segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Mônica


Estava eu na fila para pagar uma conta do telefone na antiga Telemar.
Deviam ter, mais ou menos, umas 39 pessoas.

Eu era o último!

Um saco!

De repente entra uma mulher bonita, de cabelo preto, vestido azul, sem sutiã, marcando os mamilos e a calcinha.

Só um pouquinho.

O sapato alto fazia a trilha sonora da chegada:
Toc, toc, toc.
No saguão cinza chumbo.

Ela chamou atenção, mas sem ser vulgar.

Numa mão uma conta e na outra uma criança, de uns seis anos.

-“Oba!”

Pensou o inescrupuloso Angelo Morse, babando atrás da moita.

Quando ela chegou perto, deu para ter certeza que era uma mulher bonita.

Uma mamãe balzaquiana, simples, porém ajeitada e firme.

Estilo Nelson Rodrigues.

De covinha e batom.

Scaneando dedos anelares:
- “Zero aliança.”

20 minutos.
É o tempo que eu preciso para ficar íntimo de alguém.
E aquela fila ia durar pelo menos mais uma hora, no mínimo!
Tempo suficiente pra brincar de flertar.
Quem sabe, né?
Homem é bobo.

A regra é muito simples.

Artigo 224.
Se você vai puxar conversa com uma mulher acompanhada de uma criança, é necessário que se fale com a criança antes, demonstrando assim, gentileza, sensibilidade e amor no coração.

E a criança era bonitinha
De xuxinha e tudo.

Reparei que ela era portadora da Síndrome de Down.

- “Acha mesmo contundente fazer esse tipo de comentário?”
- Minichico, a criança tinha Down, só isso!
- “Tá, mas pode soar preconceituoso.”
- Não vai, não! Posso continuar a história?
- “Pode, desculpe”.

Onde é que eu tava mesmo?
Ah! Lembrei!

Aí, querendo demonstrar todo o meu charme com as crianças, segurei na bochecha da menina e dei um... beliscãozinho de mentira, sabe como?

-Que menina mais linda!

Porra...

Sabe armadilha pra urso?

A menininha segurou os meus testículos com a mão direita e apertou.

Svlat!

Eu estava de short, sem cueca.

Na hora fui ao chão.

E a menina não largava.

A mãe desesperada gritava:

-“Mônica larga!”

E Mônica não largava.

A mãe puxava a mão dela e batia.

E Mônica não largava.

Se fosse um cachorro eu teria dado um soco na fuça, arrancado um olho, mordido a orelha.
Sei lá, tinha lutado pela minha vida.
Mas era uma menininha.
Era uma menininha forte, mas ainda sim uma menininha.
Era demoníaca, mas ainda sim uma menininha.

Apertando cada vez mais.

Ninguém tem ideia da dor.

Eu fechei os olhos e pensei:

- “Que jeito estranho de morrer”.

Deitado no chão frio estrangulado pelo saco por uma menina de seis anos.

Faz você pensar...
Quem será que eu fui em outra vida?
Sem dúvida, alguém muito perverso!

De repente, a mãe da Mônica consegue ir tirando dedinho por dedinho. Batendo na garota, claro!

Tadinha, ela chorava muito.

A mãe que eu digo.

Porque a “Possuída” só ria.

Quando a “Crocodila” largou o meu saco eu estava com uma dor...

Não sei por que fui lembrar disso.
Ainda dói quando eu lembro.

Estava fazendo a passagem dessa pra melhor quando um homem de calça de ginástica e tênis pegou minhas pernas e começou a fazer flexão.
Reparei que havia mais pessoas ao meu redor.
Quando olhei para cara do homem percebi que ele estava sorrindo.

- “Pô cara, perdão, mas que loucura!”

Só acenei com a cabeça.

Minha cor original foi voltando e tentei me levantar.

- “Gente, vamos deixar o menino passar a frente!”
- “Paga ali pra ele”.

Uma Vovó pegou a conta do chão, com o dinheiro grampeado e foi direto ao caixa.

E eu zonzo.

Me levaram, ainda corcunda, até a cadeira mais próxima.

Fui melhorando e a respiração normalizou.

- Obrigado senhora!
- “Nada meu filho! Depois do que você passou, tadinho...”

Percebi que ela também ria disfarçadamente.

Na verdade, todos riam disfarçadamente.

Eu até queria rir, mas não dava.

Fui  até a saída, me locomovendo estilo Niemeyer.

Quando eu olho...
Quem está lá fora, na porta?

A Mamãe gostosa e Mônica, a filha do Chuck.

Gelei.

- “Por favor, me desculpe! Não sei o que deu nela, ela nunca fez isso, estou morrendo de vergonha...”

Eu com um ouvido na mãe, e de rabo de olho na garota.

Se ela viesse de novo, dessa vez eu dava um bico.

Foda-se!

Mas tadinha, ela estava toda amuada depois do esporro e dos pescotapas da mãe.

Passei ao lado dela, rezando o pai nosso e fui embora.

Quando cheguei em casa, que era na outra esquina, deitei na cama e ainda com os olhos cheios de lágrimas, contei pra minha mãe.

Ela riu pra caralho e ainda espalhou a notícia.

4 comentários:

  1. Cara Essa é muito boa, quando sua mãe e sua irmã me contaram eu quase morri de tanto rir mais agora lendo o que vc escreveu é ainda mais engraçado.. kkkkkkk. Rhenan

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  2. Essas coisas só podem acontecer com você!

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  3. Meu deus do céu, estou hiperventilando agora, Sério que história boa, Estou aqui na minha maratona Conta Uma.

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  4. Caraca,vc atrai o lado negro das pessoas....kkkkkkkkk

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