Durante
a Rio+20 eu estava trabalhando o triplo e nem aproveitei o feriado forçado que
todo mundo ganhou para ficar em casa.
Falando
nisso, todos acharam que o encontro foi um fracasso.
Já
eu sinceramente penso exatamente o oposto.
Essa
reunião ocorreu exatamente para ver se o que eles combinaram na anterior ainda
estava de pé.
Ou
seja:
“Vamos
escutar, ninguém dá um pio e fica como está”
A
reunião foi um sucesso e saiu tudo como o esperado.
Tiro
por mim.
Nem passa pela minha cabeça parar de comer meu saboroso eggcheeseburguer mesmo sabendo que gasta-se pelo menos quinze mil litros de água na produção de apenas um 1kg de carne.
Nem passa pela minha cabeça parar de comer meu saboroso eggcheeseburguer mesmo sabendo que gasta-se pelo menos quinze mil litros de água na produção de apenas um 1kg de carne.
E
eu lá quero saber da natureza enquanto compro, compro, compro uma merda atrás
da outra feito um imbecil, desvairado e desesperado?
Queremos
mais é ser felizes escancarando nossa individualidade mesmo que para isso seja
preciso possuir mais e mais coisas para no fim ficar igual a todo mundo.
Eu
sou um idiota, egoísta, tosado e capitalista.
Alguém achou mesmo utopicamente que superpotências econômicas deixariam de ganhar zilhões em prol do
planeta Terra?
Me
dá logo o iphone 15 que eu quero mais é que o planeta se foda!
Daqui
a vinte anos tem outro encontro.
Se
eu fosse eles botavam logo para coincidir com o carnaval.
Mas
não é nada disso que eu ia falar. Desviei do assunto completamente.
Pardon!
O
fato é que tirei um dia de folga com uma semana de atraso.
Percebi
que estou da cor da minha bunda.
Não existe melhor lugar no mundo para relaxar do que uma bela praia.
Mesmo no inverno.
Não existe melhor lugar no mundo para relaxar do que uma bela praia.
Mesmo no inverno.
Eu
gosto da praticidade praiana carioca, mas em Niterói as praias não são rodeadas
por prédios, pelo contrário, são rodeadas por montanhas e bastante verde.
Chegando
à maravilhosa praia de Itacoatiara, me embriaguei com a sua paisagem, mandei um
beijo para o tímido sol, fiz meu ninho na areia e peguei um livro que estava na
pilha dos que eu preciso ler há anos:
"Teatro do Oprimido."
"Teatro do Oprimido."
Quem
me deu foi uma amiga, a Diaba dos olhos verdes.
E
tal qual o filme "História sem Fim", assim que abro o livro quem é que me salta aos
olhos?
Diaba
dos olhos verdes.
-
“Caramba amigo! Que sorte te encontrar aqui!”
-
É mesmo!
-
“Aqui! Vamos para Itaipu!
Uma
praia de pescadores ao lado, onde o pôr-do-sol é mágico.
-
Não, quero ficar aqui.
-
“Poxa, mas lá tem mesa, eu preciso escrever um texto importantíssimo.”
-
Não.
-
“Lá tem pinguim!”
-
Não.
-
“Tem tartaruga!”
-
Não.
-
“Mas Angelo! Eu descobri um barzinho ótimo lá...”
Diaba
é insuportável...
Além
de viver trinta e cinco dias por mês na TPM, ela faz de tudo para ganhar qualquer
discussão e para isso sempre arruma um jeitinho de introduzir Karl Max, Engels,
Movimento Sem Terra, reforma agrária e o poder manipulador da mídia no meio da
conversa ao mesmo tempo que arregala os olhos verdes na tentativa de
hipnotizar o oponente, feito um Louva-Deus.
Quando dei por mim, estávamos discutindo outra coisa.
-
“Mas o operariado, tomando consciência de sua situação, tende a se organizar e
lutar contra a opressão, e ao tomar conhecimento do contexto social e histórico
onde está inserido, especifica seu objetivo de luta.”
-
Tá bom Diaba, vamos para outra praia.
Lá
estava realmente mais tranquilo e o sol jogava um charme.
O
barzinho era todo de madeira, na beira do mar e o único som era o farfalhar das
bananeiras.
-
“Num falei que aqui era bom para relaxar.”
-
Tinha razão.
“Eu
vou ficaaaaaaaar, ficar com certeza maluco beleza...”
Surge
uma turma de coroas muito doida tocando Raul Seixas no violão e invade
exatamente a mesa ao nosso lado.
“Eu
sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar...”
Até
que o repertório era do meu gosto.
Ao
mesmo tempo o cachorro do bar cismou de fazer amizade comigo e toda hora trazia
um pedaço de pau para eu jogar longe.
Quanto
mais longe eu jogava mais rápido ele voltava.
De
repente uma dançarina muito louca começa a se sacudir numa dança do ventre.
Ela
estava somente de biquíni e sacou um lenço de chocalho e uma castanhola, sei
lá, do cu.
-
“Não é dançarina, quem faz dança é bailarina!”
-
Desculpe Diaba.
Esqueci
que Diaba também faz dança do ventre.
