terça-feira, 13 de março de 2012

Essa Fada Madrinha



“E quando acabarem as histórias Angelo?”

Pois sim.

Eu tinha um ingresso para um showzaço na Lapa.
O problema é que além disso eu também tinha febre de 39º graus, tosse, coriza e sensação de morte.

Gripadaço...

Fiz o que qualquer pessoa de bom senso faria:
Levantei na marra, engoli cinco Red Bulls e saí na rua com a maior cara de mau.
Atitude rock!

Pelo menos até o efeito do energético passar.

A turma que eu ia assistir o show era do bem. 
Tirando Xela, um amigo nosso que deve ter tomado a mesma porra que o Morfeu deu para Neo em Matrix, o resto do grupo estava quietinho.

Todo mundo tinha compromisso no dia seguinte, cedo.

Inclusive eu.
Tinha um encontro com o pedreiro  às oito horas da matina de sábado.
  
Mas tudo bem. Obras!
Após o show, tomamos só um chopinho para brindar o aniversário de um amigo e cada um seguiu seu rumo.

E eu estava com a mão no táxi quando o celular tocou.
Eu sempre atendo o celular.

Quando vi quem era fiz a mesma cara que faço quando alguém arranha o prato com o garfo, saca?

Era Pilhado.

Conheço Pilhado desde quando eu cheirava prova.

Na minha época, as provas eram mimeografadas e eu adorava fazer prova só pra ficar sentindo o cheirinho...

Eu cheirava prova, assumo.

- Fala Pilhado!
- “Está onde?”
- Estou na Lapa pegando um táxi...
- “Chego aí em cinco minutos.”
- Cara, impossível, eu tenho...
- “Código Thundercats!”

O filho da puta invocou o Código Thundercats.
Só pode ser usado em situações extremas...

Vou ter que esperar.

Pilhado, incrivelmente, chegou em cinco minutos.
Estava meio chateado, precisava conversar e tal...

Como nunca soube dar conselhos para ninguém tomando suco...

- Garçom! Dois chopes!

Quando a gente ia brindar quando...

- “Eu podia estar matando, eu podia estar roubando...”

Aquele papo de sempre.

- “Mas estou dançando”

Opa! Essa é nova!

Olhei para trás e era o Michael Jackson do lado de uma caixa de som.
Meteu Billie Jean e começou a tentar arrancar o saco, chutar o vento e andar para trás.
Aquelas coisas do Michael.

No mesmo bar, na sacada, uma mulher bonita, muito simpática por sinal, dançava salsa e mostrava a calcinha para todos que passavam pela rua.
Ainda jogava beijinho.

No meio da rua dois homens dançavam balé.
Do outro lado, uma gangue de travestis tentavam assaltar um japa.

Lapa, né?

- Pilhado, meu querido, preciso mesmo ir embora. Estou muito gripado!
- “Porra, e a saideira?”

Um dos problemas da saideira é que ela nunca chega.

Fechamos o primeiro bar e já estava tarde para caralho.
Fechamos o segundo, o terceiro e o quarto.

- Pronto, fechamos a Lapa toda, acabou, vambora!
- “Ainda sobrou um.”
- Não Pilhado, não vou lá nao...Não tem motivo!

Porra, não tinha mais ninguém na rua, só os garis!

-“Tudo bem amigo, pode ir, eu fico aqui esperando."
- Esperando quem seu filho da puta? São dez para cinco da manhã.
- “Dindinha!”

Ui.

Dindinha é uma amiga nossa que é o demônio de olhos verdes.

E se Pilhado usou o Código Thundercats comigo, usou com ela também.
Ou seja...

Ela vem.

- Está bem, eu fico com você até Dindinha chegar, vamos lá...

O bar em questão é no fim da Lapa e é o fim da picada.

Sabe festa de fim de ano do Zorra Total?
Todas as pessoas bizarras que eu vi durante a noite toda estavam no mesmo lugar.

-Porra Pilhado...
- “Relaxa e pede uma.”

Dindinha chegou no mesmo momento que um cara vestido de urso.
Mas graça a Deus eles não estavam juntos.

