domingo, 20 de maio de 2012

Flatos Reais




- Seria muito azar se alguém entrasse agora...”

O prédio onde moro é novo e ainda possui vários apartamentos vazios.
Encontrar algum vizinho no elevador às 6:45 da manhã é mais raro que avistar filhote de pombo.

Eu não sou desses homens Vikings que arrotam e peidam o tempo todo.
Sabe, esses caras que batem na barriga, se sacodem e gargalham com o som da própria flatulência?
Arrotam e assopram, deixando na atmosfera aquele cheiro de Yakult com bife de fígado, saca?

Apesar de que, em se tratando de arroto, não poderia deixar de mencionar sobre uma amiga minha, que tem mais de uma letra A no nome.
Chamaremos de... Mulher Godzilla.

Mermão...

Mulher Godzilla quando arrota, bate 5,5 na Escala Richter.
Uma vez ela arrotou, sem querer, na cara de uma criança e a coitadinha ficou muda e grisalha na mesma hora.
Ela vira a cabeça estilo exorcista e manda um som tipo Chebacca.
Mulher Godzilla arrota alto para caralho.
Pessoa doente.

Enfim, voltando ao assunto, não sou esse tipo de ser humano.

Mas é óbvio que eu peido e arroto de vez em quando.

Como nesse dia em questão.

Indo trabalhar, assim que eu entrei no elevador bateu aquela cólica.

O cérebro avisou:
“Fica tranqüilo que é apenas um pum inofensivo.”

Mas pum no elevador é sempre arriscado, vai que entra algum vizinho.

Eu moro no oitavo andar, até o térreo são poucos andares.

Como disse anteriormente, nunca entra ninguém.

Ok!
Relaxei o esfíncter e deixei o gás sair de dentro de mim.

Saca bola de aniversário quando você esvazia soltando devagarzinho o ar apertando o bico com os polegares e os indicadores?

Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

Dei aquele sorriso “Para nossa alegria!” e a paz reinou.

Foi só aí que olhei de relance para o painel do elevador:

NONO ANDAR

Ah! Não...Estava subindo.

O “cheiro”, tal qual uma granada de gás lacrimogêneo, demorou alguns segundos para fazer efeito.

Mas quando fez..

Contaminou tudo!
O fedor estuprou minhas narinas e fez meus olhos se encherem de lagrimas.
Era um cheiro de fossa, ovo podre e churume.
Como se eu tivesse espancado um mendigo com um urubu.
Alguma coisa das minhas vidas passadas saiu junto com aquele peido. Uma coisa muito ruim.
Fiquei um pouco triste por saber que algo tão abominável poderia sair de dentro de mim.

DÉCIMO ANDAR.

Comecei a assoprar e bater os braços numa tentativa estúpida e ridícula de fazer o fedor desaparecer.

Parecia uma galinha de macumba numa rave.

DÉCIMO PRIMEIRO.

Puta que pariu...

Por pura influência da lei de Murphy, era o pior pum que eu havia expelido em toda a história da minha vida.

DÉCIMO SEGUNDO.

Eu mesmo estava com náusea e um pouco tonto.

Continuava batendo os braços como um esquizofrênico fugindo de uma abelha gigante invisível.

DÉCIMO TERCEIRO.

Foda-se! Vou fazer o que qualquer homem honrado faria.
Descer no próximo andar e fugir pela escada correndo.

Apertei o 14º em cima do laço.

BUM!  O elevador deu aquela freada, saca?

DÉCIMO QUARTO

Fechei os olhos e rezei como faziam aqueles pobres diabos no programa “Porta da Esperança”, do finado Silvio Santos.

(Finado não, porque o Silvio Santos ainda está vivo, ato falho!)

Não sou Chico Xavier, mas mesmo de olhos fechados percebi que tinha alguém ali do lado de fora esperando para entrar.

A porta foi abrindo junto com o meu olho.

Meu plano de fuga havia fracassado, havia mesmo uma silhueta

Ainda tentei impedir que a porta abrisse com o meu poder de Magneto.
Não tenho esse poder. Odeio isso!

De repente, revela-se uma mulher esplêndida na minha frente.

De cabelo Malu Mader, boca Julia Roberts e olhar da Doris Giesse.
Saia preta, blusa em tons de cinza, cachecol vinho, sapato alto vinho, meia calça e pasta preta.

Mas eu só percebi isso tudo depois.

- “Bom dia!”

(Bom dia, senhorita! Olha só, não entra aqui não, porque eu acabei de dar a luz ao Macunaíma.)

-Bom dia!

Fui para o fundo do elevador e baixei a cabeça cheio de medo e vergonha como quem toma um esporro de Hitler.

Ela se posicionou em minha diagonal, igual um bispo no xadrez.
Cheque.

