sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dona Lagartixa


“É estranho que, sem ser forçado, saia alguém em busca de trabalho." 
Willan Shakespeare.

Hoje eu vou contar uma rapidinha pode?

Aconteceu ontem...

Procurar emprego é uma das coisas mais chatas da face da terra.

É por isso que sempre trato com respeito todas as pessoas que deixam o currículo aqui na empresa.

Confesso que algumas vezes preciso grampear meus lábios para não rir na cara do sujeito. E olha que a minha boca é grande.

Outro dia, recebi um currículo com todo o histórico escolar incluindo o último boletim da menina:
- Hummm...Muito bom! 9,5 em Filosofia. Contratada!

Outro veio com o teste do tipo sanguíneo anexado:
- Sangue 0-. É aquele universal, né? Interessante. Contratado!

Tinha um currículo com uma foto do corpo inteiro da menina estampada.
- Que gostosa! Contratada na hora!

Um dos mais legais tinha o telefone da mãe e do pai como referência de trabalhos anteriores.

Imagina:

- Senhor Fulano de Tal, por gentileza, gostaria de informações sobre o Fulano de Tal Jr.
- “É um menino de ouro!”
- Muito obrigado. Tá contratado!

Tirando esses que vão direto para o lixo, a maioria a gente arquiva.

Essa fez questão de ressaltar assim que me entregou o papel:
- “Meu filho, por favor, não joga fora não! Eu estou precisando muito de um emprego”.
- Pode deixar senhora, se aparecer alguma coisa eu ligo.
- “É que eu sei que tem pessoas que não gosta de gente velha”.

Ela nem era velha. Parecia uma... Uma lagartixa.

- Eu gosto.
- “Até parece! Ninguém gosta de velha!”
- Quero dizer que para gente isso não faz a menor diferença.

E arrematei:
Na juventude deve-se acumular o saber. Na velhice fazer uso dele.

(Eu já fui escoteiro)

(Mentira)

(Isso é Rousseau)

- “É isso aí! Garanto que sou melhor que essas novinhas com filho que vivem faltando o serviço. Eu nunca falto”.
- “É uma ótima qualidade...”
- E também não tenho medo de serviço pesado e nunca fico doente.
- Saúde é um ótimo atributo.
- “Você vai me ligar mesmo?”.
- Sim.
- “Jura?”
- Sim.
- “Olha lá hein!”

E foi embora.

Era uma coroa um tanto matusquela, mas demonstrou disposição.

Por coincidência, apareceu uma vaga para auxiliar de serviços gerais:

- Olá, Dona...Lagartixa, digamos assim.
- “Quem é?”
- Angelo Morse! A senhora deixou um currículo comigo.
- “Ah sim!”
- Apareceu uma vaga, poderia aparecer para uma entrevista?
- “Hoje?”
- Isso.
- “Hoje não posso, pode ser amanhã?”

“Hoje não posso” foi um tanto inadequado.

Mas tudo bem.

No dia seguinte...

- “Olá seu Angelo, muito obrigado por  ter me chamado.”
- Que nada!
- “A vaga é para que mesmo?
- Olha, é para auxiliar de serviços gerais.
-“Faxineira?”

Também não gosto de rodeios.

- Exato.
- Puxa vida...
- Ué, mas no seu currículo diz que a senhora trabalhou com isso nos últimos três empregos.
- Por isso mesmo, estou cansada.

Não demonstrava mais muita disposição.

- Bom, a vaga é essa.
- “E é para limpar o que?”
- Tudo.
- “TUDO!!??”
- É, né?
- “Eu e mais quantos?”
-Han? Não, não...É só você.
- “Caramba, mas é muita coisa para limpar!”
- Ninguém nunca reclamou.
- “E o horário?”
- De seis da manhã até às 15 horas.
- “SEIS DA MANHÃ!!!!???
- Abrimos às sete.
- “Mas seis da manhã é muito cedo.”
- Eu sei, mas eu mesmo chego às sete.
- “Concorda que é cedo?”

Eu estava bem humorado.

- Concordo.
- “Posso chegar oito?”
- O que? Ha...Não, tem que ser às seis mesmo.
- “Hummmm...E se eu fosse aceitar, começaria quando?”
- É para começar amanhã.
- AMANHÃ!!!!?????
- Estamos precisando com certa urgência.
- Não dá para começar só na segunda, não?
- Infelizmente, não.
- “Vamos fazer o seguinte. Eu chegoàs sete!
- Senhora, EU chegoàs sete, você tem que chegar às seis.
- “Mas é muito cedo!”

Liguei o IronicMode

- Bom, a senhora faz o seguinte. Vai para casa, relaxa, toma um suquinho de mangaba, tira um cochilo, pensa um pouco e me liga mais tarde quando estiver mais descansada.
- “Hoje ainda?”
- Sim.
- “Posso ligar amanhã?”
- Não senhora, amanhã já é para começar a trabalhar.
- “Então, tá. Vou pensar e te ligo.
- Ok!

Vai com Deus.

Já amassando o currículo e jogando na lixeira.

Não acreditei na conversa que tinha acabado de ter.
Perdemos tempo.

A noite ela me liga:

- “Seu Angelo, eu pensei, e achei melhor aceitar.”
- Que pena Dona Gorgonzola, mas a senhora demorou muito.
- “Poxa! Mas você ficou de aguardar a minha resposta.”
- E estou aguardando.
- “Então, estou falando que minha resposta é sim!”
- Já ouvi, está anotado.
- “Estou contratada, então?”
- Não, infelizmente eu já contratei.
- Mas essa pessoa é melhor do que eu em que?
- Ela aceitou na hora.
- “Me diz uma coisa, ela é novinha, não é?”
- É.
- “Sabia que você não gostava de velhas.”



15 comentários:

  1. credo, que véia chata kkkk

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  2. kkkkkkkkkkkkk....e depois nós é que não gostamos de velhos kkkkkkkkk

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  3. Essa história me parece familiar...kkkk
    Essa mulher é sem noção!!!!!!!

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  4. Muito boa.Como todas as outras. Andrea.

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  5. é a primeira vez que eu comento aqui, mas venho aqui sempre, já li todos os posts e morro de rir (até na tpm)! mas eu rio mesmo , não é aquele risinho tímido de quem tá na frente do computador. conta mais! beijos

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  6. HAHAHAHAHAHAHHA sensacional! A velhinha é de uma cara de pau ímpar, an?

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  7. Eu não acredito que vc pegou a mulher do Bonito!!! E que não são mais amigos. Ele está perdendo as histórias!

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  8. hahahah...tb ja passei cada uma qdo faco entrevista q da um livro.hahaha..mas essa eh campea!

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