Nunca
fui sambista.
Mas digamos que eu fico entre a ginga do Carlinhos de Jesus e o samba no pé do Marquinhos
Satâ.
Ou
seja, entre o bem e o mal, eu fico no purgatório do samba.
Mas
o problema de ser preto é que todo mundo acha que a gente tem que sambar para
caralho.
Além
de correr muito, jogar futebol e ter um pênis de Girafa.
E
principalmente, somos obrigados a tocar algum instrumento.
Com
essa cara de músico que eu tenho, qualquer samba que eu vá, colocam logo um instrumento no meu colo.
Mas
eu só sei tocar “Cai cai balão”, mesmo assim em piano de criança.
Ia
rolar uma festa de aniversário
do filho do dono da empresa: Fera
Teria
uma roda de samba daquelas. Só com bambas!
Quando
eu cheguei na festa um dos músicos me deu logo uma gravata:
-“Agora
sim!” Gente! Esse aqui é o Pantera (Um dos meu apelidos!), partideiro de marca
maior, músico, e vai tocar aqui com a gente."
Não sei de onde ele tirou isso, mas eu
não desmenti.
Dei um sorriso Garfieldiano para galera, fiz um oizinho com os dois polegares e mandei uma
descaída para a esquerda.
-
“Ô Pantera! Chega aí!”
-
Já vou, já vou!
Apontei
com a sobrancelha para a mulher ao meu lado.
Eu
estava acompanhado da Luana, e era uma das primeiras vezes que a
gente saía juntos.
Sentei
com ela numa mesa e comecei a beber.
Mas
a medida que o samba rolava e o pessoal não dava trégua:
-
“Ô Pantera! Porra!?”
-
Calma aí!
E não
desmenti.
Acho
que eu estava querendo tirar uma onda com a mulher.
Nervoso,
comecei a fazer o que eu faço de melhor: Beber!
O Fera insistia:
-
“Porra, Panterote! Bora fazer um samba com a gente!”
-
Só um minuto!
Existem
mentiras que você precisa exterminar do começo.
Senão
ela cresce.
O
lugar começou a esquentar e eu a suar.
-
Garçon, por favor, trás aquela igual canela de pedreiro!
-
“Como?”
- Russa...
E
toma cerveja para dentro.
A
Luana estava toda interessada:
-
“Eu adoro samba, não sabia que você tocava!”
-
É...mais ou menos.
(Uma
gaita de fole e um cavaquinho, na minha mão dão no mesmo!)
Comecei
a beber igual a camelo com ressaca.
O Fera chegou na mesa.
-
“Você está uma estrelinha mesmo hein!”
-
Cara! Estou só esquentando.
Passei
para o vinho.
Comecei
a piscar para ver se rolava um “Jeanne, o gênio”.
Nada.
De
repente...
-
“Nilze Carvalhoooooooooooooo!”
Uma
das maiores cavaquinistas do mundo acabava de chegar.
Com a força que eu fiz para engolir eu quase me caguei.
-
Glup!
O Fera chegou no meu ouvido:
-
“Porra Pantera, a Nilze esta aí, vai fazer essa desfeita?”
Passei
para o Whisky.
Após
beber tudo que tinha na festa, claro, fiquei
bêbado.
E a Nilze, simpática toda hora, sentou na roda, ajeitou o microfone e começou a tocar.
A
Luana estava empolgadíssima:
-
“Nossa, Nilze Carvalho é maravilhosa, né?!”
-
É mesmo!
A
festa foi rolando e eu fui bebendo mais ainda.
De
repente vem o microfone:
-
“Gente, o samba é de todo mundo, quem quiser pode chegar!”
-
“Vem Pantera!”
Aí
fudeu...
Quando
estou bêbado, ganho algumas habilidades sobrenaturais.
Pena
que voar não seja uma delas.
Luana batendo palma igual uma foca:
-
“Vai lá Angelo!”
A Luana, a roda, os convidados, a Nilze e o Fera, todos me olhando.
Virei
o copo igual Dr Jekyll:
(Incorpora Cartola! Incorpora Cartola!)
Nada.
Mas fui assim mesmo me juntar ao grupo de samba.
Quando
sentei me deram um microfone mas eu assoprei igual vela de bolo. Apontei
para a garganta.
Me deram um bandolim, queimei a mão como se fosse panela quente.
Me
deram um tan tan eu o rodei e devolvi.
Me
deram uma cuíca, passei adiante mais rápido que cheque sem fundo.
Me
deram um pandeiro, dei um tapinha e passei para o lado igual puta feia.
Porra,
só me davam instrumentos que eu tinha que saber tocar.
Deve
ter algum instrumento que você possa tocar sem saber.
O
cara do violão, puto, bateu com um ganzá no meu peito.
Eu
tenho ritmo! Ganzá é chocalho, qualquer idiota toca.
Descobri
que não.
Consegui
a proeza de acabar com o samba apenas com um ganzá.
De
repente percebi que não era eu que sacudia o chocalho, mas sim o chocalho que
me sacudia.
Atravessava todo o samba, mas fazia cara de sambista.
A cabecinha solta parecia aquelas tartaruguinhas de madeira.