É carnaval? É dia do urso? Ele é um urso?
O que o maníaco estava fazendo vestido de urso aquela hora?

- “Oi gente!”

E quem adentra o Inferno, feliz, sóbria e sorridente como se estivesse num piquenique às seis horas da manhã?

- Poxa, Dindinha! Você chegou eu estou saindo. Beijos!

Falei com firmeza para mostrar que sou sério.

O olhar dela para mim foi assustador.
- Dindinha eu estou doente...

O olho verde...

- Sentei e enchi meu copo.

Duas horas depois, Pilhado estava igual aqueles bonequinhos que não usavam Duracell, lembram? 
Toc.......Toc......Toc.....parando.

Nesse momento, um bebum sentou na nossa mesa ao lado de Pilhado e praticamente morreu.
Os amigos do bebum botaram cinco reais na mão dele e foram embora.
Um pivete passou e levou, claro!

- Porra Pilhado cuida do seu Bêbado aí!

E Pilhado vigiou o Bebum como quem vigia feijão no algodão.

De repente, a última puta da Lapa, aparece de mãos dadas com um carinha.
Eles riam tanto que até pareciam namorados. Um amor só!

A mulher muito louca passou e deu um tapinha assim na cara do Bebum.
O Bebum quase foi ao chão.

- “Que isso gente?!” O homem está ruim mesmo hein!?”
- É.
- Mais eu vou resolver isso é já.

Eu já vi várias formas de se tentar acordar alguém desmaiado.

Mas com a bunda foi a primeira vez.

A mulher deu muita porrada com a bunda na cara do Bebum.
Surra de bunda mesmo.
Não dava para acreditar na cena.
E ela sentava no colo, e esfregava a cara do Bebum nos peitos...
Fez de tudo para tentar reanimar o Bebum.

Nem se mexia.

Aí Pilhado me sai com essa?:
- “Viu Angelo? Ainda existem pessoas de bom coração!”

Nem respondi.

Melhor era a cara do namoradinho da puta, bolado.

Perdendo a mulher para o morto.

- “Gente! Por favor! O homem está morrendo. Alguém ajuda!”

O tom da voz passou de brincadeira para sério.
Ela estava realmente preocupada.

Pilhado ainda brinco:
- “Enfermeira, eu também estou morto!”

Ela riu e emendou:
Se vocês não vão fazer nada então eu vou.

Foi para o meio da rua e literalmente parou um táxi com o rabo.
A bunda era gigante!
A freiada foi em cima.

- “Taxista, esse senhor está morrendo, o senhor pode levá-lo ao hospital?”
- “Sim, claro!”

E o carinha, Pilhado e o dono do bar lançaram o maluco dentro do táxi igual um saco de argamassa.

Aí a puta manda essa para o carinha:
- “Vai com ele!”
- “Eu?”
- “Alguém tem que ir com ele, né?”
- “Vou não!”

Ali ele perdeu a namorada.

- “Olha só! Se ninguém vai pagar a corrida eu vou tirar o cara do meu táxi.”
E começou a puxar o Bebum pelo pé.

Aí rolou uma discussão.

Eu olhava assim para Dindinha...
O que Diabos a gente estava fazendo ali mesmo?
O sol já estava queimando a alma.

Eu mandei:
- Taxista! Toma! Pronto! Leva o cara para o hospital pelo amor de Deus!

- “Então eu vou com ele. Obrigado gente!”

E o morto, inacreditavelmente, foi embora com uma puta e dez reais.

Ao final da noitada, já de manhã cedo, tomando café com leite, Pilhado, bêbado, me manda essa:
- "Sabe que eu gostei dela?"






7 comentários:

  1. Mas afinal de contas, o que o Pilhado queria? Porque o código foi evocado? <:O

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  2. codico thunder cats!!! Eu ja acionei 2 vezes !!! Vc sempre esteve la, amigo! Amei a historia!!! bjo, Pri Gil

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  3. nao conte a ninguem..mas adorava o cheiro o mimeografo...rs... qto a estoria, foi 10 como sempre.

    ps.. a puta era amiga do bebado e isso foi um truque junto com o primo taxista pra tirar 10 reais dos "bonzinhos" ..rs...

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