O cheiro do peido parecia uma maldição no ar.
Ela coçou o nariz disfarçadamente.

Eu estava suando.

Com o mesmo dedo que coçou, ela deixou sob o nariz.
Como se estivesse pensando em algo.

Devia estar pensando que eu comi uma hiena no café da manhã.

Cheque mate.

O silêncio escorria pelas paredes e apontava para o meu rabo.

Toda vez que encontro um vizinho novo, o papo é sempre o mesmo:
- “E aí, está gostando de morar aqui?
- “A rua é sossegada, né?”
- “Essa construtora é uma vergonha!”

Para a mulher não achar que eu sou um porco troglodita, tentei contornar a situação mostrando educação e gentileza.
- Você é nova aqui, né? E aí? Está gostando?

(“Quando um filho da puta não unta o elevador de merda o prédio é ótimo!”)

- “Ainda não sei, me mudei ontem.”
- Hummmmm.

Silêncio e enxofre no ar.

NONO ANDAR

Era impressão minha ou o elevador resolveu andar em slow motion só para me punir.

OITAVO ANDAR

Devia ter voltado para casa, tomado um banho e esquecido aquilo.

O elevador parou no meu andar.

A porta foi abrindo devagarzinho, fora do normal.

O filho da puta do elevador estava pifando.

Não, não, não...

Entrou minha vizinha com a filha pequena com touca de natação.

Só pode ser sacanagem, marcaram assembléia no elevador nesse dia.

E criança é foda, né?
Não tem papas na língua:
- “Hummmmmmmmmm...Mãe alguém peidou!”

Não acredito que a menina disse isso.

- “Que isso filha! Que coisa feia!”

A menina apertava o nariz com força, ria e olhava para mim.

Tinha uma placa no meu peito: Fui eu!
As mãos amarelas.

Para disfarçar dei uma de João sem Braço:
- Está um cheiro ruim mesmo, quando eu entrei percebi.

A Cabelo de Malu Mader olhou para minha cara assim...

A menininha era mal educada:
- “Então foi ela!”
-“Filha, olha o respeito!”
- “Ué mãe! Mas alguém soltou pum.”
- “Fica quieta!”

E o elevador desgraçado que estava parado esse tempo todo.

Não, sério...Inacreditável.

- “Parou?”
- Parou.

Apertei o alarme e o meu porteiro, que é uma comédia respondeu?
- “Pois não o que deseja?”

(Eu quero dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim!)

- Fernando, estamos presos!
- “De novo!?”

O elevador que não tem nem um ano já apresenta defeito.
- “Essa construtora é uma vergonha!”

Fernando fez alguma magia lá da portaria que o bicho voltou a andar.

Aproveitei a deixa:

- É brincadeira, né? Estou para conhecer construtora mais incompetente.
Esse fedor deve ser do compactador de lixo que eles também fizeram errado.

A mãe da menina foi complacente:
- “A é! Com certeza!”

Cabelo de Malu Mader olhou de novo para mim assim.

E a menininha não parava:
- “Mas num parece cheiro de lixo, parece cheiro de pum mesmo!”

Procurei uma catapulta de criança, mas estava sem.

Fiz um chamego na cabeça da menina.
- Hahahaha...Você tem razão, parece mesmo!

Todos riram.

Menos Cabelo de Malu Mader que não saiu da mesma posição hora alguma.
Com o cotovelo em cima do punho e a mão fechada embaixo do nariz.

TÉRREO

Cabelo de Malu Mader saiu na frente trotando no sapato alto.

Só aí deu para sentir o perfume dela.

A menininha olhou para minha cara e mandou em silêncio:
- “Foi ela, né?!”

Se a culpa é minha eu coloco em quem quiser.

Cretinamente fiz que sim com cabeça.

A garota deu uma gargalhada gostosa de criança, saca?

Cabelo de Malu Mader se ligou e olhou para trás séria.

A mãe deu uma beliscada na garota.

Falou baixinho para mim em tom de cumplicidade.
- “Antipática a moça, né?”
- Antipática e porca.

Rimos.


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16 comentários:

  1. bom demais! para min a melhor até hoje!! rs!!

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  2. Camarada,você se superou.Esta é ótima.

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  3. Excelente como sempre kkkkkkkkkkkkkkkkk

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  4. HAHAHA

    muito bom! é sinistro como o elevador pode ir do tédio ao terror. hahahahha

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  5. passando mal de rir! cheguei a sentir o cheiro aqui, ai que horror!

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  6. Uhahahahahahhaah! Depois de alguns minutos me recuperando dos risos, venho comentar! Demais! Início, meio e fim! Olhar Doris Giesee! UHAHAHAHAHA

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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