Na
minha mão a porra daquele ganzá parecia uma serpente epilética.
Depois
de três músicas, o Fera veio ao meu ouvido igual um alien pronto para arrancar meu cérebro com a língua:
-
“O que você está fazendo?”
-
Estou tocando, ué?
-
“Acredite em mim, não está não!”
Pegou
delicadamente o ganzá da minha mão e com um passo de tango me jogou lá na minha
cadeira novamente.
A
Luana por mais a fim de mim que estivesse, não teve como negar:
-
“Você acabou com o samba!”
(Jura?)
-
É porque meu forte mesmo é o violoncelo!
Peguei
a mulher e comecei a dançar.
Me
empolguei tanto dançando que quando eu vi já estava com outra mulher nos
braços.
E
depois a irmã do aniversariante, a mãe, a tia, a vó...
Quando
chegou na prima, ela veio com esse papinho de rodar.
Congela!
De
quem foi essa infeliz ideia de ficar rodando na dança?
Forró, pagode, samba, maxixe, a gente dançava agarradinho, roçando virilha.
Mas
algum iluminado achou legal ficar rodando o tempo todo.
E esse bosta com
certeza não bebia.
O mundo começou a rodar e a mistura de álcool começou a fermentar no meu estômago.
Eu fechava
e abria os olhos devagarzinho igual boneco de ventríloquo.
Aí
veio aquela chamada no estômago como se fosse baixar uma caboclo.
O
diabinho do meu lado esquerdo falou:
-
“Corre para o banheiro!”
E
o diabinho do meu lado direito falou:
-
“Foge!”
Eu
não tenho anjinho.
Para
não desmaiar ou vomitar na festa, dei uma de Mandrake e desapareci.
O
problema é que a festa era num Iate Club.
E
para sair tinha que subir uma rampa gigantesca.
Nem
era tão grande assim, mas na hora parecia o Kilimanjaro.
Fiz
o que qualquer homem decente faria:
Subi
de quatro.
Eu
só tinha um pauzinho de energia corporal e já estava apitando.
Igual o Espectreman.
O apagão era questão de minutos.
A
rampa terminava numa rua, e essa rua não passava ônibus...
Nem
táxi, nem barco, nem carruagem, nem
aquele dragão rosa com cara de cachorro do filme “História sem fim”.
Muito menos aquelas
gaivotas brancas do pequeno príncipe.
Sentei
na calçada e encostei no poste para descansar e ir andando.
A
última coisa que lembrei é que tinha esquecido a Luana lá.
Puta que pariu....
A
calçada estava tão confortável que parecia aquela toalha macia que o Ursinho de pano se jogava no
comercial do amaciante, lembram?
Lembro
que minha mãe apagou a luz, me deu um beijo na testa e disse:
"Boa noite".
Dormi
profundamente.
Falei que essa
rua era uma descida?
E
eu saí ridiculamente rolando enquanto dormia.
Os
carros passavam por mim, sendo desviados apenas pela divindade que protege os bêbados
e as crianças.
Parei na curva.
Acordei em casa no outro dia sem nenhuma idéia de como tinha chegado.
Será que finalmente me teletransportei?
Não.
A
festa acabou horas depois e os convidados começaram a sair.
Ninguém
repara na cara do mendigo dormindo na rua de noite.
Apenas
um convidado me reconheceu e parou para me resgatar.
Meu
patrão.
Soube que ele veio me dando um sermão daqueles.
E
quando me deixou na porta de casa, em vez de agradecer, eu mostrei o dedo do
meio para ele.
Imagina a vergonha?
Nota:
Quanto mais você divulgar melhor o blog fica.
Então compartilhem em suas redes sociais, comentem com o amigos, gritem pela rua, tatuem pelo corpo...
meu, você não existe kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirAdorei!!!rsrsrs
ResponderExcluircaralhooooooo uahuahuhauhau
ResponderExcluirCaraca... você se supera.... MEDO das próximas... Abs...
ResponderExcluirE minha filha ainda casou com vc.....
ResponderExcluirSó acredito porque te conheço! Só você, Angel! kkkkk
ResponderExcluirPutz!
ResponderExcluirBárbara
ResponderExcluirfui me desesperando a cada linha...
e lógico, morrendo de rir!`kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Cara, conselho base, que é até melhor do que desmentir de cara: NUNCA BEBA DEMAIS NA FESTA DO CHEFE.
Caraca!!!!
ResponderExcluirFiquei até ansiosa com a história!
Maneiríssima!
bjo, cumpadre!
Pri Gil
Sensacional cara!!! Huahuahuahauhauahuahauhauaaaa!!!
ResponderExcluirAcordei metade do prédio agora!!! =P
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
HUAHUAHAUHAUHAUHA rii demais com essa, uma das melhores
ResponderExcluirO dragão com cara de cachorro do filme “História sem fim” era rosa???
ResponderExcluirhahahahahahahahahahaha....adorei.
Sensacional! E aposto que sei quem era o chefe! ahahahaha
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkk fiquei igual a uma retardada rindo sozinha aqui!!!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk....PQP....fodastica....
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