segunda-feira, 16 de abril de 2012

Olhos vermelhos




“De olhos vermelhos, de pêlos branquinhos...”


Não! Não era o coelhinho!


Era um afro descendente de uns seis metros de altura, forte para caralho, cheio de cachaça e cocaína na narina.


- “Quem é o gerente dessa merda?”


Esse era um dos raros momentos que os funcionários abriam um sorriso igual o gato da Alice:


- “É aquele ali!”


E apontaram para mim.


Eu já tinha trabalhado em várias boates, mas essa era um baile funk na periferia.


A cerveja era mais barata do que uma bala, as mulheres eram mais baratas do que a cerveja, bandidos achavam que eram polícia e a polícia achava que era Deus.


Tudo regado ao funk da pior qualidade:

“Chupa aqui, senta lá, chupa aqui senta lá...”


Mais ou menos isso.


Claro que não eram todos os freqüentadores que eram assim, mas a metade já era milhares.

E era muito mais da metade.

E não estou falando da galera pobre, não! A galera da zona sul era igual!

A mulambice não está na carteira da pessoa.
Esta na alma!

A boate era uma concentração bizarra e gigantesca de pessoas descontroladas.

Minha área de atuação era do lado de fora.

Geralmente onde os problemas ficavam maiores e mais perigosos.

A imagem da multidão saindo, parecia uma tsunami de lava de vulcão dos infernos.


E sempre tinha um com a necessidade de arrumar problema.


- “Você que é o gerente dessa merda?”


O bafo do negão mudou a cor dos meus olhos e do meu cabelo.


- Sim, pois não! O que posso ajudar?


Eu posso ser um gentleman também.


A ventania fazia o cara balançar de um lado para o outro.

Qual é o nome daquele vento famoso mesmo?
Lembrei: Álcool!


- “Roubaram meu carro e você vai pagar agora!”


Apontou o olho de Sauron para mim.


Mas eu também não metia o galho dentro, não! Sou macho!

(E claro, tinha 10 seguranças).


- Primeiro: Fale mais baixo por favor!

- Segundo: Onde o senhor estacionou o veículo?


O negão abriu os braços e dava uns cinco metros de envergadura.


O cordão de prata era tão grosso que dava para amarrar umas vinte motos.


Percebi que ele era todo tatuado.

(Tatuagem em pele muito escura, se não for de Liquid Paper ou florescente, dá um efeito meio sinistro, né?).


- “Vai tomar no cú, você não sabe onde eu parei meu carro?”


Tinham três seguranças perto que olharam para mim.


Eram eles: Tapa de ferro, Pit Bull e Sagat.

(Um dia eu falo sobre todos os dez seguranças, hoje não.)


Por muito menos aquele cara poderia ter tomado uma na orelha, mas nós somos seres civilizados ou não somos?


Olhei de volta para os seguranças e fiz que não com a cabeça.


Eu sou bom de papo.


Ia resolver na diplomacia.


- Meu senhor, olha o tamanho do estacionamento! São centenas de carros. Não dá para eu saber qual carro é de quem, concorda?

- “Mas o meu estava estacionado bem aqui, porra!”


Apontou para um espaço vazio.


- Cadê a chave senhor?

- “Está aqui na minha mão!”

- É mais difícil roubar um carro sem as chaves, não acha?

- “Tá me chamando de mentiroso, seu babaca?”


Tapa de Ferro chegou mais perto fazendo cara feia.

(Eu já vi um magrinho abusado voar por cima de nove carros com um sopro do Tapa de Ferro, acredite se quiser!).


- Não estou lhe chamando de mentiroso, mas é possível que o carro não tenha sido roubado. Qual é o carro?

- “Um Chevette preto, placa JJJ 8483!”


Peguei o rádio:

- Alguém perto de um Chevette preto, placa JJJ 8483?

- “Tá aqui gerente!”


Do outro lado do estacionamento. O lugar era enorme!


- Viu? O senhor está enganado, apenas estacionou do outro lado!

- “Estacionei porra nenhuma! Alguém tirou daqui e levou para lá!”

- Pode ser...Deve ter sido o Yeti que mora ali atrás.

- “O que?”

- Nada não, vamos lá pegar o seu carro.


Botamos o sujeito dentro do carro, mas ele nem agradeceu. Óbvio!


- Vá com Deus!