E
essa coincidência me chamou atenção para outra coisa.
As
duas se pareciam muito, só que com uns 20 anos de diferença.
E
aí, reparando melhor, vimos que todo nosso grupo de amigos estava retratado
ali.
Inclusive
eu. Estava barrigudo e careca, mas muito animado.
E
continuava casado.
O
amigo que tocava violão era igual ao nosso amigo que toca violão. Só era mais
gordo. Afinal de contas, passaram-se vinte anos. E vários outros!
-
“Será que a gente foi para o futuro Angelo?”
Juro
que nenhum entorpecente foi utilizado nesse dia.
-
Parece que sim.
Muita
loucura você se enxergar no futuro.
-
“Eu vou lá dançar com eles”
Diaba,
além de ser a minha amiga mais bonita, comunista, estressada e
bailarina...Também é completamente doida!
Uma
vez fez uma experiência.
Tomou
sozinha um vidro inteiro de tesão de vaca até chegar a conclusão de o negócio
não funcionava.
-
Se eu fosse você não encostava na Diaba do futuro não, hein!
-
Por que?
-
Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, pode dar uma merda.
-
“Dá nada!”
Fez
amizade com ela mesmo e foi embora dançando com o grupo mambembe e divertido
cheio de livros embaixo do braço.
Isso
porque ela disse que o lugar era tranqüilo.
Ficamos
só eu e o cachorro.
Tentei
relaxar e voltar a ler...
-
“Fala aí mais doido...”
Bokaya
é um ser ímpar.
Meu
amigo e gente do bem. Assim como a Diaba dos olhos verdes.
Eu
só me cerco de pessoas do bem.
Bem
doidas.
Bokaya
vive em slow motion e não liga para futilidades.
Usa
sempre a mesma roupa e economiza na lâmina de barbear.
É
muito tranquilo, na dele, inteligente, fala bem e transborda questões.
Bom papo.
-
“Cara, eu escrevi isso aqui, vê o que você acha.”
Era
um pedaço de papel, todo rabiscado, com várias setas, asteriscos e anotações. Tudo escrito a lápis.
- Porra Bokaya, já que vai escrever a mão, escreve com caneta, logo!
-
“Eu prefiro escrever com lápis, porque assim eu posso reorganizar meu texto e
apagar o que estiver errado.”
-
E por que você nunca apaga?
-
“Porque eu nunca tenho borracha.
-
Faz sentido.
-
“Vamos tomar uma em outro lugar?”
-
Partiu!
Após
dez cervejas estávamos discutindo futebol, religião, psicologia, física
quântica, filosofia e sexo.
“Esse
campeonato vai ser uma merda!”
“A questão é. Deus também está evoluindo?”
“Neurose só é neurose quando faz mal.”
“Essa
mesa na verdade pode nem estar aqui!”
“Se
soubesse de tudo, não ia querer saber de mais nada!”
“O
que é preciso mesmo é se rediscutir a própria discussão.”
-
“O sexo...”
-
“Senhor, boa tarde!”
A
garçonete do bar interrompeu a conversa.
-
“Não posso dizer quem foi, mas mandaram o senhor escolher qualquer lagosta do
cardápio que chegará aqui na sua mesa.”
Cantada
de macho.
Olhamos
para trás e demos de cara com uma mesa com dois gays, loiros, carecas, fortes, apertando os olhinhos.
Estilo: Raid Said Fred, em I´m Too
Sexy
-
Hahahaha...Puta que pariu.
Eu
não sei como que as mulheres engolem essas cantadas.
Bokaya
todo constrangido:
-
“Olha, sabe o que é...Eu sou alérgico a frutos do mar.”
-
“Ué menino, pede uma mandioca na manteiga, então!”
-
NÃO!
-
Moça, agradece a pessoa, mas diz que não vai rolar.
Rimos
o resto do tempo.
-
“Pescar Namorado com lagosta é foda.”
Passou
uma hora e meia, volta a garçonete:
-
“Olha, agora me mandaram oferecer um vinho.”
Ataque
soviético, saca?
-
Moça, eu sou casado e ele não está a fim. Agradece e ponto final, ok?
-
“Ok!”
Os carecas tinham ido para dentro do restaurante. Da nossa mesa na areia nem dava mais para vê-los.
-
É Bokaya, os caras estão apaixonado mesmo por você
-
“Com lagosta e vinho estão quase me conquistando.”
Ficamos
lá até o sol se pôr e fomos embora fugindo do frio e da noite.
De
repente um carrão buzina atrás da gente.
Desce
o vidro e revela-se uma mulher estilo Susan
Sarandon, cheia de charme:
-
“Olha, não liguem para a minha ousadia. Não sabia que vocês eram um casal.”
Ô,
ô..
-
“Han? Não, não...Não somos um casal...”
- Somo amigos!
-
“Eu sei, desculpe mesmo assim.”
Bokaya
desesperado:
-
“Eu sou mesmo alérgico a frutos do mar.”
-
“Frutos do mar? Eu te ofereci uma garrafa de vinho, querido!
E
foi embora com o carro.
Nem
entramos no mar, mas foi um banho de água fria no rapaz.
Eu ri.