a cabeça junto com o zumbi que despertou de uma vez só, todo arqueado igual siri na panela.

- “O que? O que foi?”
- O que foi é o caralho! Que diabos aconteceu aqui, maluco?

Sussurrando para não acordar os vampiros.

- “Porra!”

O cachorro que não precisava dar explicações saiu do quarto de fininho.

Jatumama se escorou nas gavetas e começou:

- “Cara! Esse pessoal é maluco.”
- Isso eu sei. O que houve?
- “Não me lembro muito bem, só sei que depois que você morreu, nós continuamos bebendo muito. Acabei ficando muito doido.
- Não me diga!
- “Aí Hippie Chique, muito louca, me arrastou aqui para esse quarto para gente transar”.
- Han.
- “De repente ele apareceu.”
- O cachorro?
- Não, o viado. Disse que só queria olhar e tal.
- Hannnn...
- De repente Flufy subiu na cama.
- O apelido do viado é Flufy?
- “Não, Flufy é o cachorro.”
- Han.
- E do nada ele começou a arranhar minhas costas.
- Flufy?
- “Não, o viado.”
- No susto e sem querer, dei uma porrada com o braço no rosto...
- Do viado?
- “Não, da mulher.”
- Porra Jatumama!
- “Estava tudo muito escuro e confuso.”
- Tá, e aí?
- “Virei para pedir desculpas e tomei uma mordida na bunda.”
- Da mulher?
- “Não, do cachorro.”

Pausa porque nessa hora tanto faz se era verdade ou mentira, tive que cair no chão de tanto dar gargalhada.

- “Acho que o cachorro ficou nervoso na hora e me atacou”.
- Puta que pariu...
- “Doeu, tá.”

Gargalhei de peidar.

- “Chegou a tirar sangue. Aí eu fui no banheiro para limpar.”
- Hummmm...
- “Quando eu voltei eles estavam se pegando.”
- Quem?
- “Hippie Chique e o viado, ora! Quem mais?”
- Sei lá, porra!
- “Aí eu sem saber o que fazer, deitei no chão e acabei dormindo.”
- E o cachorro dormiu com você por que?
- “Acho que ele veio numa de pedir desculpas e ficou.”
- Jatumama... Você só pode estar de sacanagem de achar mesmo que eu vou acreditar numa história mirabolante dessa?
- “Mas foi verdade.”
- Olha só, na boa!  Se você comeu o cara, se comeu a mulher ou se comeu o cachorro, ou se todo mundo te comeu nem me interessa.
- “Qual é! Fala sério!”
- Sério. Ou você me conta a verdade ou nem precisa falar nada e a gente não toca mais nesse assunto.
- “Cara..estou te dizen...”
- Fala a verdade!
- “Juro que...”
- Somente a verdade!
- “Mas...”
- Nada mais que a verdade!
- “Ok. Quer saber mesmo?”
- Fala.
- “Quem mordeu minha bunda foi o viado.”

Só sei que depois que Jatumama saiu daquele closet nunca mais foi o mesmo.

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5 comentários:

  1. VOCE COMO SEMPRE RELATA COM MUITA SABEDORIA E ARTE , PARABENS E SUCESSO SEMPRE.

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  2. A sua habilidade em relatar uma história é muito especial. Muito bom.
    Sua sogra.

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  3. Gostei muito adoro contos,indica o q vc mais gosta.

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