(Como se algum ser divino fosse entrar naquele carro maldito!)


Eu até hoje não sei como tanto carro conseguia sair ao mesmo tempo, pelo mesmo lugar, com tanta gente alcoolizada dirigindo.


Pela proporção, até que quase nunca tinha batida.


Mas às vezes...

- BUM!


Viramos de costa e vimos que era o Chevette do negão.


Quando ele abriu a porta e estava com dez metros de altura.

Muuuuuito puto!


Transtornado.


- “Filho da puuuuta! Como que você me dá uma ré dessas?!”


A gente não viu quem tinha errado, só vimos a traseira de um Honda agarrada na outrora frente do Chevette preto.


O negão deu três marteladas no caput do Honda.


BUM, BUM, BUM


- “Responde seu babaca!”


Aí eu chamei todos os dez seguranças pelo rádio.


Senão o cara do Honda, certo ou errado ia morrer.


Tanto que ele nem saiu do carro.


E o negão, feito um tocador de pandeiro de mármore, batia com a mão aberta que mais parecia uma pá de lixo, no caput :


PUM, PUM, PUM!


- Como é que você me dá uma ré dessas filho da puta!”

- “Sai daí de dentro, seu viado!”

- “Eu vou te matar desgraçado!”


Praticamente um monstro de vinte andares esmagando Tóquio.


Eu vi sair um maribondo da boca do maluco.

Juro!


Tive que intervir.


- ÔôôôÔ! Meu amigo! Calminha aí! Acidentes acontecem!

- “Calma aí é o caralho! Acidente porra nenhuma! Você viu a ré que esse filho da puta deu para cima do meu carro?”


Ele se escorou em outro carro para não cair.


Olhei para Tapa de ferro, que chegou junto dele.

Pit Bull e Sagat também fizeram a contenção.


- Amigão! Deixa o cara sair do carro para gente resolver isso da melhor forma possível. Violência não resolve nada.

- “Foda-se!”


(A maravilha de um diálogo educado e um argumento coeso!)


O insulfilm do Honda era muito escuro, não deixava a gente enxergar nada.

Nem sabíamos se o motorista era homem, mulher, flor ou fruta.


Eu só sabia de uma coisa.

Quem fosse que estivesse lá dentro, já estava todo cagado!


Quando eu meto a cara e a lanterna no vidro...


Que surpresa...


Advinha?


Não tinha ninguém dentro do carroooooooooo!


Eu ainda procurei para ver se o cara estava embaixo do banco.

Mas não, não tinha ninguém mesmo!


Geralmente eu sou calmo...

Mentalizo o azul.


Mas às vezes... Quando o vermelho sangue prevalece...


Arregalo os olhos, nascem garras, caninos, chifres e nasce uma asa de morcego nas minhas costas.

Sim, eu viro um gárgula!


Voei em cima do babaca e o agarrei pelo pescoço.


Tapa de Ferro até estranhou.


- Olha aqui!


Colei a cara dele no vidro.


 Você está vendo alguém dentro do carro?


- “Ué?”


- Você fez esse escarcéu todo, deu chilique igual a Vera Verão, está me aporrinhando há mais de uma hora e destruiu um carro parado, seu filho da puta!


- “ Po, po, po...”


Você bate num carro estacionado e ainda diz que ele deu ré?


Ele já não era mais tão grande assim.


- Po, po, po, porra nenhuma!


Acabou a diplomacia.


Dei um esporro e ele, bebum bolado, aceitou.


Meia hora depois, chega o dono do Honda...


Meu amigo! Desculpa o acidente, mas o senhor ali está disposto a pagar pelo conserto.


Quando o maluco viu o tamanho do cara que tinha batido no carro dele:


- “Não, não, não precisa não!...Eu tenho seguro, valeu mesmo!”


E meteu o pé!

6 comentários:

  1. hahahahahahahahahahhahahahahahahahahhahahahhaa

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  2. Muito bom! Cadê os vídeos dessas histórias?

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  3. Muito bom!! Essa eu ñ conhecia.

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  4. Me faz lembrar do Zulu!

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  5. Lembrou a Kool Ibiza lá de Charitas!!! Todo fds tinha um maluco qqr como carrro porrado!!! E sempre na mesma questão: o fdp deu ré em cima!! e geralmente o outro carro tava vazio....

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